Quando recebi a notificação no celular de uma promoção de passagem aérea para o Japão, achei que aquilo era bom demais para ser verdade. Ida e volta com taxas por pouco mais de R$ 2600. Graças à liberação do FGTS, esse valor cabia no meu bolso. Mas não na minha agenda. Eu trabalhava numa equipe de três pessoas numa editora de livros, e era meio difícil marcar as férias assim, sem checar com o resto do pessoal e sem passar por diversas instâncias de aprovação.
O tempo que eu levei pensando em todo esse processo foi o suficiente para a promoção acabar. Jurei que a próxima vez que surgissem passagens para o Japão por menos de R$ 3 mil, eu compraria. Não passou nem uma semana e veio: R$ 2200, com taxas inclusas. Não olhei para o calendário, não consultei os colegas, não fiz contas, não pensei em mais nada. Barato demais, eu pensei. A alegria diminuiu um pouquinho depois de algumas pesquisas. “O Japão foi o lugar mais caro que já visitei”, li em algum lugar. Fuén.
Quando convidei a Luíza aqui do 360meridianos para ir comigo, ela me perguntou “quanto você está pensando em gastar por dia?”. Eu não fazia a menor ideia de como calcular isso. Segundo as pesquisas da Luíza, o gasto médio seria algo em torno de 95 euros por dia. Abri a calculadora e multipliquei isso por 16 (o número de dias que eu ficaria lá). Não fiquei muito feliz com o resultado dessa conta. Sofri quando percebi que minha viagem baratíssima de duas semanas custaria quase R$ 10 mil.
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Conheça o Japão sem contratar um guia
Mas, veja bem, o Japão era o meu destino dos sonhos. Queria conhecer esse país desde que era pequeno, influenciado por muitas horas de Pokémon no GameBoy e tokusatsus na TV. Aquela viagem TINHA que caber no meu orçamento. A essa altura, a passagem já estava comprada. Então, eu não tinha muita opção a não ser fazer dar certo. O que eu descobri, e que agora compartilho, é que o Japão é caro, sim, mas é mais barato do que eu imaginava.
Levando em consideração essa pesquisa inicial e a previsão de 95 euros/dia da Luíza, cheguei a um cálculo (um pouco aleatório) de R$ 300 reais por dia, mais ou menos (sem contar o dinheiro já gasto no Brasil com passagem, internet, passe de trem e visto). Resultado: para passar 16 dias no Japão, comprei 170 mil ienes. Esse valor cobriria todas as minhas hospedagens, previamente reservadas, e todos os passeios que planejei fazer, além de um tantinho bom para experiências gastronômicas e outros transportes não cobertos pelo JR Pass (como o metrô e alguns ônibus).
Cabe aqui um parênteses, antes de explicar meu orçamento. Costuma ser mais recomendado comprar dólares e trocar pela moeda japonesa lá. Mas eu sou muito descontrolado com dinheiro e meio ruim de matemática, achei que seria mais simples já levar o dinheiro japonês, por mais que isso me fizesse perder com o câmbio (os 170 mil saíram por R$ 5300 numa agência em São Paulo).
Saí do Brasil com os seguintes gastos:
Passagem: R$ 2180
JR Pass válido por 14 dias: R$ 1444,60
Pokcet Wi-Fi: R$ 300
Visto: R$ 97
Ienes: R$ 5300
Total: R$ 9321,60
Bastante, né? Pelo menos, para mim, pareceu uma fortuna descomunal, na qual eu tentei não pensar muito enquanto estava lá.
100% de boa na lagoa (na verdade era um canal)
Hora da verdade: gastos de viagem no Japão
O planejamento tava lá, bonitinho. Mas, na prática, a teoria é outra. Num sistema de valores tão diferente, a gente demora um pouco até ter noção do que é caro e o que é barato, e acaba fechando a mão no início. Eu tinha apenas 17 notas de 10 mil ienes, e fiquei meio assustado com a possibilidade de aqueles poucos papeizinhos acabarem antes do fim da minha viagem. Aí acabei fazendo algumas compras no cartão de crédito nos primeiros dias – algo que eu queria muito evitar.
