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Atlas: Reino Unido

Como estudar no Reino Unido: guia completo

* Por Ronan Sato

Mesmo antes da matrícula, cursar um mestrado no exterior exige muita pesquisa e dedicação. São muitas variáveis para se considerar: país, cidade, universidade, reputação, acomodação, qualidade do corpo docente, conteúdo do programa, empregabilidade dos graduandos… e, além disso, há a exigência de muitos documentos, como se pode ter uma ideia neste post aqui. Se estudar no Reino Unido em 2015 está nos seus planos, talvez este texto seja para você.

Voltei mês passado para o Brasil e gostaria de compartilhar um pouco da minha experiência. Já que o curso que escolhi, na área de Desenvolvimento Social, não se enquadrava nas áreas contempladas pelo Ciência sem Fronteiras (e os prazos para bolsas já tinham passado), precisei buscar uma rota alternativa. E acabei tendo uma grande surpresa ao receber a indicação do Study Across the Pond (SAtP), um serviço 100% gratuito e que foi fundamental para que minha ida à Norwich, uma acolhedora cidade medieval no leste da Inglaterra e terra dos gloriosos “Canários” de Carrow Road, transcorresse sem maiores perrengues (não houve perrengue nenhum, para falar a verdade).

Vale ressaltar que a ideia deste post não é promover esse serviço, mas sim explicar, em linhas gerais, os passos que devem ser seguidos também por aqueles que preferem fazer o contato direto com as universidades.

Como estudar no Reino Unido

Certo, mas o que é o SAtP e como ele pode me ajudar?

O SAtP existe desde 2004 e hoje representa 35 universidades no Reino Unido. São elas que garantem a gratuidade do atendimento. Embora a lista não contemple as tops Oxford, Cambridge e London School of Economics, há instituições muito bem classificadas em rankings como o do The Guardian e do site Times Higher Education. Também vale a pena dar uma olhada aqui antes de escolher.

Tudo começa com o preenchimento de um formulário no site seguido do contato com um consultor, feito em inglês ou espanhol. Ele irá pedir algumas informações básicas: ano de preferência para iniciar os estudos, áreas de interesse acadêmico e resultado do IELTS, por exemplo (embora seja possível dar andamento no processo sem ter feito uma prova de proficiência, é recomendável ter esse item marcado no checklist).

No meu caso, não demorou muito para que eu recebesse uma lista de 12 sugestões de universidades e cursos para escolher. Retornei com as 5 que mais me agradaram e esperei pelas respostas.

Na verdade o que o SAtP faz é manter você a par de todos os prazos, procedimentos e documentos necessários, bem como ajudar na redação da sua carta de apresentação e intermediar todo o seu contato com as universidades. Eles tiram todas as dúvidas e ainda ficam de olho em oportunidades, como bolsas integrais ou parciais (isso me salvou!) oferecidas pelas próprias instituições.

Ah, e também dão toda a assistência para obter a CAS (Confirmation of Acceptance for Studies), fundamental para a obtenção do visto Tier 4 (General) student. Costuma levar entre 15 e 30 dias para o processamento desse visto. Vou entrar em detalhes sobre ele mais adiante.

Para se ter uma base, meu cronograma correu conforme abaixo:

Maio

– Primeiro contato com o SAtP

– Recebimento da lista com sugestões de universidades e cursos

– Retorno com as minhas 5 preferências

– Preparação e envio de toda a documentação necessária 

Junho

– Recebimento das primeiras conditional offers das universidades

– Recebimento da oferta de bolsa parcial para a University of East Anglia (UEA)

– Recebimento da(s) unconditional offer(s)

– Escolha definitiva da universidade

– Pagamento de um depósito (no caso, £2000) para assegurar a vaga

Julho

– Anúncio dos selecionados para a bolsa parcial da UEA

– Recebimento da CAS

– Pré-seleção da acomodação

– Preparação dos documentos para o visto

Agosto

– Entrada do pedido de visto 

– Definição da acomodação

– Registro na universidade

– Recebimento do visto via correio

Setembro

– Início das aulas

Dicas para estudar no Reino Unido

Documentos necessários para estudar no Reino Unido

No início, o que mais me exigiu tempo foi reunir os documentos para envio às universidades. Conforme disse a Luíza, todos devem ser redigidos em inglês e é bom considerar os prazos e custos com a tradução juramentada (no caso, do diploma e do histórico escolar). É preciso ter cuidado também para que todas as informações de contato do tradutor estejam presentes nos documentos finais. Dito isso, a lista completa é a seguinte:

1. Carta de apresentação, entre 1 e 2 páginas, na qual você explica sua motivação para estudar no Reino Unido e cursar o programa que escolheu. Isso também já foi dito aqui no blog, então vou focar no que fiz: tratei essa carta como se fosse uma candidatura a uma vaga de emprego, buscando contar como minha trajetória de vida me direcionou para aquele curso específico e como o mestrado no Reino Unido iria impactar na minha carreira.

