fbpx

Carcassonne, fortaleza medieval no sul da França

A gente cresce ouvindo histórias sobre princesas e castelos. Os anos se passam e os contos de fadas dão lugar a Avalon, ao Rei Arthur e aos Cavaleiros da Távola Redonda. Mais tarde, mergulhamos nas aventuras da Terra Média e rimos com o satírico Dom Quixote. Não tem jeito. A Idade Média está fortemente estampada no nosso imaginário. Não importa se os livros de história dizem que era um período nojento, tenebroso, no qual as pessoas eram mortas por qualquer motivo, os excrementos eram jogados nas ruas e que a expectativa de vida era de 35 anos. Pra gente, Idade Média é sinônimo de mágica e aventura porque foi assim que a ficção nos ensinou.

Só que, no Brasil, a gente não teve Idade Média, o que significa que não existem muitos castelos dando sopa por aí. E eu acho que esse é um dos motivos pelos quais a Europa nos encanta tanto. Eu nunca tinha ouvido falar de Carcassonne antes de receber o itinerário da minha viagem para a França, mas bastou uma pesquisa no Google para que essa pequena cidade na região do Languedoc se transformasse no meu destino favorito. Tudo por que o lugar ainda preserva a cidade murada construída no tempo dos cavaleiros.

Carcassonne, França

Fortaleza-Medieval

Erguida no século 13, a fortaleza de Carcassonne é uma das maiores construções medievais do continente. No passado, esteve sob domínio dos Cártaros, um grupo religioso que tentou fundar uma dissidência da Igreja Católica na região e, claro, foi perseguido e massacrado pelo Papa e pelas Cruzadas. E vou te contar uma coisa: não é uma história bonita. Morte, perseguição, guerra, tudo isso é contado a cada esquina da cidade murada. Em algumas noites do ano, é possível assistir a um filme sobre esse episódio sangrento projetado nas paredes do castelo. Apesar da língua falada no filme ser Oxitane, um antigo idioma ainda vivo nessa região da França, dá para ter uma ideia melhor sobre a história do lugar.

Historia de Carcassonne

Durante o dia, gaste um bom tempo perambulando pelas ruazinhas feitas de paralelepípedos, pontes levadiças e torres de castelo. Você vai se sentir dentro de um conto de fadas, e não sem motivo: a atmosfera da fortaleza serviu de inspiração para os artistas que criaram o filme “A Bela Adormecida”, da Disney, e de cenário para as aventuras de Robbin Hood, no filme de 1991. Todas as lojinhas, hotéis, restaurantes e lanchonetes são decorados de forma a não perder o clima medieval do lugar.

Ruas de Carcassonne

Dentro da fortaleza existem ainda duas construções que são paradas obrigatórias: o Chateau Comtal e a Catedral Gótica. Lembra de quando eu disse que a história de Carcassonne é sangrenta? Então, o Chateau é um castelo construído dentro da fortaleza principal para servir de morada para os nobres e protegê-los da fúria das cruzadas. Nem todas as partes do castelo estão abertas para a visitação, mas o pouco que nos é permitido conhecer já é suficiente para nos dar uma ideia de como era a vida ali dentro. Em uma das salas é exibido um filme que conta um pouco da história do Chateau e também do trabalho de reconstrução pelo qual ele passou. Mas sem dúvida a parte mais legal é explorar o topo das muralhas.

Chateau Comtal

Já a Catedral Gótica, conhecida como Basílica de St. Nazario,  é uma bela construção erguida sob as ordens do Papa Urbano V, em 1096. Os vitrais em formato floral e as gárgulas são atrações a parte.

Catedral Gótica

Uma boa ideia é contratar um dos tours guiados que saem do escritório de turismo a cada duas horas e meia (9 euros), para ter uma visão geral da fortaleza e da cidade fora das muralhas.

Não se esqueça de dar uma olhada na fortaleza medieval pelo lado de fora durante a noite, quando as luzes se acendem. A visão é incrível.

Carcassonne à noite

A Polêmica da Reconstrução

Antigamente, essa coisa de valor histórico e patrimônio cultural da Unesco não tinha tanta importância quanto tem hoje. Quando chegou ao século 19, a fortaleza de Carcassonne não estava no melhor estado de preservação e já tinha passado por incontáveis mudanças, modernizações e “puxadinhos”. Havia até quem defendesse a destruição da cidade murada, já que quem vive de passado é museu. Quando essa consciência turística-histórico-cultural surgiu, o local tratou de passar logo por uma reforma daquelas. O encarregado da obra foi o arquiteto francês Viollet-le-Duc, nada mais, nada menos, que um dos nomes mais importantes da ciência de reconstrução e responsável por projetar a parte interna da Estátua da Liberdade e restaurar a Catedral de Notre Dame.

No entanto, seu trabalho em Carcassonne não agradou a gregos e troianos, e, até hoje,  é alvo de críticas ferrenhas por parte, principalmente, dos amantes da História e das Artes. O problema é que o arquiteto não teria sido fiel ao que a fortaleza era no passado, tendo preferido uma releitura de como ele achava que deveria ser. O principal ponto de discordância são os telhados pontudos. Isso de forma alguma tira a beleza, o valor histórico ou o encanto que a cidadela nos proporciona, mas é bom saber: Carcassonne é medieval, mas nem tanto assim.

