Varanasi, a cidade mais sagrada da Índia

Varanasi é tudo aquilo que você ouviu falar. É suja, fedorenta e espiritual. O Ganges, principal razão da fama da cidade, é uma mistura de água, cadáver, lixo e bosta, nem sempre de animais. Diz-se que em muitas partes do rio, não existe mais nenhuma molécula de oxigênio e, consequentemente, nenhum ser vivo. O rio é morto e, ainda assim, cheio de vida devido às celebrações religiosas que acontecem diariamente dentro e fora dele.

Consagrada a Shiva, principal deus Hindu, a cidade às margens do Ganges representa a destruição de tudo o que existe e a perspectiva de um novo começo. É ali que a maior parte dos indianos deseja morrer. Muitos acreditam que quem morre em Varanasi não precisa mais reencarnar.

O destino de todos os turistas que chegam a Varanasi é a cidade velha, uma região formada por ruelas estreitas e labirínticas que se entrelaçam até chegar ao rio. A impressão que tive por ali é que todos os caminhos levam ao Ganges.

Grandes escadarias se estendem ao longo do rio. São elas que recebem as diferentes celebrações religiosas. Batizadas de Ghats pelos Hindus, cada uma é devotada a um deus e possui sua própria história e finalidade. Em uma delas, por exemplo, não é comum que as pessoas tomem banho, pois acredita-se que as águas daquela parte do rio causam brigas no casamento.

Um dos maiores Ghats, o Dasaswamedh, recebe um ritual de agradecimento diário, sempre após o pôr do sol. Durante a cerimônia, centenas de pessoas vão até o rio para agradecer e soltar oferendas no Ganges, enquanto sacerdotes conduzem a celebração com incenso, velas e músicas em uma das demonstrações de espiritualidade mais intensas que eu já presenciei. Você pode assistir a tudo das escadarias ou de dentro de um barco e até soltar sua própria oferenda em agradecimento. Não vai ser difícil comprá-la das mãos de um dos muitos vendedores ambulantes que percorrem os Ghats.

Um tradicional passeio de barco pelo Ganges vai te ajudar a entender melhor a história daquele local sagrado e como a presença do rio afeta a vida dos indianos. Além de ver os Ghats destinados à lavação de roupa, banho de búfalos, banho de gente e meditação, de dentro do rio também é possível ver os locais reservados à cremação dos mortos, os shmashan ghats.

É possível chegar nesses Ghats também por terra, mas é preciso ter cuidado com o assédio de alguns sacerdotes em busca de doações (em dólar) e para não desrespeitar a dor das famílias que muitas vezes viajaram quilômetros até ali para se despedirem de seus mortos. Por mais exótico e interessante que tudo aquilo possa parecer para você, a cerimônia continua sendo uma espécie de velório. Exatamente por este motivo, é proibido e desrespeitoso tirar fotos das fogueiras.

No principal Ghat funerário, de 100 a 300 corpos são cremados por dia, mas para ter a honra de se despedir do mundo ali é preciso que sua família pague cerca de 2000 rúpias (R$70) pela madeira oleada que disfarça o cheiro da cremação. Parece pouco, mas esse valor, somado a outros gastos do velório e da viagem até Varanasi, torna este um sonho impossível para a maior parte dos indianos. Para atender a população mais pobre, fogueiras menores, algumas elétricas, estão disponíveis na cidade.

Os corpos são colocados em macas, enfeitados e lavados no rio. Macas cobertas com saaris vermelhos pertencem a uma mulher jovem, se a cor é dourada, a mulher era mais velha. O branco enfeita as macas dos homens. Apenas crianças, consideradas puras, e as mulheres grávidas, que carregam um ser puro, não são cremadas.

O luto dos indianos dura um ano. Durante esse período, eles não participam de nenhum dos famosos festivais do país, não frequentam festas ou celebram casamentos. Apesar disso, a morte é encarada como um recomeço e muitos deles escolhem ir morar em asilos em Varanasi quando sentem que o fim da vida se aproxima, só para terem a honra de encerrar mais um ciclo às margens do rio sagrado.

Informações turísticas sobre Varanasi

Quantos dias ficar em Varanasi

Um dia é suficiente para ver tudo se você estiver com pressa, mas para aproveitar melhor o lugar e a atmosfera, é recomendável reservar ao menos 3 dias.

