10 curiosidades sobre o Irã que mostram como é a vida por lá

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Descubra curiosidades surpreendentes sobre a história, a cultura e os costumes iranianos que vão muito além dos estereótipos e das manchetes.

O Irã é um dos países mais fascinantes e mal compreendidos do mundo. Quando aparece nos noticiários, geralmente é por razões políticas, mas a realidade é que o país guarda uma riqueza cultural, histórica e humana imensa.

Com o país voltando aos noticiários em 2025, muita gente está se perguntando como é a vida por lá. E olha: apesar da fama de fechado, o país é repleto de cultura, história e hospitalidade.

Estive no Irã em uma viagem independente de 30 dias (veja meu roteiro pelo Irã aqui) que percorreu as principais cidades do país, e me encantei com o que encontrei por lá: hospitalidade calorosa, cidades que parecem ter saído de um conto de fadas do oriente, culinária cheia de sabores e um povo que vai muito além dos estereótipos do mundo muçulmano.

Se você quer entender melhor esse destino tão enigmático, aqui vão 10 curiosidades sobre o Irã que provavelmente vão te surpreender:

10 curiosidades sobre o Irã para entender melhor o país

Quer ver tudo isso em vídeo? Veja como foi a viagem para o Irã e mais curiosidades sobre o país na playlist com meus vlogs no meu canal do Youtube:

1. No Irã, a sexta-feira é o domingo

Ao contrário do que estamos acostumados no Brasil, o fim de semana no Irã acontece entre quinta e sexta-feira. Isso porque a sexta-feira é o dia sagrado para os muçulmanos, o equivalente ao nosso domingo.

É nesse dia que as mesquitas ficam cheias, muitos estabelecimentos fecham ou funcionam com horário reduzido, e as famílias se reúnem para almoços longos e descanso.

A quinta-feira, por sua vez, funciona como uma espécie de “sábado”: meio expediente em muitos locais, clima mais relaxado nas ruas e muita gente aproveita para viajar, fazer compras ou sair com amigos. Já no sábado, a vida volta ao ritmo normal: as escolas reabrem, os escritórios funcionam normalmente e o trânsito em cidades grandes, como Teerã, retoma seu caos habitual.

Para quem viaja pelo Irã, essa mudança no calendário pode causar um pouco de confusão, então é bom planejar visitas a museus, bazares e outros serviços pensando nisso: se precisar resolver algo “burocrático”, evite sextas-feiras!

2. Mulheres devem usar o véu, mas não a burca

Curiosidades sobre o uso do hijab no Irã

Uma das imagens mais equivocadas sobre o Irã é a de mulheres cobertas da cabeça aos pés com burcas pretas. Na realidade, esse tipo de vestimenta é mais comum em países como Afeganistão e partes do Golfo Pérsico, não no Irã.

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No Irã, o que a lei exige das mulheres, inclusive estrangeiras, é o uso do hijab, um lenço que cubra os cabelos e parte do pescoço.

Além disso, espera-se que se usem roupas largas e que cubram braços e pernas, mas o estilo dessas roupas pode variar bastante.

Em cidades grandes como Teerã, Isfahan e Shiraz, é comum ver iranianas usando casacos modernos (às vezes bem acinturados), calças jeans justas e véus que mal se equilibram sobre o coque, quase caindo da cabeça. Iranianas de famílias mais ricas são super vaidosas, antenadas em moda e andam muito bem vestidas!

Muita gente também se surpreende ao ver o quanto as iranianas se expressam através da aparência: maquiagem elaborada, unhas decoradas, sobrancelhas perfeitamente feitas e até cirurgias plásticas. O Irã é campeão mundial em rinoplastia e não é raro ver mulheres andando com esparadrapos no nariz pelas ruas. Sinal de cirurgia recente!

Em um contexto onde a expressão pública do corpo é limitada, essas formas de vaidade acabam se tornando uma linguagem própria e até uma forma sutil de resistência.

Apesar da obrigatoriedade do véu, é importante lembrar que muitas mulheres no Irã se posicionam contra essa imposição. Nos últimos anos, protestos liderados por mulheres vêm ganhando força, com gestos simbólicos como tirar o hijab em público ou usar lenços brancos como forma de protesto silencioso.