Dei muito peso às minhas experiências profissionais e voluntárias, falei um pouco dos meus hobbies, livros favoritos… enfim, a ideia é mostrar o quanto você está maduro e preparado para passar um ano fora e conviver com colegas de todas as partes do mundo.

2. Duas cartas de recomendação. Aqui, você pode escolher entre duas referências acadêmicas ou uma acadêmica e uma profissional. Importante: ambas devem estar em papel timbrado da empresa/instituição de ensino e trazer as informações de contato da forma mais completa possível.

Esta etapa pode (e vai) demorar mais que o previsto. Exemplo de situação: em cima da hora, uma das minhas referências não pôde enviar a carta em papel timbrado porque não fazia parte do quadro fixo de professores da universidade. Tive que buscar outra correndo.

3. Currículo

4. Primeira página do passaporte (com foto e dados pessoais) escaneada

5. Diploma e histórico escolar do(s) seu(s) curso(s) de graduação/especialização (originais e traduções)

6. Resultado oficial da prova de proficiência em inglês (todas as provas válidas estão neste pdf). Caso você não consiga a nota de corte exigida por alguns cursos (para o IELTS, em torno de 6.5 em cada componente), existe a possibilidade de estudar inglês na universidade antes de iniciar o mestrado.

É bom verificar as condições específicas de cada uma, mas adianto que o valor desse curso preparatório pode ir da faixa de £1500 (4 semanas) até exorbitantes £5500 (16 semanas). Detalhe: sem acomodação inclusa!

7. Se você tiver interesse em cursar um mestrado em pesquisa (Master of Research), pode ser necessário enviar um projeto de pesquisa nesta etapa.

Todos esses documentos podem ser enviados via SAtP ou por meio do site das próprias universidades. É comum ter uma área de login na qual você pode subir os arquivos e monitorar o status da sua application. Ah, também há a possibilidade de se aplicar via UCAS, mas infelizmente não tenho conhecimento suficiente a respeito. Se alguém tiver ido por esse caminho e quiser contar nos comentários, gostaria de saber como foi!

E o que são as conditional e unconditional offers? Bom, a primeira significa que você preenche os requisitos de admissão, mas precisa enviar um ou mais documentos que ficaram faltando. Os prazos e condições vêm descritos de forma bem detalhada por e-mail.

Agora, se você tem uma unconditional offer (ou mais) em mãos, parabéns! Escolha com calma a melhor e siga os passos descritos por e-mail, que normalmente são o pagamento de um depósito e a pré-seleção da sua acomodação.

Acomodações

Moradia universitária UEA

Geralmente há três opções: dentro do campus, fora do campus (mas em área pertencente à universidade), ou em casas/quartos alugados. A opção de alugar um espaço por conta própria é bem mais barata. Normalmente, as universidades garantem alojamento a todos os estudantes internacionais durante o primeiro ano (se você preferir seu mestrado em dois anos, vai ter que procurar por fora no segundo ano), bastando você assinar um contrato e desembolsar uma pequena fortuna. Mas conheço casos de colegas que começaram morando no campus e depois foram dividir casa.

Na minha universidade tinha uma espécie de condomínio a poucos minutos de distância do complexo esportivo. Meu raciocínio foi: bom, como estou indo para estudar, vou procurar o lugar mais silencioso, certo? Por outro lado, a logística não era das melhores: o supermercado não era tão perto e voltar da biblioteca de madrugada, durante o inverno, era bem mais fácil para quem morava dentro do campus. Meu conselho é: analise as opções com sabedoria.

quarto universitário

O fato é que a comodidade de um alojamento universitário pode sair até 2x mais caro do que compartilhar um lugar com alguém (e, neste caso, você ainda pode contar com colegas que cozinham quitutes dos seus países de origem). No total, as suítes podem custar a bagatela de £5000 por ano, mas existem opções de quartos compartilhados ou individuais com banheiros de uso comum. O aquecedor está incluso no valor, mas não espere muito espaço no banheiro. Ou na cama. Ou… no resto do quarto.