Grande bobagem. No meio da viagem eu já tinha percebido que ia SOBRAR dinheiro. Isso porque os blogs que me disseram que eu gastaria R$ 300 por dia não me contemplavam. Os relatos eram, na grande maioria, de casais. Eu, que viajava sozinho, não fiquei nenhuma vez em quarto individual, por exemplo, o que já barateia bastante as coisas. Não me hospedei em ryokans (tipo de pousada tradicional em que as pessoas dormem em tatames) porque não tive vontade. Apesar de gostar muito da comida japonesa, só comi uma vez em um restaurante mais arrumado – todas as outras vezes me virei com produtos comprados em lojas de conveniência e restaurantes mais populares, tipo fast foods japas. Economizei bastante com passeios também, porque não sou o maior fã de templos e castelos. Prefiro caminhar nas praças e ver as pessoas nas ruas – e isso sai de graça.
Acariciar os cervos que ficam soltos num parque de Nara: não tem preço (sério, foi de graça.)
No fim das contas, eu descobri que dá para gastar bem menos no Japão, sem ter que passar fome e sem se hospedar em muquifos. Depende apenas do seu perfil de viagem. Nos últimos dias, eu não sabia mais como gastar aquele dinheiro todo que levei. Acabei comprando umas coisas mais caras e duráveis, tipo um fone de ouvido sem fio e uma mala nova.
Mas foi até bom. A preocupação com o dinheiro me levou a fazer outra coisa inédita: anotar TUDO em planilha no Google Drive. Qualquer água que eu comprava, ia lá e escrevia o valor. Claro que, no fim, a conta não bateu certinho – provavelmente esqueci de anotar uns gastos ou perdi umas moedas pelo caminho. Mas a planilha me ajudou muito a me controlar e a escrever este texto. E, agora, chegamos ao que realmente importa. Vamos por tópicos:
Passagem para o Japão
Eu aproveitei uma promoção imperdível da Aeroméxico, que me levou e me trouxe de volta por R$ 2180. Só uma vez na vida eu tinha visto uma passagem para o Japão tão barata, mas já faz muitos anos, numa época em que o dólar não estava tão alto. Normalmente, R$ 2800 pelos dois trechos, com taxas inclusas, já costuma ser considerado um bom valor. Qualquer coisa menos do que isso já é ótimo.
Alimentação
Por volta de 2300 ienes/20 dólares/17 euros por dia.
Menu completo em Kanazawa: udon + “salada” + sobremesa por 1200 ienes.
Uma sopa de macarrão (lamen, udon ou soba) sai por mais ou menos 800 ienes. A mais barata que comi foi 600. A mais cara, 1200. Um prato de comida médio com arroz, alguma carne e outro complemento numa 7Eleven da vida sai por uns 400 ienes. Você paga mais ou menos 1000 ienes por um almoço com sushi. Uma água ou refrigerante nas vending machines (tem pelo menos uma a cada esquina nos bairros mais centrais) fica no máximo 200 ienes. Sinceramente, achei isso tudo bem mais barato do que eu tinha imaginado.
Eu gosto muito de experimentar coisas novas. Então, todo dia, comprava pelo menos uma bebida ou comida sem saber o que era, julgando apenas pela embalagem. Se você evitar essa gastação, pode economizar aí uns bons 400 ienes por dia. Mas eu acho que você deveria se jogar nas vending machines, como eu.
Hospedagem
Por volta de 2500 ienes/22 dólares/19 euros por dia.
A hospedagem, por outro lado, é carinha mesmo. Eu decidi não ficar em hotéis-cápsula (aqueles quartos minúsculos que só cabe você deitado) porque achei que o valor não era muito menor do que uma cama em quarto coletivo de hostel. Para quem viaja sozinho e não liga de compartilhar quarto, não compensa ficar em AirBnB (todos os que eu encontrei achei caros). Pode ser uma experiência legal ficar em ryokan também, mas não foi o meu caso, e não tenho o que dizer a respeito. Pelo que vi, os primeiros resultados na busca do Booking.com chegam a custar US$ 250 dólares, ou 27 mil ienes.
A parte boa é que todos os quartos compartilhados em que eu fiquei tinham camas com cortinas, o que garantiu privacidade a todo momento. Quase todos têm lockers para guardar a bagagem e tomadas próximas à cama.
O preço varia de acordo com a região e a cidade também. A diária mais barata que paguei custou 2000 ienes, num hostel bem legal em Hiroshima. A mais cara saiu por 3800 numa guesthouse em Shirakawa-go (que também foi o pior lugar entre os sete nos quais me hospedei).
Casas tradicionais em Shirakawa-go, uma cidade bonitinha, porém ordinária.