Museu da Tortura e da Inquisição

Museu da Torutra e da Inquisição

Carcassonne é, na maioria dos casos, um destino de um dia para os turistas. A maioria nem dorme ali: chega pela manhã, explora a cidadela e vai embora no fim da tarde. Essa é uma opção boa se você tem pouco tempo e muito mais o que ver na França, afinal, o local é pequeno e não tem uma lista extensa de atrações. No entanto, ficando um pouco mais é possível se inteirar melhor da história do local. Um exemplo são os museus da Tortura e da Inquisição, que mostram como foi o “trabalho” da Igreja Católica no local. Como os nobres Cátaros eram acusados de tentar criar uma dissidência da Santa Fé, a Inquisição pegou pesado naquela região.

Os dois museus funcionam em prédios separados, mas comprando ingresso (7 euros) para um deles você ganha o direito de visitar o outro. O Museu da Tortura parece ter sido feito para crianças e adolescentes, apesar da atmosfera assustadora. As salas escuras reproduzem, com o uso de manequins, fantasias e efeitos sonoros, câmaras de tortura e prisões da época.

Já o Museu da Inquisição possui um acervo com objetos de tortura verdadeiros, incluindo uma Dama de Ferro, uma caixa estampada com a imagem da Virgem Maria no exterior mas que, por dentro, era cheia de espetos de ferro que perfuravam a vítima sem, no entanto, atingir nenhum órgão vital.

Bastide St. Louis

Bastide Carcassonne

O lado de fora das muralhas também merece uma visita. A Bastide é a cidade que cresceu do lado de fora da fortaleza e também data do período medieval. Possui bares, cafés e restaurantes charmosos e uma ótima vista da fortaleza, seja a partir da Ponte Velha ou às margens do Rio Aude. As construções antiguinhas são uma atração à parte.

Se você tiver ânimo, pode subir as torres da église Saint-Vincent, uma igreja do século 13 também em estilo gótico. Depois de vencer os 232 degraus da escada circular até o alto da torre, você será presenteado com uma vista panorâmica da Bastide e da Fortaleza ao fundo. É sem dúvida uma das melhores vistas de Carcassonne. Mas tome cuidado! Alguns degraus são tortos e irregulares e o espaço é muito pequeno, logo, a subida não é das mais fáceis. Eles têm até um controle das pessoas que entram e saem. Assim, se algum visitante não retornar, eles podem subir para resgatá-lo.

Carcassonne, Castelo na França

Da Bastide também é possível pegar um barco para um passeio pelo Canal du Midi, um dos mais famosos da França. Os passeios saem de perto da estação de trem.

O Famoso Cassoulet

Cassoulet

Nenhum viagem à Carcassonne está completa sem provar um típico Cassoulet, prato famoso nessa região da França. Ele está à venda em quase todos os restaurantes locais, portanto você não vai ter que procurar muito para dar de cara com ele. Feito com uma sopa de feijão branco e carne de pato, em conceito até que lembra um pouco a nossa feijoada.

Onde ficar em Carcassone

Sem dúvida, ficar hospedado dentro da fortaleza é uma experiência única, embora a Bastide tenha os melhores preços e seja também bastante charmosa. Se você não esbanja dinheiro, mas quer porque quer dormir dentro de uma fortaleza medieval, tem uma solução para você: O Albergue da Juventude (rue du Vicomte Trencavel) têm diárias por cerca de 20 euros e está em um prédio tombado pela Unesco, bem no centro da fortaleza.

Clique aqui para ver diversas opções de hospedagem em Carcassone.

Para comer, se aventure pelas ruelas e você vai encontrar lanchonetes que servem crepes, sanduíches e pizzas por até 5 euros e menus de comidas típicas por 10 euros.

A viagem à França foi patrocinada pela Hosteling International como prêmio pelo concurso Big Blog Exchange.

Inscreva-se na nossa newsletter

5/5 - (1 vote)

Compartilhe!







Eu quero

Clique e saiba como.

 




Natália Becattini

Sou jornalista, escritora e nômade. Viajo o mundo contando histórias e provando cervejas locais desde 2010. Além do 360meridianos, também falo de viagens na newsletter Migraciones, no Youtube e em inglês no Yes, Summer!. Vem trocar uma ideia comigo no Instagram. Você encontra tudo isso e mais um pouco no meu Site Oficial.

  • 360 nas redes
  • Facebook
  • YouTube
  • Instagram
  • Twitter

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.

31 comentários sobre o texto “Carcassonne, fortaleza medieval no sul da França

    1. Olá Luiz Cláudio, em dezembro é o começo do inverno. É frio, sim. Saindo de Toulouse, o trem é uma boa, assim como carro alugado.

      Abraços!

  1. A vila medieval de Carcassonne é realmente uma ótima opção para quem deseja viajar no tempo e se sentir na idade média. Sugiro também Cordes-sur-ciel, a vila fortificada. Moro em Revel, na região Occitane, a cerca de 1h de Carcassone e 1h30 de C S Ciel (carro). Tem mtos lugares bacanas para se conhecer nessa região, a exemplo de Rocamadour (vale a pena ir conhecer o Gouffre du Padirac, onde se situa uma gruta navegável), Toulouse e Pyrénées.

    1. Débora, dá para visitar o ano inteiro, outono e primavera têm climas mais amenos. No verão e no inverno você pode ter que lidar com temperaturas mais chatinhas, mas nada para desistir da viagem. Eu fui no verão.

      Abraços!

  2. Vi pela ESPN, uma prova ciclistica, tour da França e justamente foi na etapa desse linda cidade. Fiquei curioso e não consegui identificar a plantação. Alguém pode me dizer qual é a agricultura dessa região? Obrigado.
    Francisco

Carregar mais comentários
2018. 360meridianos. Todos os direitos reservados. UX/UI design por Amí Comunicação & Design e desenvolvimento por Douglas Mofet.