Oferta de bolsa de estudos nesta fase: é possível?

Sim! Quando eu menos esperava, recebi uma oferta de bolsa destinada a três alunos brasileiros e três mexicanos. A única exigência era enviar uma redação de até 300 palavras explicando como a bolada de £5000 me ajudaria a alcançar meus objetivos acadêmicos. Não sei se foi por minha capacidade singular de enrolação ou pela simples ausência de brasileiros com quem competir, mas a sorte sorriu para mim e pode sorrir para você também.

Ah! Ganhei também um desconto de £1000 dado sem maiores explicações (a concorrência entre as universidades na hora da matrícula é ferrenha!), então o curso que sairia por £12500 ficou por £6500.

E o que é a CAS?

A Confirmation of Acceptance for Studies é fundamental para o seu visto e vai ser emitida pela sua universidade após o pagamento do depósito inicial. Nela consta o seguinte:

– Seu CAS Number, que na verdade é composto por 13 letras e números

– Dados pessoais, dados da universidade e número de matrícula

– Dados do seu curso, com datas de início e término

– Situação financeira até o momento: valor total do curso, valor total pago e taxa de acomodação paga, se houver

– Dados do seu curso anterior, caso já tenha estudado no Reino Unido

– Evidências: suas notas na prova de proficiência em inglês e seu diploma de graduação.

Cabem alguns alertas aqui. Primeiro, confira a sua CAS com muito cuidado para garantir que não haja nenhum erro. Na primeira versão que recebi, por exemplo, não veio a dedução de £5000 no valor total do curso, correspondente à bolsa parcial.

Você vai precisar desse documento quando desembarcar no Reino Unido, então é recomendável ter numa pasta todas as evidências descritas nele. No meu caso, levei o IELTS e o diploma de graduação acompanhado da tradução. Mas tenha à mão também a papelada usada para tirar o visto, especialmente o demonstrativo financeiro em que consta a capacidade de arcar com o mestrado.

Falando nisso, e o visto?

O visto Tier 4 (General) Study é baseado em pontos, ou seja, você precisa cumprir determinadas condições e obter as respectivas pontuações. No total são 40: 30 se você tiver a CAS e 10 se tiver os fundos necessários. E é aqui que complica um pouco: é necessário provar, via documento fornecido pelo seu banco e traduzido para o inglês, a existência de verba suficiente para custear o valor total do curso (exatamente como consta na CAS) e mais 9 meses de custo de vida na Inglaterra.

Ou seja: 9 x £1020 (se o curso for em Londres) ou 9 x £820 (se o curso for fora de Londres). No caso desse dinheiro estar na conta de um familiar ou responsável, deve haver, além da certidão de nascimento (original ou tradução), uma carta escrita por essa pessoa na qual ela disponibiliza o montante x, por vontade própria, com fins exclusivamente educacionais. O dinheiro deve ter permanecido em conta por um mínimo de 28 dias consecutivos no mês anterior à sua aplicação para o visto. Em relação ao câmbio, o próprio governo britânico recomenda o site OANDA para fazer as conversões de Libra para Reais e vice-versa.

E o que mais é necessário (fora, claro, um passaporte válido)?

– 2 fotos com seu nome escrito no verso (não deixe de ler as recomendações aqui)

– o documento bancário que prova que você tem condições de pagar o curso e se manter

– consentimento expresso dos pais ou responsáveis, se menor de 18 anos

O visto para mestrado de um ano é válido por toda a duração do curso + quatro meses. É possível trabalhar por 20 horas semanais durante o período letivo, ou em tempo integral durante as férias.

Brasileiros não precisam enviar exames de tuberculose, mas é provável que o centro médico da sua universidade convoque todos os recém-chegados para um exame simples. Quando estava por lá, fiquei sabendo de um caso registrado no campus e que foi tratado com a máxima seriedade e discrição.

Importante: quando eu fui, em 2013, a entrada no pedido de visto não podia ser iniciada até 90 dias antes do início do seu curso (data que consta na CAS). Ou seja, os apressadinhos deveriam pagar a taxa novamente e passar pelo processo outra vez. Além disso, não era permitido entrar no Reino Unido com uma antecedência maior que 30 dias da data de início.

Mais importante: leia com cuidado este documento aqui, pois ele é atualizado constantemente e traz todas as regras oficiais em relação ao visto Tier 4.

