Eu me lembro de olhar com tristeza para as obras que estavam em andamento em Padang-Padang, Bali. Resorts megalomaníacos prometiam tomar conta da região, soterrando grande parte das pousadas locais e matando a simplicidade que atrai tanta gente para lá, a exemplo do que já aconteceu em outras partes da ilha. “Em breve, esse lugar não vai mais ser o mesmo”, eu pensava.
Semanas antes, eu já tinha me incomodado com a forma como o turismo predatório tinha transformado as cidade mais famosas da Tailândia em um grande palco de atrações pega-gringo, chegando, muitas vezes, a infringir direitos humanos e dos animais. E olhei com pesar para os turistas felizes hospedados dentro do forte de Jaisalmer, na Índia, sem saber que aquela simples atitude colocava em risco uma fortaleza com séculos de idade.
Como blogueira de viagens, eu às vezes vivo um dilema. Como incentivar as pessoas a visitarem lugares que eu amei, sendo que esses mesmos lugares podem acabar destruídos ou descaracterizados pela atividade turística? Diante de tudo isso, será que aquele papo de que viajar pode mudar o mundo é apenas balela de texto de auto-ajuda?
Em 2015, o turismo deve movimentar em torno de 15 trilhões de dólares. Com tanta grana envolvida, a gente consegue imaginar o impacto global – e ambiental – dessa indústria. De acordo com Salli Felton, da Travel Foundation, uma organização britânica que trabalha com ações de turismo sustentável, o turismo é a maior fonte de transferência de renda de ricos para pobres no mundo, superando a ajuda internacional (fonte).
No entanto, para que essa transferência de fato aconteça, é necessário que o dinheiro fique no país visitado e ajude na economia local. Só que, muitas vezes, hotéis e outros serviços do setor acabam importando mão de obra e recursos para atender aos padrões estrangeiros, o que faz com que a grana acabe voltando para o lugar de onde ela saiu.
Optar por práticas de turismo sustentável, escolher estabelecimentos locais – desde o hotel até a agência que vai operar aquele tour – e que tenham práticas ambientais e sociais bacanas, evitar atrações que sejam predatórias ou que, de alguma forma, firam os direitos humanos e dos animais são uma boa forma de ajudar a mudança a ser real.
Leia também: Turismo sustentável: um guia para o viajante consciente
Viajar pode ser uma experiência transformadora na vida de alguém. Ao nos conectarmos com novas ideias, pessoas e culturas, temos uma oportunidade sem igual de crescimento. Ainda que nem todas as um bilhão de pessoas que viajam para fora de seus países aproveitem essa chance, apenas esse tipo de mudança positiva já faz as viagens terem um baita impacto positivo.
Cada viajante que volta para casa com uma nova compreensão de diversidade e tolerância já transformou o seu mundo e pode ajudar a transformar o mundo de quem convive com ele. Mas isso é pouco. Para que as viagens realmente valham a pena é preciso que elas preservem e desenvolvam a comunidade visitada.
Turistas são consumidores e, como tais, têm o poder de decidir onde e como vão investir seu dinheiro. E para que a mudança ocorra tanto na vida do viajante quanto na comunidade visitada, não basta ficar preso na rotina ônibus de excursão – monumento lotado – quarto de hotel. Nem passar uma semana enfurnado em um resort all-inclusive tão maravilhoso que você nem precisou sair dele para ver como era o país lá fora.
Precisamos de mais viagens que nos conectem com a história, a cultura e, principalmente, com as pessoas daquele lugar. E isso não quer dizer que essas práticas vão fazer do turismo o salvador do mundo, mas talvez ele possa ajudar a tornar a vida de alguém melhor.
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Muito bom! Se conseguirmos, através do turismo, melhorar a vida das pessoas, acho muito válido! Não conheço Cuba, mas conheço Miami e acho a cidade linda e excelente para passear! A França, especialmente Paris, é uma das cidades que mais recebe turistas no mundo, não me parece que tenha “perdido suas raízes”…
Acho que esse risco é maior em países subdesenvolvidos que não possuem políticas apropriadas para a exploração turística. É o caso de lugares que acabam se transformando em complexos de resorts.
Abraços, Cândida!
Boa reflexão, Natália.
Curioso, ontem vi uma reportagem na Globo News sobre Cuba com o fim dos embargos. Um turista entrevistado comentou que teme que Havana se transforme em uma Miami.
É um paradoxo. A grana deve entrar, o país deve se desenvolver, mas corre riscos de perder suas raízes. O desafio é equilibrar isso tudo.
Pois é, João Guilherme, por isso que essa exploração tem que ser planejada e sustentável. Os lugares podem se desenvolver sem perder a essência. Uma das formas, eu acho, é investindo nas empresas locais.
Abraços e obrigada por comentar!