Serro, MG: queijos e igrejas num diamante esquecido da Estrada Real

Do alto de uma longa escadaria envolvida por um jardim, uma simpática igrejinha vigia o Serro, MG. Construída no século 18, a Igreja de Santa Rita tem o jeitão necessário para ser cartão-postal – ou foto das mais curtidas do Instagram. E até é assim, mas com um porém. O Serro, em Minas Gerais, é a prova de que a Estrada Real ainda tem muitos diamantes escondidos por aí.

Conhecida nacionalmente pela produção de queijo, o grande rival do Canastra, o Serro é também uma das cidades históricas mais antigas de Minas – e, por consequência, do Brasil. Nasceu antes da vizinha mais famosa, Diamantina. Se ainda não alcançou seu sucesso e nem foi declarada Patrimônio Mundial da Humanidade, o Serro certamente merece ser mais conhecido pelos brasileiros. Taí a Igreja de Santa Rita para provar.

Serro, MG: o que fazer e pontos turísticos

“Cidade encantada que parou no tempo”. A frase, orgulhosamente conhecida pela população do Serro, é do arquiteto Silvio de Vasconcelos. Diz a lenda que a constatação veio justo quando ele estava no alto da escadaria e de frente para a Igreja de Santa Rita. Reformado várias vezes ao longo dos séculos, esse templo foi a principal razão para que o Serro fosse a primeira cidade declarada pelo Iphan como Patrimônio Histórico do Brasil, em 1938.

Escadaria abaixo está o centrinho da cidade – por ali ficam a Casa de Pedro Lessa, erguida em meados do século 19, o Sobrado da Prefeitura, com suas duas dezenas de janelas azuis, e a Igreja de Nossa Senhora do Carmo, construída a partir de 1768.

Seguindo pela mesma rua, a poucos metros dali estão a Casa do General Carneiro, outro casarão colonial, a Antiga Casa da Câmara, a Casa de João Pinheiro – um importante político mineiro já no período republicano – e a Igreja Matriz de Nossa Senhora da Conceição, que tem alguma influência da Igreja de São Francisco de Assis, em Ouro Preto.

Para completar a lista de atrações, desça para a rua Padre João Moreira. Ali estão a Casa do Barão de Diamantina e a Chácara do Barão do Serro. Descendo a Ladeira da Matriz você chegará ao Museu Casa dos Otoni, que guarda móveis e objetos dos séculos 18 e 19. Ao lado dela está outro templo, o de Bom Jesus do Matozinhos, erguido em estilo rococó.

Por fim, na parte de cima da cidade estão a Capela de São Miguel e a Igreja de Nossa Senhora do Rosário. Como deu para perceber, o centro histórico até que é grandinho, mas pode ser visitado tranquilamente numa tarde.

Queijo do Serro

Trazida ao Brasil pelos portugueses e com inspiração no queijo da Serra da Estrela, o queijo do Serro foi, junto com produtos de outras regiões de Minas, declarado pelo Iphan como Patrimônio Imaterial do Brasil. Os mais básicos são facilmente encontrados em qualquer supermercado do país, mas vale a pena aproveitar a viagem para abastecer a geladeira com queijos premiados e que ali podem custar metade do preço pedido em outras cidades.

A Cooperativa do Serro tem um supermercado que funciona em frente à antiga rodoviária, hoje transformada em feira (e por ali também funciona outra loja de queijo). Na mesma rua fica a Casa de Túlio Madureira, outro produtor premiadíssimo. Por fim, há na cidade um Salão do Queijo. Neste link você encontra um guia de onde comprar queijo no Serro.

Quando ir

A cidade pode ser visitada o ano inteiro. Mas se a ideia for fugir das chuvas, o ideal é ir entre abril e outubro – essa é uma boa saída principalmente para quem vai fazer um roteiro maior e envolvendo as muitas cachoeiras da região.

Uma boa ideia é combinar a ida no período em que estiverem ocorrendo as famosas vesperatas na vizinha Dimantina. Não por coincidência a festa acontece justo no período de poucas chuvas na região, mas fique atento, porque não é em todo final de semana.

Serro, MG: Onde ficar

Por geralmente ser incluída no roteiro como um bate-volta a partir de Diamantina ou mesmo como uma parada de estrada, no deslocamento para ou da cidade do JK, o Serro não tem uma grande rede hoteleira. Se resolver dormir lá, duas alternativas bem localizadas são a Pousada da Mariana e a Pousada do Queijo.

