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Atlas: Rishikesh, Índia

O Ashram perdido dos Beatles, na Índia

Dentro de um táxi a caminho de Nova Delhi, John Lennon não estava contente. Depois de fazer as malas e abandonar repentinamente Rishikesh, vila às margens do rio Ganges, Lennon compôs sua última música em território indiano.

O descontentamento do Beatle foi refletido na letra da canção, que dizia “Maharishi — o que você fez? Você fez todos nós de tolos.” Se o Maharishi era mesmo culpado é outra história, mas o fato é que os Beatles não seriam os mesmos se não tivessem visitado Rishikesh. E vice e versa.

Liverpool e a Abbey Road são dois típicos lugares de peregrinação para fãs dos Fab Four, mas Rishikesh também entra na lista. Foi lá que praticamente todo o álbum “The Beatles” – conhecido como o Álbum Branco – foi composto. Se você pensar que são 30 faixas, muito mais do que em qualquer outro disco do quarteto, vai concordar que o tempo na Índia foi inspirador. Mais: foram os dois meses mais criativos da carreira dos Beatles.

A quantidade de músicas que os Beatles escreveram em Rishikesh não é certa – varia entre 30 e 50, dependendo da fonte. Foram tantas que tem produto made in India até no álbum seguinte, o Abbey Road. E em vários trabalhos solo dos artistas, quando o prefixo ex passou a ser usado antes da palavra Beatle. Mas, afinal de contas, o que levou a banda à Índia?

Os Beatles na Índia

Os Beatles na Índia

John, Paul, George e Ringo desembarcaram na Ásia em fevereiro de 1968, junto com esposas, namoradas e algumas celebridades menores, tipo o Mike Love, dos Beach Boys. E um exército de jornalistas, claro. Mas a visita à Índia não era parte de nenhuma turnê internacional: estimulados por George Harrisson e pela morte recente de Brian Epstein, que era gerente da banda, os Beatles procuravam os ensinamentos espirituais do guru Maharishi Mahesh Yogi.

Sim, o mesmo cara que quase foi imortalizado como charlatão e enganador na música do Lennon. Ficou no quase só por causa do George Harrisson, que obrigou o Lennon a alterar a letra da canção. O resultado é um mantra entoado até hoje por beatlemaníacos ao redor do mundo, muito embora poucos suspeitem que a tal Sexy Sadie era um guru indiano barbudo e cabeludo. Não, o Maharishi pode ter sido muita coisa na vida, mas se você esperava uma garota sexy pode vestir sua troll face.

Veja também: George Harrisson e o amor do Beatle pela Índia

Sexy Sadie

“Sexy Sadie, what have you done. You made a fool of everyone.”

Criador da Meditação Transcendental, técnica que usa mantras para atingir um estado chamado vigilância tranquila, Maharishi já era conhecido internacionalmente antes de ser o tutor do quarteto mais famoso de todos os tempos. Mas quando os Beatles entraram no Ashram (um tipo de refúgio espiritual de sábios hindus) do guru eles certamente elevaram a fama do Maharishi e por tabela ampliaram o tipo de turismo que até hoje move Rishikesh: o de ocidentais em busca da espiritualidade.

Veja também: Rishikesh, uma das cidades mais agradáveis da Índia

Em Rishikesh os Beatles usavam roupas locais e dividiam seu tempo entre os ensinamentos do Maharishi, leituras e meditações. E compondo, óbvio. Tudo virou tema para canções. Exemplos? Vários! A irmã da atriz Mia Farrow, Prudence,  levava tão a sério as meditações que ficava trancada numa cabana a maior parte dos dias. Mia pediu que Lennon resolvesse o problema, e foi prontamente atendida. (“Dear Prudence, won’t you come out to play?”).

Nunca tentei, mas a meditação transcendental não deve ser nada fácil. Prova é que, após algumas sessões mais intensas, Lennon teve uma forte crise de insônia… e aproveitou para colocar isso no papel. (“I’m so tired, I haven’t slept a wink. I’m so tired, my mind is on the blink”).

