5 Reflexões sobre viajar sozinha

57 dias, 7 países e 24 cidades. Cá estou eu, em Praga, meu último (e breve) destino antes de embarcar de volta para Portugal. Foi uma aventura e tanto, a primeira vez que viajei tanto tempo sozinha, mesmo descontando os momentos que encontrei com amigas durante o trajeto. Em primeiro lugar, os motivos para comemoração: Yeey, completei a tal meta de visitar os 30 países antes dos 30 anos! Mas essa, certamente, não foi a grande conquista dessa viagem.

Eu já escrevi alguns posts sobre viajar sozinha, mas depois dessa jornada, fiz mais algumas reflexões sobre o assunto.

1. Você vai descobrir mais coisas sobre você: boas e ruins

Sabe quando você viaja com outra pessoa e descobre várias coisas sobre ela, como aquelas manias irritantes ou coisas do gênero? Pois é, viajar sozinha é um exercício excelente de autoconhecimento e introspecção, todo mundo já deve estar careca de ouvir isso. Mas, de fato, você se dá conta daquelas coisas sobre você que podem irritar os outros. Ou coisas que você sempre tentou negar sobre si mesma, mas quando está só com a sua própria companhia durante tanto tempo, passou a ter que aceitar.

Por exemplo, eu tento ser mais autossuficiente e independente que o necessário. Do tipo: eu evito o máximo possível pedir ajuda para alguém sobre como chegar num lugar. Eu sempre fiz isso em viagens acompanhada, onde acabo sendo a guia (ou o mapa) da galera, mas isso acaba parecendo ser bem autoritário e irritante da minha parte. Estando sozinha, eu percebi isso com mais clareza, principalmente porque eu vi que não faz mal pedir ajuda, que eu não preciso saber tudo sozinha. Essa viagem foi um exercício de, acreditem ou não, tentar ser menos independente e mais aberta a ouvir outras pessoas.

Mas se tem uma coisa que eu continuo não querendo pedir ajuda é para tirar fotos. Gente, que desastre! Isso até gerou uma discussão bem legal no Instagram, com dicas de como tirar fotos melhores ao viajar solo. A maioria das fotos de viagem que tenho são selfies ou fotos com o timer da câmera. 

Foto que pedi pra alguém tirar pra mim

Foto tirada com o timer da câmera

2. Meu estilo de viagem é só meu e não devo julgar os outros

Eu tenho meu estilo de viagem: gosto de planejar meu roteiro prévio antes de embarcar, mas nunca planejo o que fazer nas cidades até chegar lá. Gosto de ficar muito tempo numa cidade como base e fazer vários bate-voltas nos lugares ao redor. Gasto algumas horas por dia, ou um dia inteiro, trabalhando – afinal, viajar não é desculpa para eu não trabalhar. Por isso, acabo ficando mais tempo em alguns lugares que o necessário.

Nesses quase dois meses viajando, me deparei com pessoas com estilos de viagem completamente diferentes: gente que não tem trajeto nem nada reservado e decide aonde vai só no dia seguinte. Gente que acha que viajante de verdade só viaja de carona. Gente que faz todo o roteiro a pé ou de bicicleta. Gente que fica um dia num lugar e já pega o avião no final da tarde para outro.

Apesar de alguns desses estilos de viagem me causarem estranheza a princípio, eu aprendi, depois de breves conversas com essas pessoas, que o trajeto de cada um só é da conta de si próprio. Não cabe a mim ou a ninguém julgar o estilo de viagem ou o que as outras pessoas querem fazer das suas férias, do seu período sabático ou da sua vida na estrada.

Leia mais: Clichês de viagem que merecem um tapa na cara

Isso até mudou um pouco a minha forma de responder comentários aqui no blog. Às vezes, percebi que posso me expressar mal ao dar minha opinião sobre o itinerário de uma pessoa (mesmo que essa opinião tenha sido solicitada!). Eu tenho um estilo de viagem, que funciona muito bem para mim, mas pode não ser as férias ideais de muita gente. Não existe Copa do Mundo das viagens. Ninguém vai ganhar prêmio por ser o melhor turista ou viajante ou qualquer outro rótulo que inventarem amanhã. Ser mais aberta a essas diferenças foi algo que eu aprendi nesse trajeto.

3. As pessoas acham que você é muito corajosa, mesmo que você não se sinta assim

“Mas você está aqui sozinha?” A frase, seguida de uma cara de incredulidade, foi ouvida algumas vezes durante o trajeto. Quando eu dizia: Sim. Eles respondiam: “nossa que legal, como você é corajosa!” Esse espanto foi bem maior na Romênia e na Bulgária, países que os europeus consideram perigosos (leia-se, têm certo preconceito).

