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Bairro Belleville, em Paris: multiculturalidade e arte no bairro de Edith Piaf

Uma placa de mármore sobre a porta da casa de número 72 da Rue de Belleville informa aos passantes que foi ali que, em 19 de dezembro de 1915, nasceu a cantora Edith Piaf. Foi nas ruas e cafés daquele bairro de operários e do bairro  vizinho, o Montmartre, que ela fez suas primeiras apresentações, na companhia de seu pai, também cantor. A voz que um dia tocaria o mundo, como conta a discreta placa, tocou primeiro os frequentadores de Belleville, em Paris.

Quando Piaf nasceu, Belleville era um bairro pobre que, após ser incorporado pela cidade em 1860, passou a receber famílias de classe baixa e imigrantes vindos da China e do norte da África em busca dos aluguéis baratos longe do centro. Hoje em pleno processo de gentrificação, passa a ser também ocupada por artistas, designers e estudantes – interessados também no DNA artístico e cultural do bairro -, mas a região ainda preserva essa pegada multicultural. Caminhar por ali é entrar em contato com a verdadeira essência da Paris atual, um lugar em que o mundo inteiro se encontra.

A atração mais famosa de Belleville é o Cemitério Père Lachaise. Ali estão enterrados alguns dos artistas mais importantes do século 20, como a própria Edith Piaf, o escritor Oscar Wilde e o músico Jim Morrisson. O cemitério se tornou local de peregrinação para fãs e curiosos e tem alguns fatos curiosos. É o caso da tumba de Victor Noir, um cidadão comum que ganhou uma enorme estátua de si próprio no momento de sua morte para enfeitar sua morada eterna. O escultor que fez o trabalho foi tão preciso que não deixou de fora nem mesmo a ereção póstuma do morto, o que ajudou torná-lo uma lenda: mulheres vão até ali para deixar flores para a estátua, beijá-la nos lábios e esfregar a genital em uma espécie de ritual de fertilidade. Não preciso dizer que as partes baixas de Victor já estão desgastadas de tantos esfregões, né?

Père Lachaise, na França  Jim Morrison, Père Lachaise

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A rue de Belleville, a mais importante do bairro, leva a uma colina – a mesma de Montmartre e da Sacre Couer -, a mais alta de Paris. Lá do alto, é possível ver a cidade se estender em todas as direções – e até mesmo se deslumbrar com a Torre Eiffel no fundo.

Os mirantes do Parc de Belleville são os melhores lugares para apreciar essa vista no fim da tarde. Quando o tempo está bom, o parque se enche de pessoas que vão ali para ler, bater papo ou praticar atividades ao ar livre. Os cafés e bares próximos aos mirantes, com suas mesas na calçada, estão sempre cheios e oferecem música ao vivo e outras atividades culturais.

Parc de Belleville

Parc de Belleville

O apartamento no qual Edith Piaf viveu por um ano, em 1933, localizado na Rue Crespin du Gast, 5, foi transformando no Museu Edith Piaf (site oficial). Com entrada gratuita, o lugar reúne objetos, cartas e fotos pessoais da cantora e permite que o visitante entre em contato com seu universo íntimo. Para visitar o museu é preciso agendar pelo telefone 00 33 (1) 43 55 52 72.

Aos domingos, aproveite para passear pela pequena feira que se arma no Boulevard de Belleville, e comprar alguns produtos locais direto com os produtores.

Rue de Belleville, Paris

Arte de rua em Belleville

A mistura entre a multiculturalidade e manifestações de arte formam a essência de Belleville. Ocupado por artistas das mais diversas partes do mundo desde os anos 1980, o lugar se encheu de painéis coloridos e intervenções artísticas que dão graça para as já charmosas fachadas e ruelas. A rue Dénoyez é um dos melhores pontos do bairro para observar essas obras e lembra bastante o Beco do Batman, em São Paulo. Praticamente todos os centímetros de parede, portas, janelas e até mesmo postes e hidrantes, receberam algum tipo de intervenção artística, transformando o lugar em uma pequena galeria a céu aberto.

Arte de rua em Belleville, Paris

 rue Dénoyez 

Outro importante lugar para a arte de rua em Belleville é o Le M.U.R.,na rue Oberkampf, 107. Desde 2003, a associação mantém um enorme painel ao lado de um café que acabou se transformando em um espaço oficial para arte de rua temporária. Um novo artista é convidado a colocar uma obra no muro a cada duas semanas. O novo trabalho substitui o anterior, perpetuando o conceito de obra de arte efêmera.

Le M.U.R. em Belleville, Paris

Graffitti no Le M.U.R em maio de 2018. Obras são substituídas a cada duas semanas.

Mas a arte de rua em Belleville não está limitada a esses dois pontos principais. Basta caminhar sem destino pelo bairro para se surpreender com obras grandes e pequenas, de artistas que vieram dos mais variados contextos e que têm temas e mensagens tão diversas quanto.

Cafés e restaurantes em Belleville

A gastronomia diversificada de Belleville permite dar uma volta ao mundo por suas ruas. O restaurante tunisiano divide a calçada com o chinês e com o vendedor de crepes, que está ao lado de uma barraquinha de kebab. O lugar mais tradicional é o Aux Folies (Rue de Belleville, 8), um dos primeiros palcos no qual Edith Piaf brilhou, quando o local ainda fazia parte do café-teatro Folies-Belleville. Apesar do nome célebre, o local resistiu ao raio hipsterizador e ainda preserva a atmosfera simples do bairro naqueles tempos, com cardápio barato e sem frescuras.

Quem procura por um autêntico bistrô francês pode passar pelo sempre cheio La Baratin (Rue Jouye Rouve, 3). O cardápio do lugar muda todos os dias, de acordo com os ingredientes que foram encontrados no mercado. Uma refeição completa, com vinho, sai por em torno de 30 euros. Mas cuidado! O local só funciona de terça a sábado.

Para provar um pouco dessa culinária internacional, a dica é o Tunis Tunis, restaurante tunisiano no Boulevard de Belleville, 116, que serve deliciosos iftars.

Vale a pena ficar em Belleville?

Muita gente vai dizer que não vale a pena se hospedar em Belleville porque o bairro é longe dos principais pontos turísticos e, de fato, é. Mas em uma cidade tão grande e com um sistema de transporte tão eficiente quanto Paris, essa distância quase não é sentida. Dá para chegar ao centro em meia hora, de metrô. Eu já estive em Paris quatro vezes e em todas elas me hospedei no Montmartre e em Belleville – e em nenhuma senti que minha viagem foi prejudicada pela distância ou deslocamento.

Se hospedando em Belleville, você terá um gostinho mais autêntico de Paris, longe das hordas de turistas que entopem vizinhanças mais tradicionais, como Marais, Quartier Latin e Etoile, além de pagar muito menos pela diária. O hotel mais famoso e badalado da região é o Mama Shelter, que também tem um bar que é um pequeno point na vida noturna local. Para encontrar preços baixos (para padrões parisienses) e conforto, experimente o Beautiful City Belleville.

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Natália Becattini

Sou jornalista, escritora e nômade. Viajo o mundo contando histórias e provando cervejas locais desde 2010. Além do 360meridianos, também falo de viagens na newsletter Migraciones, no Youtube e em inglês no Yes, Summer!. Vem trocar uma ideia comigo no Instagram. Você encontra tudo isso e mais um pouco no meu Site Oficial.

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