Quando uma americana e seu filho desembarcaram no ashram em busca da tal da espiritualidade perdida e abandonaram o local pouco depois para caçar tigres (!), também ganharam um lugar no Álbum Branco (“He went out tiger hunting with his elephant gun; In case of accidents he always took his mom”). E até dois macacos fazendo sexo nas ruas de Rishikesh  viraram música (“Why don’t we do it in the road? No one will be watching us. Why don’t we do it in the road?“).

Os Beatles na Índia

Ringo e esposa deixaram a Índia em poucas semanas. “A comida era impossível pra mim”, contou Starr no documentário  The Beatles Anthology (Ringo, desde 1968 meu Beatle favorito. Temos tanto em comum). O Paul ficou um pouco mais – só foi embora depois de escrever 12 músicas. Entre elas Back in the U.S.S.R, Blackbird, Rocky Raccoon e Ob-La-Di, Ob-La-Da.

John e George saíram por último, depois do incidente relatado no início do post. O motivo do rompimento é controverso: há quem diga que Lennon descobriu que o Maharishi, supostamente celibatário, andava ensinando outras coisas às discípulas além de meditação. Outros afirmam que foi o Maharishi quem expulsou os Beatles do retiro, tudo por conta do uso de drogas. E um pedido de desculpas aparece numa música que o Harrisson fez enquanto estava na Índia. (“I’m really sorry for your ageing head. But like you heard me said: not guilty.“)

Ashram dos Beatles

Em entrevistas, Lennon chegou a dizer que Rishkesh foi o começo do fim dos Beatles e, ao mesmo tempo, o lugar onde ele escreveu suas melhores músicas. Por tudo isso a vila é importante para beatlemaníacos, embora não reste quase nada da presença da banda na cidade.

Alguns anos mais tarde o Maharishi deixou o ashram e foi morar na Holanda, onde morreu, em 2008. O prédio que abrigou os Beatles foi abandonado em 1984. Cercado por uma floresta, hoje o ashram é controlado pelo governo e faz parte de uma reserva nacional.

O governo proíbe a entrada de visitantes (embora o guarda aceite 50 rúpias para deixar qualquer turista passar). Enquanto eu caminhava pela ponte sob o Rio Ganges, saia da rua principal e seguia pela rua de terra, muitas músicas passavam pela minha cabeça. Muitos, inclusive eu, já seguiram os passos dos quatro na Abbey Road. Poucos acompanham o leito do rio Ganges até o local que mudou a história dos Beatles, o ashram perdido no meio da floresta.

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Rafael Sette Câmara

Sou de Belo Horizonte e cursei Comunicação Social na UFMG. Jornalista, trabalhei em alguns dos principais veículos de comunicação do Brasil, como TV Globo e Editora Abril. Sou cofundador do site 360meridianos e aqui escrevo sobre viagem e turismo desde 2011. Pelo 360, organizei o projeto Origens BR, uma expedição por sítios arqueológicos brasileiros e que virou uma série de reportagens, vídeos no YouTube e também no Travel Box Brazil, canal de TV por assinatura. Dentro do projeto Grandes Viajantes, editei obras raras de literatura de viagem, incluindo livros de Machado de Assis, Mário de Andrade e Júlia Lopes de Almeida. Na literatura, você me encontra nas coletâneas "Micros, Uai" e "Micros-Beagá", da Editora Pangeia; "Crônicas da Quarentena", do Clube de Autores; e "Encontros", livro de crônicas do 360meridianos. Em 2023, publiquei meu primeiro romance, a obra "Dos que vão morrer, aos mortos", da Editora Urutau. Além do 360, também sou cofundador do Onde Comer e Beber, focado em gastronomia, e do Movimento BH a Pé, projeto cultural que organiza caminhadas literárias e lúdicas por Belo Horizonte.

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