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A aventura que é cruzar Florianópolis sem carro

Eu já morei em duas metrópoles brasileiras e testei o sistema de transporte público de algumas das maiores cidades do mundo, tipo Mumbai, Nova Délhi e Hong Kong. Poucas vezes fiquei tanto tempo em trânsito como durante o fim de semana que passei em Florianópolis, em abril – e olha que nem enfrentei engarrafamentos. Mesmo assim, foi só na capital catarinense que tive que pegar quatro (!!) ônibus para voltar ao hostel. Foi aí que entendi na prática uma frase que já tinha ouvido algumas vezes: Florianópolis é uma cidade fantástica, daquelas que todo brasileiro precisa conhecer, mas para ser descoberta profundamente o viajante precisa estar de carro. Eu não estava.

Para mim o problema começa pelo Sistema Integrado de Transporte, ou simplesmente SIT. Inaugurado há cerca de 10 anos, o SIT parece ser uma daquelas ideias incríveis que na prática funcionam mal. Muito mal. Em Floripa, os ônibus estão organizados no esquema de um metrô. Foram construídos nove terminais de integração. Os ônibus do SIT circulam entre eles, o que obriga o usuário a fazer baldeação, trocando de veículo num terminal para seguir até outro.

A vantagem desse esquema é que não é preciso pagar a mais para fazer a troca – uma vez dentro do sistema, as baldeações entram no preço de apenas um bilhete. A desvantagem óbvia é que ônibus não é metrô. Ônibus anda mais devagar, passa numa frequência muito inferior e ainda pode ficar preso em engarrafamentos.

Florianópolis sem carro

Num sábado, Floripa com trânsito bom

“Como fazemos para ir ao centro?”, perguntamos para um funcionário do hostel onde ficamos. “Vocês pegam o ônibus na rua de trás e seguem até o terminal Lagoa da Conceição. De lá, trocam de ônibus e vão até o terminal central”. Até aí tudo bem: uma baldeação. Nós pagaríamos passagem só uma vez, tranquilo… Só que depois de conhecermos o centro da cidade resolvemos dar um pulo até Jurerê Internacional. Pronto: mais duas baldeações. Para voltar ao hostel, no fim do dia, não era possível seguirmos de Jurerê para a Barra da Lagoa – era preciso fazer as quatro baldeações até a Barra da Lagoa, o que levou cerca de duas horas. Isso num sábado, sem trânsito. Imagina se tivéssemos enfrentado um engarrafamento?

Ponto de ônibus em Florianópolis

Naty e Lu num ponto de ônibus, em Floripa

A adoção do SIT foi uma das causas das revoltas da catraca, um importante capítulo da história recente de Florianópolis. Para provar o ponto, segue o depoimento de um blog local, que você acha completo aqui: “O Sistema Integrado de Transportes foi inaugurado em agosto 2003. A recepção negativa por parte da população foi evidente: os percursos ficaram mais complicados e demorados, devido ao acréscimo de baldeações desnecessárias”.

Como turistas, achamos o sistema ineficiente, confuso e demorado. Mas esse não é o único problema do transporte público da cidade. Como acontece em muitas capitais brasileiras, Floripa não tem metrô, o que torna os usuários reféns do busão. Mas a coisa piora: também é preciso lutar para garantir um táxi.

Quatro baldeações depois e chegamos na região do terminal Santo Antônio de Lisboa. Queríamos ir ao Forte de São José da Ponta Grossa. Para isso, resolvemos pegar um táxi (cinco ônibus nem pensar). Mas cadê o táxi? Andamos, andamos, andamos… e nada! Foi necessário algum esforço para achar um taxista, que logo confirmou nossas suspeitas. “São pouquíssimos taxis para atender toda essa região da ilha. Em alta temporada tem até quem brigue pelo carro”, garantiu ele.

Carro Florianópolis

Tudo isso nos ensinou duas coisas: Vai visitar Florianópolis? Considere alugar um carro. Isso facilitará o deslocamento pela cidade, permitindo que você conheça várias regiões. Se alugar um carro for impossível, então a saída é escolher muito bem o local onde você vai ficar hospedado, já que trocar de região é uma tarefa complicada. Depois de passarmos cerca de quatro horas dentro de vários ônibus (ida e volta) no dia seguinte resolvemos ficar na praia. Nem saímos de perto da Barra da Lagoa, onde podíamos chegar a pé partindo do nosso hostel.

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Rafael Sette Câmara

Sou de Belo Horizonte e cursei Comunicação Social na UFMG. Jornalista, trabalhei em alguns dos principais veículos de comunicação do Brasil, como TV Globo e Editora Abril. Sou cofundador do site 360meridianos e aqui escrevo sobre viagem e turismo desde 2011. Pelo 360, organizei o projeto Origens BR, uma expedição por sítios arqueológicos brasileiros e que virou uma série de reportagens, vídeos no YouTube e também no Travel Box Brazil, canal de TV por assinatura. Dentro do projeto Grandes Viajantes, editei obras raras de literatura de viagem, incluindo livros de Machado de Assis, Mário de Andrade e Júlia Lopes de Almeida. Na literatura, você me encontra nas coletâneas "Micros, Uai" e "Micros-Beagá", da Editora Pangeia; "Crônicas da Quarentena", do Clube de Autores; e "Encontros", livro de crônicas do 360meridianos. Em 2023, publiquei meu primeiro romance, a obra "Dos que vão morrer, aos mortos", da Editora Urutau. Além do 360, também sou cofundador do Onde Comer e Beber, focado em gastronomia, e do Movimento BH a Pé, projeto cultural que organiza caminhadas literárias e lúdicas por Belo Horizonte.