Eu, em geral, sorria e dizia que não era nada de mais. A verdade é que eu não estava mentindo. Sim, eu me sinto orgulhosa por viajar sozinha para países que eu não falo a língua e mal consigo interpretar os hieróglifos que eles chamam de alfabeto, mas não me sinto muito corajosa e nem especial por isso. Tem um monte de viajantes fazendo a mesma coisa, basta ir em um hostel para conhecê-los.

Eu não me meto em grandes aventuras, não pulo de lugares altos e certamente evito a maior parte dos perigos que eu posso, como andar sozinha em lugares escuros ou entrar em ruas ou florestas sinistras. A minha tal coragem vem de não seguir os padrões supostos para uma mocinha, de sair por aí com uma mochila nas costas e uma mala de rodinhas, do tamanho de cabine, e me propor a explorar os lugares o máximo que puder. Sem ninguém para me acompanhar.

Então, mesmo que na minha cabeça não tenha nada de mais eu pegar um ônibus local para cruzar um país, para muita gente eu sou o sinônimo da loucura e de uma alma intrépida. E, quer saber? Tudo bem! Se nesse processo eu inspirar mais alguém a embarcar nesse tipo de aventura, mesmo que não seja uma aventura tão cheia de adrenalina como os outros imaginam.

4. Nada contra hostels, mas gente me cansa

Durante essa viagem, eu tentei balancear os hostels e hotéis, além da casa de amigas, de forma que meu orçamento não ficaria muito comprometido, mas eu também teria períodos de descanso. Meu problema com hostels é que sempre tem muita gente. E várias vezes, depois de um dia inteiro explorando uma cidade sozinha, tudo o que eu quero é ficar sozinha.

Eu assassinei mentalmente muitos grupos de australianos, argentinos e coreanos que ficavam conversando alto do meu lado enquanto eu tentava trabalhar, ler, comer ou fazer qualquer coisa que não envolvia conversar com pessoas. Quem aí também cansa de conversar, levanta a mão nos comentários! 

E vocês lembram que eu fiquei bastante tempo em quase todas as cidades que me hospedei? Em geral, sempre mais do que três noites. Isso quer dizer que, nessas cidades, eu acabava saindo beeem mais cansada do que chegava. Então, meu aprendizado nesse caso – além do fato óbvio que eu estou ficando velha e chata – é que eu preciso evitar dormitórios pela minha própria sanidade. O problema é que quartos individuais, na maioria das vezes, são muito caros ou inexistentes. Deviam criar um site de busca chamado Room Alone. Se alguém quiser investir na minha ideia, manda um email. 😉

Ps. Mas se você quiser amigos durante a viagem, invista em hostels, É o jeito mais fácil de conhecer outros viajantes.

5. Tem muito mais gente viajando sozinho (a) do que você pensa

Depois do tópico anterior, deu para perceber que eu não sou exatamente extrovertida, mas até que fiz alguns amigos de um dia em vários lugares, em hostels ou Free Walking Tours. Todos viajantes solos. Conheci muita gente trabalhado com o Workaway também. Em minhas conversas com essas pessoas, um dos tópicos sempre era: E aí, você está curtindo viajar sozinha/sozinho? E a resposta era sempre um enorme sim.

Todo mundo que eu conversei exaltou as coisas que eu falo neste post: como é libertador não ter que comprometer suas vontades com outra pessoa, como é relaxante poder simplesmente acordar e fazer o que te der na telha, sem ter que pensar duas vezes, como é empoderador conseguir fazer as coisas por conta própria, sem a ajuda de alguém.

Então, se você ainda está na dúvida se deve ou não viajar solo, dê ouvidos aos meus breves companheiros de viagem e junte-se aos bons.

Inscreva-se na nossa newsletter

Avalie este post
Luiza Antunes

Luiza Antunes é jornalista e escritora de viagens. É autora de mais de 800 artigos e reportagens sobre Viagem e Turismo. Estudou sobre Turismo Sustentável num Mestrado em Inovação Social em Portugal Atualmente mora na Inglaterra, quando não está viajando. Já teve casa nos Estados Unidos, Índia, Portugal e Alemanha, e já visitou mais de 50 países pelo mundo afora. Siga minhas viagens em @afluiza no Instagram.