Nas minhas pesquisas, descobri que é possível passar a noite em cybercafés por menos de 1000 ienes. Além de lugar para dormir, eles costumam ter vending machines com comidinhas e bebidas para consumir lá dentro. Só não me aventurei porque já tinha feito todas as reservas pelo Booking.com antes de tirar o visto, e fiquei com preguiça de cancelar e sair por aí com 30 kg de bagagem nas costas batendo na porta dos outros. E ouvi por aí também que os cybercafés não aceitam qualquer pessoa. Podem olhar para a sua cara (e, no meu caso, para as tatuagens – algo meio mal visto entre japoneses mais tradicionais) e simplesmente impedir sua entrada.
Transporte
Por volta de 800 ienes/7 dólares/6 euros por dia (+ JR Pass).
Se o seu roteiro incluir cidades mais distantes de Tóquio, como Hiroshima ou Kanazawa, o JR Pass será bem importante. Ele é um papel que te dá acesso a todos os trens identificados com as letras JR. É só mostrar para um funcionário da estação ao lado da catraca e você pode entrar e sair a qualquer momento. Poucas vezes na vida me senti tão VIP. Além da Yamanote Line, uma linha de trem circular que leva a todos os maiores bairros de Tóquio, o JR Pass também vale para trens-bala intermunicipais, alguns ônibus e até uma balsa que liga Hiroshima a Miyajima. Quando comprei, ainda no Brasil, o passe de 14 dias foi R$ 1444,60.
Trem-bala: “Não é sobre ter todas as pessoas do mundo pra siiii…” (Foto: Callflier001 – Creative Commons 2.0)
Mas ele não cobre tudo, lógico. Para entrar nos metrôs e nos ônibus que não são da JR, tem que comprar bilhetes ou cartões, como todos os mortais. Mas não é um gasto tão grande assim. Com menos de 800 ienes por dia, dá para se virar e ir a qualquer canto das cidades. Essa média também inclui o Narita Express, uma passagem que liga o aeroporto internacional ao centro de Tóquio e que custa mais de 3 mil ienes. Ou seja, o gasto real do dia a dia é bem menos de 800.
Passeios e atrações
Por volta de 1000 ienes/9 dólares/7 euros por dia.
Aqui, vale outro parênteses. Tudo o que eu não gastei com museus e castelos eu investi em um grande passeio: o Universal Studios Japan, em Osaka. Sou muito fã de Harry Potter e não poderia perder a oportunidade de visitar Hogwarts. No meu caso, os mais de 7 mil ienes da entrada do parque foram muito bem gastos (achei que foi até barato para o tanto que me diverti lá). Mas entendo que não é todo mundo que vai querer gastar tanta grana com isso.
Hogwarts é logo ali!
Então, pode jogar esse valor para menos. Fora o Universal e o museu do Studio Ghibli (cuja entrada eu comprei ainda no Brasil, por 1000 ienes), o passeio mais caro que eu fiz foi a Daikanransha, uma roda-gigante de 115 metros de altura em Odaiba, Tóquio. Custou 920 ienes e me rendeu uns bons stories no Instagram (apesar de que a vista não foi lá essas coisas por causa do tempo chuvoso). De todo modo, outros passeios, como jardins e templos, saem por no máximo 500 ienes. Considerei nessa previsão gastos que tive dentro dessas atrações turísticas, como uma bicicleta que aluguei por 100 ienes em Arashiyama, e um bilhetinho da sorte que comprei por 200 num templo budista.
Necessidades básicas
Por volta de 900 ienes/8 dólares/7 euros por dia.
Incluí nesse item os mais de 10 mil ienes que gastei na contratação de um pocket wi-fi. Trata-se de um modem móvel que você carrega na mochila e faz com que você tenha internet infinita em qualquer lugar. Eu considerei esse um item de necessidade básica, porque me deu muita segurança ao andar pelas ruas sem conseguir ler as placas. Qualquer dúvida, era só checar o Google Maps. A internet me salvou de ficar perdido numa estrada deserta sem iluminação à noite em Shirakawa-Go. Também me ajudou a traduzir um cardápio que não tinha fotos das comidas em Kurashiki. Se eu fosse você, contrataria um Pocket Wi-Fi também. Comprei o serviço no Brasil neste site aqui, peguei o aparelho assim que cheguei ao aeroporto (eles deixam um envelope numa agência de correios com o seu nome, é só mostrar o passaporte), e devolvi no dia da volta, na mesma agência dos correios.
