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O Museu Ghibli, em Tóquio, e a arte do vazio na animação japonesa

Uma menina se perde de seus pais num lugar cheio de espíritos e criaturas inusitadas. Outra criança descobre seres mágicos vivendo nos arredores de sua nova casa. Uma terceira trabalha entregando encomendas por aí, montada em uma vassoura. Outra, já adolescente, criada por deuses-lobos, precisa enfrentar um terrível demônio. Quem visita o Museu Ghibli, em Tóquio, e está familiarizado com as obras do estúdio reconhece essas histórias e está acostumado com humanos convivendo pacificamente (ou nem sempre) com criaturas animalescas. Mas apenas explicar o enredo dessas animações não é o suficiente: é preciso senti-las.

personagens totoro studio ghibli

Museu Ghibli, em Tóquio. Por Nuntiya / Shutterstock

É que os filmes do Studio Ghibli são muito diferentes das animações comuns americanas, feitas para arrancar gargalhadas e envolver crianças (e seus pais) em tramas de ação, suspense e comédia. No cinema animado japonês, o ritmo é outro.

Eu já sabia que tinha algo especial em Meu vizinho Totoro ou Princesa Mononoke, mas só fui entender mesmo quando eu assisti ao vídeo abaixo. Ele fala sobre a importância do vazio nos filmes do estúdio. Em resumo, tão importante quanto a ação dramática é aquele momento de pausa, em que o personagem está apenas vivendo, o vento está soprando, a comida está fumegando… É tipo a vida real. As coisas não acontecem o tempo todo nas nossas vidas, né? Mesmo quando estamos envolvidos numa missão, sempre tem aquele momento de pausa e reflexão. Segundo o vídeo, é isso que torna esses filmes tão encantadores.

Mas não é só.

A história do Studio Ghibli

Hayao Miyazaki é um gênio do cinema. Em 1984, ele lançou Nausicaä do Vale do Vento, uma história pós-apocalíptica protagonizada por uma princesa que tenta entender como os humanos e a natureza se afetam, para o bem e para o mal. O filme fez tanto sucesso que, no ano seguinte, Miyazaki se juntou a outros três cineastas e criou o Studio Ghibli, que contaria histórias fantásticas e profundas, sem moralismo, nas próximas décadas.

totoro museu ghibli japao

Por Denis Makarenko / Shutterstock

De 1986 a 2016, vieram 22 filmes que conquistaram rapidamente o público japonês. A moda demorou a pegar no resto do mundo fora do meio otaku. Mas, quando pegou, veio com tudo. Em 2001, A viagem de Chihiro ganhou o Oscar de melhor filme de animação. É o único filme de língua não-inglesa a vencer o prêmio.

Dos 22 filmes, Miyazaki dirigiu nove. Isao Takahata comandou cinco. Os outros, que têm histórias com temas e estilos de animação variados, foram escritos por outros artistas japoneses (com exceção de A tartaruga vermelha, de 2016, dirigido por um holandês).

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E você pode se preparar: é possível que alguns desses filmes mudem a sua vida. Eles são intensos, falam de questões complexas. Em Meu vizinho Totoro(1988), as protagonistas lidam com a mãe doente, no hospital, e uma teoria da conspiração diz que Totoro é, na verdade, o deus da morte. Cemitério dos vagalumes (1988) fala do horror da guerra que destruiu o Japão. Only yesterday (1997) fala sobre crise existencial, sobre memórias, sobre amigos e amores da infância que a adultice arranca das nossas vidas. É pesado o negócio. E, ao mesmo tempo, leve e lindo também. Dá vontade de morar nesses universos ficcionais.

Também tem filmes levinhos, tá? Serviço de entregas da Kiki (1989) e Meus vizinhos, os Yamadas (1999) são meus preferidos.

A visita ao museu Ghibli em Tóquio

Visitar o Museu Ghibli (pronuncia-se algo como “díburi”) foi uma parte muito importante da realização do meu sonho de conhecer o Japão. O ingresso foi a primeira coisa que eu comprei depois da passagem e do visto. Finalmente, em setembro de 2017, entrei nesse lugar fantástico.

guibli museu toquio japao

Por pio3 / shutterstock

entrada do museu ghibli em Toquio

Por cowardlion / shutterstock

Confesso que quase chorei ao avistar o prédio colorido, com formas curvadas, que se impõe sobre o parque Inokashira. Parece que você já está entrando num mundo incomum, onde um monstro simpático pode aparecer a qualquer momento.

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Lá dentro, não é permitido fotografar. Mas vai demorar até aquelas imagens, cheiros e sentimentos sumirem da minha memória. Vou fazer um resumo do que te espera:

Logo na entrada, você recebe o ticket para assistir a um curta produzido pelo estúdio exclusivamente para o museu. O ingresso já é um souvenir: ele consiste em um conjunto de frames de algum filme. No meu, mal dá para identificar uma cena, e não descobri de que filme era. Mas é legal mesmo assim.

Você assiste ao curta numa pequena sala de projeção, e não tem legenda. Eu demorei para entender direito a história do que vi. Mas não importa: o que vale são as imagens lindas e as sensações que elas causam. Há 14 curtas exclusivos do museu, e eles vão se alternando.