Veja mais opções de pousadas no Serro 

Onde comer no Serro

Se o número de pousadinhas ainda é limitado, o de restaurantes é ainda mais. Há alguns buffets por quilo bons e baratos e que são opções para quem quer comida caseira (e mineira). Eu fui no Rancho Serrano e atendeu bem: só procurávamos um lugar para almoçar antes de pegarmos estrada novamente.

Outro simplão, mas honesto e bastante recomendado, foi o Restaurante Dodoia e Juninho. Para quem pretende passar a noite lá, o Confraria Serrana tem a fama de ser o único estabelecimento mais elaborado da cidade.

Serro MG

Como chegar no Serro, MG

Dá para ir de ônibus, partindo de Belo Horizonte. Duas empresas fazem a rota, ambas com saídas a partir do Terminal Rodoviário e com duração de cerca de 6 horas. As passagens da Saritur e da Viação Serro custam entre R$ 80 e R$ 100. A partir de Diamantina quem opera o trecho é a Pássaro Verde, que cobra R$ 24 pelas passagens e gasta 2h20 na viagem.

A não ser que você não possa ou não queira dirigir, vale considerar ir de carro, principalmente para quem viaja acompanhado. Além do alto preço das passagens de ônibus, estar de carro facilita o deslocamento entre cidades menores e permite um roteiro mais amplo, como explicarei abaixo. Se optar por alugar um carro, veja nosso guia de como fazer isso garantindo o melhor custo/benefício.

Como chegar no Serro de Belo Horizonte

A partir de Belo Horizonte há duas opções. O caminho mais prático é, sem dúvidas, o mais longo. 330 km separam Belo Horizonte do Serro, pelas BRs 040, sentido Sete Lagoas, depois em direção ao trevo de Curvelo, pegando a 135 e em seguida a 259. Espere gastar entre 4h e 4h30 nesse trecho, que é todo asfaltado e está bem conservado. O único trecho com pedágio é no começo da 040, ainda perto de BH, e a passagem custa R$ 7,95.

A opção mais curta tem 100 quilômetros a menos, mas leva o mesmo tempo – ou até mais. É pela MG-010, passando por Lagoa Santa, pela Serra do Cipó e por Conceição do Mato Dentro, para enfim chegar ao Serro. Pelo menos 2/3 do caminho de 70 km entre Conceição e Serro são em estradas de terra. Embora já existam planos de asfaltar a estrada, não há previsão.

Já o trecho entre Conceição e a Serra do Cipó é todo asfaltado, mas tem muitas curvas. Dá para ir por essas estradas em veículos de passeio, mas vá com o tanque cheio. Não há postos de combustível entre Conceição e a Serra do Cipó e nem entre a cidade e o Serro.

Como chegar no Serro do Aeroporto Internacional de Confins

A única forma de ir para o Serro e para Diamantina a partir do Aeroporto de Confins, sem passar por Belo Horizonte, é alugando um carro. Você encurta a viagem em 35 km, mas a rota seria passando por Conceição do Mato Dentro, pela Serra do Cipó (e pela estrada de terra). Se quiser evitar isso durante a noite, durma na Serra do Cipó e aproveite para conhecer a região.

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Como chegar no Serro de Diamantina

Pela proximidade, combinar Diamantina com o Serro é sempre a melhor saída. Também existem duas rotas possíveis entre as duas cidades. Uma mais curta, com 64 km, e outra um pouco mais longa, com 90. A duração da viagem em ambas é praticamente a mesma: 1h30. Isso acontece porque o trecho mais longo é todo asfaltado, pela BR 259, enquanto o outro é pela BR 367, que tem alguns quilômetros de estrada de terra e faz parte do antigo Caminho dos Diamantes da Estrada Real.

A vantagem deste percurso é, além da beleza da Serra do Espinhaço, passar por distritos do Serro, como Milho Verde e São Gonçalo do Rio das Pedras. Eu optei por ir pelo asfalto, mas, pelo que pesquisei, tem quem faça a rodovia de terra em carros comuns.

A estrada que liga Milho Verde e Serro, com 14,5 km, já é asfaltada. O Guilherme Orsetti, leitor do 360 e que mora na região, conta que quem opta por esse caminho enfrenta de 13 a 15 km de estrada de terra. “Lembrando que carros muiiiito baixos ou rebaixados sofrem um pouco com esse trajeto. O mesmo para motos pesadas e muito baixas. Gol, Palio, CG e similares passam normalmente”, diz ele.