Fora a internet, coloquei nessa planilha outras comprinhas que tive que fazer, como um guarda-chuva (590 ienes), um fio dental (400 ienes) e uma bolsa à tiracolo (3000), porque não estava mais aguentando andar com mochila nas costas. Ou seja, é sempre bom se preparar para alguns imprevistos.
Presentes/coisas supérfluas
Por volta de 4000 ienes/35 dólares/30 euros por dia.
Tá aqui um item que você pode simplesmente cortar da sua lista quando for fazer o orçamento. Eu gastei um dinheirão com presentes para meus sobrinhos e chocolates de sabores diferentões. Também visitei três lojas especializadas em coisas do Pokémon e do Studio Ghibli, porque sou desses. Pirei nas papelarias japonesas e nas lojas de eletrônicos. Comprei até um carregador portátil do Pikachu e um urso de papelão para enfeitar a parede do meu quarto.
Lá no Japão, a maior parte das grandes lojas dá um desconto de 8% em isenção de taxas se você mostrar o passaporte na hora de pagar. Esses descontos são bem maravilhosos. Mas, se você quiser mesmo economizar, é só tirar esse gasto diário com souvenirs da sua vida. Faz muuuuita diferença.
Quanto custa viajar para o Japão
Recapitulando. A minha viagem para o Japão saiu cara. Fora os R$ 9300 do orçamento inicial que expliquei lá em cima, gastei mais ou menos R$ 700 no cartão de crédito, o que dá um total de R$ 10 mil. Mas isso porque eu enchi a mala de coisas supérfluas, e ainda fui meio trouxa em alguns momentos. Sem contar a passagem de ida e volta, gastei US$ 128 por dia. Ou seja, mais de R$ 400 reais (ou 108 euros) por dia – um valor bem superior à previsão de 95 euros por dia que tinha me assustado tanto.
Mas, sem tantos presentes e gastos inúteis, o orçamento teria ido para US$ 87 (ou 73 euros) por dia. Se eu não tivesse ido à Universal, a economia seria ainda maior. O gasto teria sido de US$ 82 (ou 69 euros) por dia.
Não me arrependo dos meus gastos. Achei um valor apropriado para um sonho de vida, e conheço gente que gasta o mesmo tanto numa viagem à Europa. Mas tenho plena consciência de que conseguirei gastar ainda menos quando outra promoção de passagens maravilhosa aparecer. Porque a certeza de que vou voltar para o Japão algum dia eu já tenho.
Atenção: Não recomendamos que você vá para o Japão sem um seguro de viagem. Veja aqui como garantir um seguro com boa cobertura (e cupom de desconto).
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Olá Otávio tudo bem ?
Estou planejando ir para o Japão, mas preciso de algumas informações.
Oi Otávio!
Tudo bem?
Onde você comprou JR PASS e o Pocket de WIFI?
Estarei visitando o Japão em maio e já queria providenciar isso.
Outra dúvida, 150 mil yenes é pouco para 3 pessoas?
Oi Otavio, belê? Por que é melhor comprar dólar pra levar é trocar lá por ienes? Euro também é bom?
Boa Noite Otavio, planejo viajar para o Japão em fevereiro, e meu orçamento total é 13.000 Reais, você acha que é o suficiente? e o que você recomenda? levar dólares ou comprar ienes? cara em relação a isso estou perdido.
Oi, Izaque! Me desculpe pela demora. Espero que sua viagem (é esse mês, né?) seja incrível. Recomendo levar dólares 😉
E acho o orçamento ok, mas precisava saber quanto tempo vai ficar e o que está interessado em fazer 😉
Cara, que texto perfeito! Muito bem explicado, com os orçamentos (coisa que tb não sei fazer) e dicas legais. Quando eu for pro Japão com certeza esse post vai ajudar no planejamento.
Parabéns, Otávio.
Obrigado <3
Quando for, me conte! (E me leve haha)
Olá Otávio ! Tudo bem ?
Esse ano vou para o Japão e gostaria de saber como você conseguiu comprar o ingresso do museu do Studio Ghibli aqui no Brasil ? Estou querendo comprar mas achei que fosse impossivel comprar aqui no Brasil.
Oi, tudo bom? Me desculpe pela grande demora! Será que ainda dá tempo? Então, comprei no site mesmo do ghibli. Mas só dá para comprar com um mês de antecedência. Por exemplo, os ingressos de novembro só podem ser comprados no início de outubro. Então tem que ficar esperto. Vou escrever um texto sobre o ghibli logo!