Ver Comentários

  • Comecei a viajar sozinha acerca de 3 anos e só tem uma coisa que acho ruim: não ter começado a fazer isso antes! Já viajei por várias cidades no Brasil, Argentina e Chile. E essas foram as melhores experiências de viagem que já tive. E, como você Luiza, eu adoraria um site de hospedagem mais em conta para viajantes solo. Eu também não curto muito quarto coletivo, mas a diferença de preço de um hostel para hotel é enorme. E, sério: eu topo muito contribuir/investir num projeto de hospedagem para viajantes solo.

  • Olá!

    É muito bom ler sobre as impressões de outra viajante solo!
    Ainda causamos espanto, mas, a verdade é que depois que se viaja sozinho uma vez se sabe o quanto isso é uma coisa importante para o nosso crescimento pessoal!

    Parabéns pelo post!

  • Oi Luiza,
    Conheci seu blog ontem e já estou adorando suas dicas. Apesar de já estar meio velhinha, fiz 58, só agora vou começar meu sonho de viajar que tive que guardar por todos esses anos bem no fundo da gaveta. E ainda por cima, vou começar sozinha! Tenho que confessar que apesar de estar planejando a viagem só pra abril, já sinto vários friozinhos na barriga, só no planejamento. Rsrs estou pensando em começar por Portugal, pois li em outro blog que eles incentivam a ida de brasileiros aposentados para que possam viver lá. Acho que poderia ser uma experiência interessante! Então começo por lá e depois saio visitando outros países. Não consigo me imaginar num quarto coletivo e dividindo o banheiro.rs você indica algum hostel em Lisboa que tenha quarto com banheiro privativo e que fique num bom ponto da cidade? Um abraço.

  • Eu de novo! rsrsrs

    Minha viagem está chegando e começando a dar um frio giganteee na barriga, Luiza!
    Tenho uma duvida que está me consumindo: segurança nos hostels, por mais que a classificação dele seja muito boa, coloquei a doleira e senti o passaporte, docs e dinheiro meio que me incomodando..rsrs.
    Como tem as praias no entorno de lisboa, como faço então se preciso ficar com ele 24 horas do tempo por segurança?

    Beijos

    • Oi Cris,

      Tem muitos hostels que oferecem um cofre, em geral na recepção. Caso você não se sinta segura de deixar no locker do quarto, essa pode ser a solução.

    • Cris, prefiro não arriscar. Uma vez no Stayokay Voldelpark eu um canadense deixamos notebook e Smartphone carregando, havia um asiatico no quarto que durante a madrugada entrava e saia do quarto diveeeersas vezes, fato que nos deixou desconfiado e acabamos perdendo a paciencia e recolhendo nossos aparelhos, magicamente ele parou com as entradas e saidas! Ou seja, pessoas mal intencionadas tem em todos os lugares... Lookers, podem ser violados, principalmente aqueles que temos que colocar cadeados.

      Tambem não vai ficar para cima e para baixo com toda a sua grana da viagem. Eu gerelmente compro um courrency card nas lojas de cambio e pago tudo com ele (como se fosse um cartão de debito em conta. Se perder o cartão basta ligar para um numero (0800) e vão te indicar um lugar para pegar um novo cartao e cadastrar uma nova senha. Para pequenas despesas voce pode usar este cartão e sacar dinheiro em especie ... deixa sempre uns 150 eur em dinhero vivo com voce quando acabar voce saca de novo em qualquer ATM.

  • Boa!!

    Concordo com tudo. Amo viajar sozinho ... o chato é o lance das fotos (kkk). Não sou fân de Hostels, muito pior sozinho, sem a sua turma para preencher o quarto. Me hospedei tres vezes em hostels e sinceramente prefiro diminuir dias de viagem, ficar mais afastado...qualquer negocio.

    Quem nunca viajou só, faz uma experiencia!

      • Gente, fica em airbnb. É uma maravilha. Viajo sozinha direto e DE-TES-TO hostel e tb não suporto aquela conversação...kkkk
        Só ficava em hotel, mas como já tinha feito algumas viagens ao exterior este ano e queria fazer mais uma (Acabei de voltar de uma viagem de 40 dias pelo Reino Unido, Islandia e sul da França) e a $$$ estava apertada, optei pelo airbnb e, na maior parte das vezes, me dei bem.
        Tb viajo muito sozinha. Já conheço 54 países, mas pós-30...rs..
        Acho um pouco mais chato viajar sozinha pelo Brasil. Tô querendo ir para o Rio e para Trancoso e Pipa nas proximas ferias. Gostaria de ficar em airbnb no Rio e hotel nos demais, mas ao mesmo tempo gostaria de conhecer pessoas para sair a noite. Acho meio chato sair a noite sozinha no Brasil.
        Meu dilema atual é: como conhecer pessoas sem ter que encarar um hostel?

