Perigo! Animais selvagens. A placa avisava já no começo da aventura. Uns 20 minutos de viagem até o local dos bichos e pronto! Aquilo era o que eu imaginava que seria a África. Nada de shoppings, progresso tecnológico e prédios altos, cenário que encontramos no centro de Cape Town. A África do estereótipo, um zoológico a céu aberto, estava bem ali. Protegidos e de longe, observávamos centenas deles… ou seriam delas?
O sexo dos bichos de lado, de uma coisa eu tinha certeza: a aparente calma, os movimentos preguiçosos, o olhar de quem quer apenas ficar deitado ao sol e o fator fofura não enganavam. Aqueles animais eram máquinas feitas para matar.
Percebemos a vontade maligna dos bichos no dia anterior. E quem diria… tudo começou com um inocente passeio pelos arredores da Cidade do Cabo. Duas horas de trem e fomos parar em um bairro frequentado por muçulmanos. Gente com roupa demais nas ruas (pelo menos para o nosso padrão) e uma galera completamente vestida nas praias. Mas o churrasco e a farofada não deixavam dúvidas -aquela era uma praia frequentada por famílias, que lotavam a areia durante os fins de semana. Guardadas as diferenças religiosas e culturais, era um lugar tão tranquilo como muitos que encontramos no litoral brasileiro.
Em território familiar, andávamos sem medo. Foi quando aconteceu. Ele surgiu bem no meio de um mercado de rua. Nossa reação foi a de qualquer turista não acostumado com animais selvagens: sacamos a câmera e começamos a tirar fotos desenfreadamente. E olha que eu ainda nem tinha conta no Instagram.
– “Ele é enorme. Que lindo!”, (comentário nível fofurístico 100, da Naty).
-“Hanhan”, acrescentei, enquanto tentava acertar o enquadramento da foto número 17.
-“Olha, ele está se levantando… tão bonitinho” (óbvio, a Naty).
-“Sei…” (ajoelhado, para pegar o melhor ângulo).
Olhei para a máquina. – “Só mais um pouquinho, bichinho. Fica parado. Olha pra cá… deixa eu dar só um zoom aqui… uai, cadê o bicho? AHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHH!!”.
Gritos. Gritos no escuro. Ok, não estava escuro, eu que fechei os olhos pra não ver a desgraça. Com uma fúria sanguinária, o bicho avançava em direção aos turistas. Para evitar a morte certa, começamos a correr. Por sorte o monstro atacou primeiro uma família de japoneses – se sobreviveram, não sei, mas é certo que fotografaram tudo e colocaram no twitter antes da primeira dentada.
Foi quando aconteceu. Lentamente, ele virou a cabeça. Seus olhos estavam em chamas. Pupilas vermelhas e um olhar assassino. O monstro, não satisfeito com a comida japonesa, resolveu testar culinária mineira. Era o fim.
-“Stout skepsel! sal lei sweep! Slaag dit!”
Com uma vassoura, nosso herói domador de feras, um feirante de peixes que passava pelo local, afugentou o monstro. Sobrevivemos, mas com uma certeza: as focas são os maiores predadores da África. E sim, elas têm dentes.
Não acredita? Veja as fotos que tiramos do monstro, segundos antes do ataque, e confira o rosto assassino do bicho. Não foi sem motivo que encaramos o passeio pela Ilha das Focas, que fizemos na manhã seguinte, quase como um safári.
Foca parece dormir, calmamente. Turistas cercam a criatura e não param de tirar fotos.
Na foto acima a foca acordou, os turistas estúpidos não. Continuavam em transe.
O homem na foto não sabe que está prestes a correr de uma foca furiosa.
De outro ângulo, percebemos que o bicho ainda chamou reforços
Esopo nos ensinou que toda história com animais fica ainda melhor se tiver uma lição de moral, do tipo “com perseverança, tudo se alcança” ou “quem tudo quer, tudo perde”. Moral da história: focas são animais selvagens e podem morder. E tinha até placa avisando.
P.S. O 360meridianos informa que nenhum blogueiro ficou ferido durante a experiência que gerou este post. E nenhuma foca também, o que é muito mais tranquilizador. Afinal de contas, focas me mordam, mas olha como esses bichos são simpáticos.
Inscreva-se na nossa newsletter
Rafael, muito bom o relato!
Vc se lembra o nome da praia/cidade que tem essas focas??
Obrigado!
Oi, Marco.
Obrigado! Isso aconteceu há quase sete anos, época que este blog nem existia. Por isso vou ficar devendo o nome da praia – não lembro mesmo.
Abraço.
Hahahah muito bom o relato! E o blog também! Bem engraçado. Estou indo pra Cape Town em janeiro e achei várias dicas úteis aqui, como a desse post!hehe
Oi, Artur.
Fico feliz de saber que você se divertiu com nosso relato de quase morte. hehehe
Você vai adorar Cape Town! A cidade é linda e cheia de atrações.
Abraço!
Gente, elas junto com os macacos estão na minha listinha de bichos que querem distância. E as focas fedem demais também. rs
hahaha! Elas fedem, mas parecem inofensivas. Mas levar uma mordida de uma delas não deve ser nada legal.
Ei Rafael,
Adorei a história! Não imaginava que as focas fossem tão perigosas assim! 😛
Abraços,
Lillian.
Pois é, Lilian. Nem eu… descobri na hora que tive que correr de uma. Vocês podiam providenciar um fluxograma sobre como sobreviver ao ataque de focas. Ia me ajudar a não correr riscos assim. hehehehe