Quanto gastar

Se você se encaixa na categoria “econômica”, como nós, é possível ficar em hotéis razoáveis e comer em restaurantes bons (e baratos) com menos de 1.000 rúpias (R$35) por dia. Aqui vale a regra, quanto mais perto do Ganges e quanto mais bonita a vista, mais dinheiro você desembolsa. Nós pagamos 600 rúpias por um quarto triplo na Leela Guest House.

Onde Ficar

Old City. Nem pense em outro lugar! Após uma corrida de tuk-tuk pela parte “nova” da cidade, é preciso descer e encontrar seu hotel à pé pelas ruelas. A princípio, pode parecer terrível andar por aquelas ruas caóticas carregando sua bagagem, mas uma vez alojado você vai ver como valeu a pena. O motorista de tuk-tuk que te levou até a entrada vai ficar mais que feliz em ajudar você a encontrar o lugar, por uma pequena comissão, óbvio. Leia nosso post com opções de hospedagem e os melhores lugares de Varanasi. 

Aonde ir

O mais comum é fazer o combo Varanasi – Kajuraho. Como já tínhamos passado por lá, seguimos de trem para Calcutá. A cidade também é o ponto de partida para Sarnath, onde Buda fez seu primeiro discurso.

Vai viajar? O seguro de viagem é obrigatório em dezenas de países e indispensável nas férias. Não fique desprotegido na Índia. Veja como conseguir o seguro com o melhor custo/benefício para o país – e com cupom de desconto.

Conheça as vacas sagradas da Índia.

Inscreva-se na nossa newsletter

5/5 - (1 vote)
Natália Becattini

Sou jornalista, escritora e nômade. Viajo o mundo contando histórias e provando cervejas locais desde 2010. Além do 360meridianos, também falo de viagens na newsletter Migraciones, no Youtube e em inglês no Yes, Summer!. Vem trocar uma ideia comigo no Instagram. Você encontra tudo isso e mais um pouco no meu Site Oficial.

Ver Comentários

    • Olá Luisa,

      Não tivemos suporte nenhum. Organizamos por conta própria com base em guias e na internet.

      Abraços!

  • Oi, Natália. Tudo bem?
    Estamos de viagem marcada para a índia e vamos passar dois dias em Varanasi. recebemos algumas indicações sobre o Templo Mother India, em Varanasi, mas lendo pela internet não me parecer tãao interessante assim. Vc chegou a conhecê-lo? O que achou? Lendo meu guia, vi o templo Vishwanath, que pareceu bem mais interessante. Esse você conhece?
    Muito obrigada!!
    Maíra e Karine

    • Ei Maíra e Karine, não cheguei a ir lá não. Eu acho que a grande atração de Varanasi é a própria cidade. Ainda mais depois que eu já estava a tanto tempo na Índia, não me preocupei em ficar visitando os templos, já que todos acabam sendo muito parecidos. Aproveitei para curtir o clima da cidade, ver a vida no rio. É difícil dizer o que vale a pena porque isso varia muito com a pessoa e os interesses, né? Mas essa é minha opinião, ainda mais que vocês tem tão pouco tempo lá ;)

      Abraços!

  • Ola Natalia!

    Vou ficar 15 dias na India e gostaria de saber se e possivel ir a Varanasi (de Delhi)
    sem reservas de trem?

Compartilhar
Publicado por
Natália Becattini

Posts Recentes

Comuna 13, em Medellín: Uma história de arte e resiliência

Um bairro que superou um passado violento e tumultuado para se tornar um dos capítulos…

3 dias atrás

O Que Fazer em Oslo em 2 ou 3 Dias: Roteiro Completo

Neste texto você encontra um roteiro completo de o que fazer em Oslo em 2…

5 dias atrás

O que fazer em Quito: roteiros de 3, 5 e 7 dias na capital do Equador

Quito é uma das queridinhas das capitais latino-americanas. Talvez seja por seu belo e preservado…

5 dias atrás

O que fazer em Gramado: roteiro de 3, 4 e 5 dias e passeios imperdíveis

O que fazer em Gramado, no Rio Grande do Sul? Este texto é um guia…

6 dias atrás

Quais Documentos são Necessários para uma Viagem Internacional?

Quer saber quais documentos são necessários para uma viagem internacional? Este texto é um guia…

1 semana atrás

Onde ficar em Lavras Novas: as melhores pousadas

Onde ficar em Lavras Novas? Essa pergunta não tem uma resposta lá complicada: Lavras Novas…

2 semanas atrás