        • Airbnb é coisa linda mesmo Paty.

          Mas aqui, porque você acha chato viajar sozinha no Brasil? É o país mais fácil para você conhecer pessoas durante a viagem, não?

  • Olá Luiza! Eu sempre te leio e fico admirado com seu sonho/plano que era de chegar a 30 países antes dos 30. De verdade, isso foi o que sempre me tocou mais. (e o fato de morar em Portugal, que é onde desejo morar o mais rápido possível...) - antes de ir para um hostel (copenhagen) eu jurava que gostava de pessoas... além de não ter saco para bêbado, maluco, e gente que acorda com cara de "eu te odeio", foi uma experiência que não curti mesmo. Trabalho com teatro, dou aulas, então tenho um certo traquejo com pessoas, mas ser obrigado a estar com elas muitas horas, é algo que eu não quero mais. rsrsrsr
    Eu fiquei muito curioso sobre seu trabalho - e o que você faz em Coimbra, se não é universitária.

    Abraços, e parabéns pela sua conquista! Eu realmente fiquei feliz por você!

  • Me identifiquei litros! hehe. Isso de pedir ajuda é algo que tenho tentado trabalhar há um bom tempo. Na última viagem que fiz, as pessoas que conheci fizeram toda a diferença, mas ao mesmo tempo percebi que às vezes me canso de gente também - e de certos desconfortos de compartilhar quarto em hostel que antigamente não me incomodavam nem um pouco. #velha :P Sobre o estilo de viagem, além de acabar julgando os outros, acho que a gente corre o risco de colocar pra nós mesmos um certo padrão que determinamos como nosso, né? Rótulos e comparações são ruins até a nível individual, mas é vivendo e aprendendo! E imaginei que tinhas que passar mais tempo em cada lugar mesmo, dois meses de viagem na correria seriam uma canseira sem tamanho! Cadê o roteiro da viagem completa? Já rolou? :D Beijo!

  • Depois de viajar bastante sozinho, eu acho que viajar acompanhado é mais difícil. Lidar com pessoas dá muito trabalho. Mas, por outro lado, ter alguém especial pra compartilhar novas experiências é fantástico.
    O que me incomoda qdo viajo sozinho são as mesmas conversas superficiais a cada novo contato.

    • Concordo. O que mais senti falta quando estava viajando foi compartilhar experiências com as pessoas que amo. Mas as redes sociais têm ajudado muito a diminuir isso.

  • Sempre viagem com os filhos, agora eles já estão maiores e fiz minha primeira viagem sozinha para Paris e Londres. O medo maior é antes de ir. Quando se está lá, é bom, com alguns momentos ruins de estar sozinha. No geral, impossível se arrepender de qualquer viagem. Vou fazer de novo, várias vezes!

    • Oi Yeda,

      Eu acho que esse medo antes de ir é normal. Ele só não pode te dominar e te impedir de fazer coisas enquanto estiver viajando..

  • Adorei seu post! Já viajei sozinha algumas vezes, mas sempre no Brasil. Desta vez estou planejando uma pequena viagem para Santiago e Mendoza e estou super animada!!!! Também já ouvi sobre a minha "coragem", mas não acho que seja isso! É apenas a vontade de viajar!!!!

Compartilhar
Publicado por
Luiza Antunes

Posts Recentes

O que eu vi do alto do campo base do Everest

*Por Silvia Paladino No dia 12 de outubro de 2023, eu cheguei ao acampamento base…

6 meses atrás

Como é a relação dos iranianos com o álcool

– Aí estão vocês, eu estava esperando! Venham!, disse, apontando para um beco que parecia…

6 meses atrás

Lençóis Maranhenses e o artesanato com fibra de Buriti

Chegar no povoado Marcelino é uma atração à parte na visita aos Lençóis Maranheses. Depois…

3 anos atrás

Como são os Cursos Domestika? Descubra como funciona a plataforma

A Domestika é uma comunidade criativa e que oferece diferentes categorias de workshops: do desenho…

3 anos atrás

Niède Guidon, a arqueóloga que mudou a Serra da Capivara

“Na Pedra Furada, abaixo de um local onde havia pinturas, escavamos tentando encontrar marcas do…

3 anos atrás

Comida saudável pra todos: comer bem e descolonizar o paladar

“Muita gente acha que comer saudável é cortar açúcar, por exemplo, entrar num mundo de…

3 anos atrás