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Elas muitas vezes “driblam” a imposição usando bonés, lenços deixando grande parte da cabeça à mostra e, em alguns casos, até saindo de casa sem nada na cabeça.

3. O Irã tem pistas de esqui e MUITA neve

Pode parecer surpreendente, mas o Irã é um excelente destino de inverno! Grande parte do país é formada por cadeias de montanhas, e algumas delas ultrapassam os 5.000 metros de altitude, como o monte Damavand, o pico mais alto do Oriente Médio.

Nos arredores de Teerã, capital iraniana, há várias estações de esqui que funcionam entre dezembro e abril, e com neve de verdade, daquelas que deixam tudo branquinho.

As mais conhecidas são Dizin, Shemshak e Tochal, com infraestrutura moderna, teleféricos, pistas para iniciantes e até resorts.

Esquiar no Irã também tem uma vantagem inesperada: é muito mais barato do que em destinos tradicionais como os Alpes ou o Colorado.

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Chá em mercado de Sananjdaj no Irã
Uma das inúmeras xícaras de chá que tomei no Irã

4. O Irã é considerado um dos países mais hospitaleiros do mundo

A hospitalidade no Irã não é apenas uma gentileza ocasional: ela faz parte da cultura, da identidade e até da tradição espiritual do país.

É muito comum ser parado na rua por desconhecidos curiosos que querem saber de onde você é, oferecer ajuda, tirar uma selfie ou convidar você para um chá que frequentemente vira um jantar, ou até uma noite na casa da família.

Essa generosidade vem de uma mistura de valores islâmicos, herança persa e uma filosofia chamada ta’arof, uma complexa etiqueta de cortesia em que o anfitrião se esforça ao máximo para agradar o convidado, mesmo que isso vá além do necessário.

A hospitalidade do povo iraniano
Essa senhorinha não falava uma palavra de inglês, mas me abraçou e ofereceu bebida, demonstrando a hospitalidade do povo iraniano

Para o viajante, pode ser um pouco desconcertante no início: você nunca sabe se a pessoa está oferecendo algo por educação ou se realmente quer que você aceite. Spoiler: muitas vezes, ela realmente quer.

A vontade de mostrar que o Irã é diferente do que o mundo vê nos noticiários também é forte, por isso eles vão fazer de tudo para você se sentir bem por lá! Muitos iranianos sentem orgulho em acolher estrangeiros, e enxergam o ato de receber bem como uma forma de resistência simbólica à narrativa ocidental.

Apesar de muitos serem contra o atual governo, eles amam seu país, sua cultura e história e fazem questão que você saia de lá com a melhor das impressões!

5. Iranianos não são árabes! E o país foi um dos berços da civilização

Essa é uma confusão comum fora do Oriente Médio: o Irã não é um país árabe. Embora o Irã esteja localizado na mesma região geográfica que vários países árabes, o povo iraniano é, majoritariamente, de origem persa, com sua própria língua (o farsi, ou persa moderno), costumes, tradições e um legado cultural que vem de muito antes da chegada do islamismo ao país.

O Irã é herdeiro direto do Império Persa, uma das civilizações mais antigas e influentes da humanidade. A antiga Pérsia já era um império poderoso quando Roma ainda nem existia, e sua contribuição para a ciência, filosofia, literatura, arquitetura e governança foi enorme.

Cidades como Persépolis, Yazd, Shiraz e Isfahan são verdadeiros museus a céu aberto, repletos de vestígios desse passado glorioso.

As ruínas do sítio arqueológico de Persépolis, no Irã

Além disso, o Irã é o berço de pensadores como Zaratustra, fundador do zoroastrismo, uma das primeiras religiões monoteístas conhecidas, e de poetas como Rumi, Hafez e Saadi, que até hoje são lidos e venerados no mundo todo.

Durante sua história, o país enfrentou invasões, revoluções e transformações radicais, mas manteve sua língua e identidade cultural intactas, uma prova da força da cultura persa.

Por isso, para os iranianos, ser confundido com um árabe pode soar até ofensivo: não por preconceito, mas porque apaga toda a singularidade de uma civilização que se orgulha (com razão) de sua própria trajetória.