Mais importante ainda: o pedido de visto começa com a solicitação online aqui (quando fui, precisei pagar US$530) e é seguido de um agendamento no centro de solicitação de visto (CSC). Esta etapa custa humildes R$242. Há CSCs no Rio, em São Paulo e em Brasília. Se rolar alguma dúvida, o site da Embaixada Britânica traz todas as informações de contato.

Por que o Reino Unido? 

Existem prós e contras em ir estudar por lá, e o valor da libra (£) talvez seja o ponto negativo que mais assuste. Mas, do lado positivo, há a reconhecida excelência das universidades britânicas e o fato de você poder concluir seu mestrado em 1 ano (full-time) ou 2 anos (part-time). A primeira opção é a mais indicada para quem não quer ficar muito tempo fora do mercado de trabalho. Uma outra vantagem é o sistema de saúde (NHS) gratuito para quem vai estudar por mais de 6 meses. Isso sem contar a segurança…

(Vou deixar para você julgar a comida por conta própria mas, como bom mineiro, não me conformei com o fato dos cheese scones só terem cara de pão de queijo!) Só deixo uma dica: aprenda a cozinhar ou tenha amigos que saibam cozinhar. Nem só de Tesco e ALDI vive o homem.

norwich_market

Norwich: A Fine City

Entre as universidades de Lancaster, Strathclyde, Sheffield, Newcastle e East Anglia (UEA), optei pela última e fiquei muito satisfeito, apesar de ter ouvido relatos muito positivos sobre as duas primeiras. Além do campus ser incrível, com instalações esportivas de dar inveja, a UEA é muito conceituada na área que escolhi e ficava a apenas 15 minutos de bicicleta de Norwich.

Bons cafés, boas lojas, um castelinho simpático, um time de futebol de qualidade beeeeem questionável e muitos pubs fazem a experiência na cidade ser muito agradável. Como boa parte do terreno é plano, quem gosta de pedalar não tem absolutamente nada para reclamar. E, quando der vontade, Londres fica só a 2h de distância (e algo em torno de £4) via Megabus.

Há a possibilidade de comprar um passe anual de ônibus por cerca de £200. O trajeto universidade-centro ficava em £2.50. O custo de vida varia: como eu não cozinhava, acabava gastando cerca de £50 por semana com supermercado. Dentro do campus, uma refeição saía em torno de £5. Comprei uma boa bicicleta em um leilão da UEA por £80 e dei preferência para lojas no centro para utensílios de cozinha, toalhas, essas coisas. Para comer fora, entre £10-15 resolvem (já as pints de cerveja saem a £2.50-3, o que é bem razoável). No geral, eu gastava umas £450 por mês para viver sem mordomias.

norwich_finecity

Resumindo: vale a pena?

Aos 30 anos de idade, busquei um mestrado de 1 ano para mudar de carreira e não podia ter tomado decisão melhor. Há muitos custos envolvidos no processo e o sistema britânico de ensino não é fácil, mas a experiência foi inesquecível e me coloco à disposição para conversar mais a respeito. Pude praticar muitos esportes e participar de sociedade e clubes, como cultura japonesa, karatê e Cruz Vermelha, além de fazer grandes amigos. A todos que tiverem interesse, boa sorte!

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7 comentários sobre o texto “Como estudar no Reino Unido: guia completo

  1. Boa tarde caros amigos, amo tudo que voces comentam sobre viagens, bem pessoal, sou uma jovem senhora sempre tive o sonho de estudar inglês fora, gostei muito da explanação de voces sobre as universidades, mais se puderem me ajudar, onde posso fazer intercâmbio, no Reino Unido, acomodação, se voces puderem me indicar eu ficarei muito contente e super feliz. Um super e mega abraço a todos.

  2. Boa tarde! Eu sou de Portugal e apenas tenho o 9° ano. Já telefonei para a minha escola em Portugal a pedir o certificado para apresentar em Manchester escrito em inglês como me foi indicado para fazer, mas a minha escola em Portugal diz que não fazem mais certificados.
    Alguém sabe-me explicar o que tenho que fazer?
    Eu tenho o certificado escrito em português.

  3. Boa noite!
    Recebi um convite para realizar mestrado no Reino Unido so que todas a s aulas realizadas no Brasil, mas sem carteira de estudante ou visto. Vc acha isso real ou duvidoso?

  4. Rafael, parabéns pelo post. As traduções juramentadas aqui do Brasil tem validade normalmente no UK? Estou fazendo minha inscrição no Chevening Scholarship desse ano, mas antes de enviar os diplomas e históricos para tradução deu aquele *estalo* e resolvi pesquisar, mas não achei informações muito precisas.

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