Roteiro combinando Serro com outras cidades

A combinação óbvia, como eu já disse, é com Diamantina. E mesmo uma viagem rápida pode incluir a Gruta do Salitre e os distritos de Milho Verde, Três Barras, Mato Grosso e São Gonçalo do Rio das Pedras, no Serro mesmo, além da vila de Biribiri, em Diamantina.

Roteiros maiores e de carro podem resultar numa road trip fantástica. Uma boa opção é sair de BH pela BR 040, parando em Cordisburgo, a terra e o sertão de Guimarães Rosa. A casa onde o escritor nasceu foi transformada em museu e pode ser visitada. Ali fica também a impressionante Gruta da Maquiné, que vale a parada.

De Cordisburgo, siga para Diamantina e passe duas ou três noites lá. Só então vá para o Serro – pode valer a pena fazer uma parada rápida na pequena cidade de Datas, que tem uma igrejinha simpática e fica no meio do caminho entre Diamantina e Serro.

Depois de colocar alguns dos distritos da terra do queijo no roteiro, a sequência da viagem pode envolver Conceição do Mato Dentro, que também tem um centro histórico para chamar de seu, além da Cachoeira do Tabuleiro, a terceira maior do Brasil. Termine a viagem nas belezas da Serra do Cipó.

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Rafael Sette Câmara

Sou de Belo Horizonte e cursei Comunicação Social na UFMG. Jornalista, trabalhei em alguns dos principais veículos de comunicação do Brasil, como TV Globo e Editora Abril. Sou cofundador do site 360meridianos e aqui escrevo sobre viagem e turismo desde 2011. Pelo 360, organizei o projeto Origens BR, uma expedição por sítios arqueológicos brasileiros e que virou uma série de reportagens, vídeos no YouTube e também no Travel Box Brazil, canal de TV por assinatura. Dentro do projeto Grandes Viajantes, editei obras raras de literatura de viagem, incluindo livros de Machado de Assis, Mário de Andrade e Júlia Lopes de Almeida. Na literatura, você me encontra nas coletâneas "Micros, Uai" e "Micros-Beagá", da Editora Pangeia; "Crônicas da Quarentena", do Clube de Autores; e "Encontros", livro de crônicas do 360meridianos. Em 2023, publiquei meu primeiro romance, a obra "Dos que vão morrer, aos mortos", da Editora Urutau. Além do 360, também sou cofundador do Onde Comer e Beber, focado em gastronomia, e do Movimento BH a Pé, projeto cultural que organiza caminhadas literárias e lúdicas por Belo Horizonte.

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4 comentários sobre o texto “Serro, MG: queijos e igrejas num diamante esquecido da Estrada Real

  1. Meu pai nasceu em milho verde , sempre tive a vontade de conhecer a terra do meu pai e das minhas tias ,em 2017 , tive um convite da minha mãe para conhece- lá ,foi maravilhoso pra mim ,fui a São Gonçalo do rio das pedras, aproveitando a viagem foi a Diamantina ,foi uma viagem inesquecível , tenho vontade de um dia voltar com maís tempo , tem um tio avô do meu pai que tem um busto na praça próximo a pousada do queijo.abrsços a todos.

  2. Boa tarde caro Rafael. Sigo o blog e acho muiito bom.
    Sou diamantinense, e gostei ainda mais em falar (tão bem) de nossa região, e do Serro, que realmente é “menosprezado” pelos governos e por grande parte do turista.
    Gostaria penas de fazer uma correção/ressalva quando fala do trajeto entre Diamantina e Serro, passando “por dentro”, como falamos por aqui.
    A estrada não é quase toda de terra. Entre Serro e Milho verde (14,5km) está totalmente pavimentado. Entre Milho Verde e São Gonçalo do Rio das Pedras (8km) é estrada de terra. Entre São Gonçalo e Diamantina teremos apenas mais 5km +- de terra. Todo o restante é calçado.
    Assim o trecho de terra, é de apenas 13-15Km.
    Lembrando que carros muiiiito baixos, ou rebaixados sofrem um pouco com esse trajeto. O mesmo para motos pesadas e muito baixas. Gol, palio, CG, e similares passam normal. 😉
    Fora isso é só alegria. Venha visitar nossa região e se encante com tanta beleza natural e hospitalidade.
    Forte abraço a todos do 360 e a todos leitores/viajantes.
    #borarodar #boraviver #qualaproximatrip

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