6. O dinheiro iraniano é uma confusão só!

Trocar, pagar e até entender os preços no Irã pode ser um verdadeiro quebra-cabeça para quem está visitando o país pela primeira vez. Isso porque, além da inflação constante, o Irã tem duas formas diferentes de se referir ao dinheiro: o rial, que é a moeda oficial, e o toman, que é a unidade usada no dia a dia. A confusão começa aí.

Na prática, 1 toman equivale a 10 rials. Mas o problema é que praticamente tudo, do taxista à lojinha da esquina, usa preços em tomans, mesmo que as notas estejam impressas em rials. Ou seja: se alguém disser que algo custa “cem mil”, provavelmente está falando de cem mil tomans, ou um milhão de rials.

Confuso? Bastante. E para deixar tudo mais divertido, às vezes as pessoas simplesmente cortam os zeros e falam “cem”, aí você tem que adivinhar se é cem mil rials, cem mil tomans, ou cem rials mesmo.

Como se não bastasse, por conta das sanções internacionais, o sistema bancário iraniano é isolado do resto do mundo. Isso significa que cartões de crédito ou débito internacionais não funcionam no país, nem Visa, nem Mastercard, nem nada.

Todo o dinheiro que você pretende gastar durante a viagem precisa ser levado em espécie (geralmente em euros ou dólares) e trocado por rials em casas de câmbio locais.

A boa notícia é que o Irã costuma ser um destino bastante barato para turistas, principalmente os que viajam com moeda forte.

7. Redes sociais são bloqueadas no Irã, mas todo mundo usa mesmo assim

Você chega no Irã, liga o Wi-Fi do hotel, tenta abrir o Instagram… e nada. A mesma coisa acontece com WhatsApp, Facebook, YouTube, Telegram, X (Twitter) e diversos outros sites e aplicativos. Isso porque o país adota um sistema de censura na internet e bloqueia várias plataformas que considera “ocidentais” ou “antagônicas aos valores islâmicos”.

Mas aqui vai a parte curiosa: todo mundo usa essas redes sociais mesmo assim.

A chave está no uso generalizado de VPNs, programas que “enganam” o sistema e fazem parecer que o usuário está em outro país. Instalar uma VPN no celular é tecnicamente proibido, mas virou uma prática comum entre iranianos, inclusive entre pessoas mais velhas ou com menos familiaridade com tecnologia.

É como uma segunda natureza: você pergunta o Instagram de alguém e, sem hesitar, ela ativa a VPN e já abre o app.

Influenciadores iranianos produzem conteúdos com milhões de seguidores, o Telegram continua sendo uma das principais ferramentas de comunicação do país, e o WhatsApp é largamente utilizado para chamadas e mensagens. E até políticos e órgãos do governo mantêm contas ativas nas redes sociais que, oficialmente, são proibidas para o público, uma das muitas contradições do cotidiano iraniano.

Para turistas, a dica é simples: já baixe sua VPN antes de chegar ao país, porque a maioria das lojas de apps também é bloqueada. Algumas opções que costumam funcionar bem no Irã são Surfshark e Express VPN, ambas eu usei com sucesso na minha viagem.

8. Não existe álcool — mas existe cerveja (sem álcool)

Desde a Revolução Islâmica de 1979, o consumo, a venda e a produção de bebidas alcoólicas são oficialmente proibidos no Irã. Mas isso não significa que os iranianos abriram mão de beber algo parecido com cerveja: eles só adaptaram o paladar.

Tomando cerveja sem alcool no Irã
Tomando cerveja sem álcool no Irã

O que você vai encontrar por todo canto são cervejas sem álcool, chamadas de malt beverage (bebida de malte), e elas fazem um sucesso danado. Existem dezenas de marcas locais, como Istak e Delster, e uma infinidade de sabores, que vão muito além da tradicional versão “tipo pilsen”. Tem cerveja de pêssego, maçã verde, limão, cereja, abacaxi, tâmara e até mojito (sim, sem álcool e sem rum, mas com gostinho de hortelã e limão). É quase um refrigerante vitaminado, mas embalado em garrafa de long neck e com jeitinho de happy hour.