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17 comentários sobre o texto “A aventura que é cruzar Florianópolis sem carro

    1. Eu fui assim, Margareth. Os ônibus demoram, mas dá pra superar isso. Parece que também há uber e cabify por lá.

      Abraço.

    2. Oi Margareth!! Moro aqui em floripa ha 3 anos e sugiro você se deslocar de Uber pela ilha, é bem mais pratico e barato porque se você for alugar carro o estacionamento no centro é caro. Agora, caso você pretenda conhecer as praias do continente, tipo guarda do Embau, praia do rosa, Governador Celso Ramos, aí sim aconselho a alugar um carro!

      Espero ter contribuído! Um abraço!

  1. Com certeza de carro deve ser melhor, mas como eu não tinha essa opção fiz muita pesquisa e consegui me locomover razoavelmente bem na ilha de ônibus.
    Fiquei hospedada no centro, para ter maior facilidade de locomoção para qualquer área da ilha. Ao invés de pegar o ônibus cujo o sistema é tipo de metrô que vcs falaram, de ter que descer e entrar em outro, eu peguei o chamado ônibus executivo. A passagem é um pouco mais cara, R$7,25 . Mas o ônibus é confortável, tem ar-condicionado e te leva direto ao seu destino. Saindo do terminal Cidade de Florianópolis, no centro da cidade ao lado da praça XV tem Executivo Jurerê, Ingleses, Barra da Lagoa… Usei esse meio para conseguir conhecer ao máximo da ilha sem carro e recomendo. Os horários dos ônibus executivos e de qualquer outro ônibus pode ser conferido no aplicativo BusMaps Floripa, baixei no PlayStore. Nesse aplicativo vc coloca onde vc está e onde vc quer ir, traçando uma rota no mapa de Floripa. Aí o aplicativo te mostra quais ônibus fazem aquele trajeto escolhido. Foi assim que descobri os executivos. Bom passeio a todos e usem o aplicativo que ajuda muito!

  2. Gostei muito do seu site, e concordo que o sistema de transporte publico em Floripa e complicado. Mas como uma viajante experiente, devia saber que um pouco de planejamento ajuda para aproveitar o passeio.
    Primeiro, porquê a região Leste da Ilha, realmente

    1. Complementando… a região leste da Ilha possui um acesso dificil e limitado. E o tipo de lugar para ir e ficar por lá, sair o minimo possivel. Seu roteiro, querer ir ao centro e depois a Jurerê Internacional, saindo da Lagoa, e parecido com fazer isso no Rio, visitando o Centro e a Barra da Tijuca num mesmo dia. Irá chegar, mas ficará a maior parte do tempo no trânsito. E estando em Jurerê, a forma mais facil de ir ao Forte seria dali mesmo de táxi. O problema e encontrar um Taxi por ali, e nesse ponto concordo com você.

  3. Uma sugestão para quem visita Floripa com tempo curto é conhecer apenas uma região da ilha (sul, norte, Lagoa etc). Além dos problemas no sistema de transporte, as distâncias na ilha normalmente são elevadas e o trânsito é intenso durante a semana ou temporada, o que torna o deslocamento um problema para turistas e moradores. Cada região tem atrativos de sobra de entretenimento. No sul da ilha estão as praias mais conservadas e com estilo mais rústico, além das que só é possível chegar pelas trilhas; na Lagoa e leste da ilha tem as praias mais badaladas do verão: Mole e Joaquina (atenção no verão aqui, pois mesmo sendo tudo próximo as vezes fica tão cheio que é mais rápido andar a pé do que de carro). Na Lagoa estão boas opções de bares e restaurantes; no norte da ilha ficam as praias mais habitadas: Jurerê, Canasvieiras e Ingleses que são boas para quem gosta mais de um estilo mais urbano. Sei que as vezes queremos conhecer o máximo possível do lugar mesmo com o tempo restrito, mas Floripa sendo uma cidade com trânsito intenso e de longas distâncias isso se torna difícil mesmo com carro.

    1. Realmente, Fábio, muitas vezes é melhor escolher só uma região e ficar por lá, sem pressa para conhecer tudo num tempo corrido. Ótimas dicas!

  4. É por isso que todas as pessoas que passaram por Floripa se encantam quando conhecem Balneário Camboriu. Temos muitos problemas com o trânsito no verão e o transporte público é ineficiente, mas se aproveita muito mais a viagem.

    1. Balneário é muito legal também, José. Mas esses probleminhas, típicos do Brasil, definitivamente não tiram o brilho de Floripa e nem de Balneário. Santa Catarina é um estado fantástico!

      Abraço!

  5. Em 2011 vim passear em floripa e como a maioria, me apaixonei pela ilha e resolvi ficar. Hoje eu moro na Barra da Lagoa, por ser um lugar tranquilo e próximo das praias do leste (as que e considero as mais lindas). E realmente, transporte público aqui é um caos em dias normais, imagina no verão?! Mas, como nem tudo é perfeito, acredito que vale a pena conhecer esse paraíso, se for de carro, melhor ainda, hahahaha.

    1. Oi Amanda,

      Obrigado pelo comentário. Sem dúvida, Floripa é fantástica! Te entendo perfeitamente, tive vontade de morar em Barra da Lagoa quando estive aí. O transporte público é sim um problema, mas nada que tire a beleza da cidade.

      Abraço!

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