O museu foi projetado pelo próprio Miyazaki e a visita se transcorre como uma história. Numa sala, você vê a ciência por trás da animação, com máquinas que recriam as técnicas cinematográficas diante dos seus olhos. Outras salas se dedicam a contar as etapas da produção de um filme, desde os rascunhos dos desenhos até a finalização.

estatua robo jardins do museu ghibli

Por cowardlion / shutterstock

Desde novembro de 2018 até o momento em que este texto foi escrito, a exposição especial em destaque era “Painting the colors of our films”, dedicada aos estudos de cores nas obras do estúdio, que ajudam a criar uma atmosfera fantástica. Quando fui, estava em cartaz “Delicious! Animating memorable meals”, que mostrava em detalhes a construção minuciosa de cenas em que personagens estão comendo, seja um bolinho de arroz ou um pedaço de carne crua. Deu pra entender que, no mundo Ghibli, nenhuma mordida é em vão. Cada mastigada tem uma intenção e um sentimento. Uma parte do museu tinha se transformado num restaurante. Infelizmente, as comidas todas eram fake. Mas, logo adiante, tem uma lanchonete/café onde você pode satisfazer seu apetite.

E, mesmo que você seja um viajante econômico, será dificílimo sair de lá sem uma das milhares de opções de souvenires da lojinha. Tem chaveiros, quebra-cabeças, réplicas em pelúcia, postais, pôsteres e até jogos de chá e estátuas em resina. Tudo muito caro, é óbvio. Eu fui modesto. Trouxe para casa um lenço, alguns chaveiros, bottons e um baralho do Totoro. Devo ter gastado, nisso tudo, uns bons 3 mil ienes (uns 27 dólares).

Saiba mais: Quanto custa viajar para o Japão

lojinha suvenirs studio ghibli

Por icosha / shutterstock

Como chegar, quando ir, quanto custa e como comprar o ingresso para o Museu Ghibli

O Museu Ghibli (site oficial) fica em Mitaka, um bairro no subúrbio de Tóquio. O melhor jeito de chegar é pegando o trem até a estação Mitaka, da JR Chuo Line. De lá sai um ônibus temático que leva direto ao museu (custa 210 ienes a ida, ou 320 ida e volta). Ou então você vai caminhando mesmo. Dizem que o caminho desde a estação Inokashirakoen é lindo, dentro do parque Inokashira. Mas, como eu estava muito ansioso e com medo de me perder, fui de ônibus mesmo.

O ingresso custa 1000 ienes (cerca de 9 dólares) para adultos com mais de 19 anos. Quem tem menos que isso paga 700 (pessoas entre 13 e 18 anos), 400 (entre 7 e 12 anos), 100 (entre 4 e 6 anos). Crianças menores de 4 anos entram de graça. Para quem é muito fã, não fica tão caro. Mas tem um truque para comprar o ingresso, conforme bem lembrou nossa leitora, a Denise.

É assim: as vendas começam às 10h do dia 10 do mês anterior ao da visita (horário do Japão, claro).  Por exemplo: para uma visita em junho, as vendas ocorrem a partir do dia 10 de maio, às 10h da manhã, horário do Japão, o que equivale ao dia 9 de maio às 22h, horário de Brasília. Então, é preciso se planejar com antecedência para conseguir um ticket para o dia e a hora que você tiver disponível na sua viagem. Tem informações aqui.

cinema japones studio ghibli

Por cowardlion / shutterstock

Também dá para comprar nas kombinis da Lawson, lojinhas que estão em todo canto de Tóquio. Mas não é garantido. Um amigo brasileiro tentou comprar para me acompanhar no dia que eu fui e não conseguiu.

O museu fecha às terças-feiras e em alguns outros dias do ano. Mas, como é inevitável que você cheque o calendário antes de comprar ingresso, não tem erro. Ele funciona das 10h às 18h, mas é bom chegar lá umas 9h, porque a fila é grande e, se você demorar a entrar, terá menos tempo para curtir. E, acredite, todo o tempo do mundo é curto para mergulhar no universo do Studio Ghibli.

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Otávio Cohen

Cresci lendo muitos livros e assistindo a muitos filmes. Deu nisso: hoje vivo de contar histórias. Por coincidência, algumas das melhores acontecem longe de casa. Por isso, de vez em quando, supero o medo de avião e a saudade do meu cachorro para ir em busca de uma nova história.

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Um comentário sobre o texto “O Museu Ghibli, em Tóquio, e a arte do vazio na animação japonesa

  1. Oie Otávio e pessoal do 360!
    Acabei de voltar de uma viagem pro Japão, usei umas dicas que vocês postaram e, claro, tive que ir ao museu <3 A lojinha do museu não estava mais desse jeito da foto… 🙁 Até achei que teria mais variedade de produtos, de todos os filmes. Não impediu que eu gastasse um $$ por lá… 😉
    E só uma correção: As vendas dos ingressos começam às 10:00 do dia 10 do mês anterior ao da visita (horário do Japão), não no dia 1 de cada mês!! Por exemplo: para a visita em junho, as vendas ocorrem a partir do dia 10 de maio, às 10:00 da manhã, horário do Japão ou, 09/maio às 22:00 horário de Brasília. É preciso paciência para comprar, já que é muito concorrido!!!
    Acabei pegando o último horário para visitação, mas, se eu pudesse, teria pego qualquer horário intermediário. Não sei se eles pedem para o pessoal do horário anterior sair antes do próximo entrar, mas eu teria mais tempo para aproveitar a área externa, que tem os jardins e duas lanchonetes.
    Beijo e keep up the great work! 😀

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