Agora, entre quatro paredes, rola, sim, um mercado informal de bebidas alcoólicas importadas ou feitas em casa. Eu mesma tive a oportunidade de tomar uma Becks contrabandeada e uma bebida alcóolica de fabricação caseira, oferecida por um pai de família iraniano como prova daquela hospitalidade que eu mencionei antes. Contei melhor essa história aqui.

Mas esse é um território sensível: o consumo é ilegal e pode gerar punições sérias, então, não sou eu que estou te aconselhando aqui a fazer o que eu fiz, ok?

E se a cerveja não tem álcool, o brinde com novos amigos iranianos continua sendo animado e festeiro. Só que, ao invés de “saúde”, você vai ouvir um sonoro “Salamati!”, que também significa “à saúde”.

9. Beijos e carinhos em público? Só entre homens!

Se você estiver passeando por uma praça ou bazar no Irã e vir dois homens andando de mãos dadas, trocando abraços apertados ou até beijos no rosto, não tire conclusões apressadas.

No Irã (e em várias outras partes do Oriente Médio e da Ásia Central), esse tipo de gesto não tem conotação romântica ou sexual: é apenas uma demonstração de amizade, afeto e companheirismo entre homens.

O que pode parecer estranho aos olhos ocidentais é, na verdade, uma forma culturalmente aceita de intimidade masculina, que existe justamente porque o espaço público é altamente regulado quando se trata de homens e mulheres.

Demonstrar carinho entre casais heterossexuais não é permitido e pode gerar repreensão. Até mesmo um aperto de mãos entre pessoas de sexos opostos pode ser malvisto.

10. O Irã tem um dos metros mais limpos do mundo

Se você gosta de transporte público organizado, prepare-se para uma surpresa boa: o metrô de Teerã é um dos mais limpos, eficientes e baratos do mundo. A capital iraniana tem uma rede extensa de linhas subterrâneas que conecta diferentes bairros, aeroportos e até cidades vizinhas. E tudo isso por preços extremamente acessíveis, mesmo para os padrões locais.

Os vagões são amplos, modernos, bem sinalizados e livres de lixo ou pichações. As plataformas são organizadas, com filas respeitadas e gente educadamente esperando os passageiros saírem antes de entrar. Em horários de pico, o metrô pode até ficar lotado, como em qualquer grande cidade, mas o comportamento coletivo costuma ser exemplar.

Outro detalhe interessante é que cada composição conta com vagões exclusivos para mulheres, identificados com adesivos e faixas coloridas. Eles são usados principalmente por mulheres que preferem mais conforto e privacidade, especialmente nos horários de maior movimento. Mas o uso é opcional: muitas preferem dividir os vagões mistos com amigos, parceiros ou colegas de trabalho, e ninguém é obrigado a se separar.

Para turistas, o metrô é uma excelente maneira de circular pela cidade, economizar tempo (e dinheiro) e observar o cotidiano dos iranianos.

FAQ sobre o Irã

1. É seguro viajar para o Irã?

Sim, para turistas, o Irã é considerado um dos países mais seguros do Oriente Médio. Claro, é importante acompanhar as notícias e respeitar as normas locais.

2. Precisa de visto para visitar o Irã?

Sim, brasileiros precisam de visto para entrar no Irã. O processo pode ser feito online ou em consulados. Há um post completo sobre isso aqui.

3. Mulheres podem viajar sozinhas para o Irã?

Sim! Muitas mulheres viajam sozinhas pelo país e relatam experiências positivas, apesar da obrigatoriedade do uso do hijab e algumas normas locais devam ser seguidas.

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Natália Becattini

Sou jornalista, escritora e nômade há mais de 14 anos. Desde 2010, produzo conteúdo sobre turismo cultural e experiências locais ao redor do mundo, com foco em narrativas autorais, sustentabilidade, imersão e o lado B dos destinos visitados. Fundadora do blog de viagens 360meridianos, também compartilho histórias na newsletter Migraciones , no Youtube e no Instagram. Desde 2024, sou Top Voice no Linkedin por meus insights sobre jornalismo, viagens, nomadismo e produção de conteúdo. Meu trabalho já foi destaque em veículos como Viaje na Viagem, TV Brasil, Exame, Correio Brasiliense, O Tempo, JC Online e Rock Content.

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