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De cabeças decapitadas a atração turística: a história da Madame Tussaud

Os museus de cera Madame Tussaud são ao mesmo tempo uma das atrações mais visitadas do mundo e figuram em quase todas as listas sobre as maiores pegadinhas para turistas, especialmente em Londres, onde fica a maior das exposições. A ideia de ver e fotografar de perto uma figura quase perfeita de celebridades e personalidades históricas atrai multidões, mas também faz o mesmo número de pessoas torcer o nariz para uma atividade que consideram “cafona”.

Leia também: Como é a visita ao Museu de Cera Madame Tussauds

A ironia disso é que essas eram provavelmente as mesmas opiniões polarizadas de cerca de 200 anos atrás. Desde o século 18, segundo o Atlas Obscura, figuras de cera eram uma atração popular e paga e sempre tiveram mulheres como os grandes nomes do negócio. Por exemplo, Mrs Salmon em Londres e Patience Wright, na Filadelfia. É que, tal como hoje, a cera é considerada um meio “menos nobre” para esculturas e os artistas e acadêmicos do sexo masculino a consideram um trabalho de amadores.

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Desenho de Marie Tussaud e o auto-retrato que ela mesma fez em cera

Marie Grosholtz, hoje conhecida como Madame Tussaud, abriu seu museu de cera em 1835. Mas ela já era famosa pelas suas esculturas muito antes disso. Ela nasceu em 1761, filha de uma governanta na casa de um anatomista, Philippe Curtius, que fazia esculturas em cera. O homem tomou Marie como sua aprendiz e passou a admirar o talento da moça para o ofício.

Poucos anos depois, a Revolução Francesa fez com que o negócio de Curtius explodisse em demanda e popularidade. A autora Pamela Pilbeam, no livro Madame Tussaud and the History of Waxworks, conta que as esculturas, que normalmente eram de cabeça de cera moldada num manequim, eram uma forma de reportar os eventos da revolução sem a censura dos jornais e teatros. Das batalhas nas ruas à queda da Bastilha, lá estavam Curtius e Marie recriando as máscaras dos mortos na guilhotina. Ela chegou até mesmo a fazer uma escultura da cabeça de Maria Antonieta, imediatamente depois da decapitação.

O trabalho requeria lidar bem com situações grotescas. Marie sentava-se, segundo escreveu em sua biografia,  “com cabeças ensanguentadas nos joelhos, reparando nas impressões de suas faces”. O sucesso das esculturas não tinha a ver só com talento artístico, mas também com agilidade e capacidade de observar a situação política: quem chegava primeiro fazia as máscaras importantes. Quando Charlotte Corday assassinou o revolucionário radical Jean-Paul Marat na própria banheira, Marie chegou tão rápido à cena que a polícia ainda não havia levado o assassino embora quando ela começou a trabalhar na máscara da morte.

Em 1794, Curtius morreu e deixou para ela o negócio de esculturas como herança. No ano seguinte, ela se casou com Francois Tussaud, de quem ela só pegou emprestado o nome. É que, em 1802, ela decidiu juntar as trouxas e ir buscar fortuna fora da França. Deixou o marido para trás e levou os filhos e um monte de cabeças de cera de figuras aristocráticas para a Inglaterra.

Como esse era o período das Guerras Napoleônicas, ela se viu impedida de voltar para casa. Seguiu então fazendo um show itinerante pelo Reino Unido por quase três décadas. Ela nunca mais viu o marido. Com sua boa visão de negócios, planejava cuidadosamente o marketing para sua chegada em cada cidade, com anúncios em jornais e catálogos de exposição específicos para cada lugar que ia. Tussaud proclamava que seu trabalho era um serviço público:

“Madame Tussaud, oferecendo esse pequeno trabalho para o público, tem empreendido para unir utilidade e entretenimento. Nas páginas seguintes há um resumo geral da história de cada personagem representado na exibição. Isso irá não apenas aumentar o prazer por não se tratar de uma mera vista de figuras, mas também trará para as mentes de pessoas jovens bastante conhecimento bibliográfico – um tipo de educação universalmente reconhecida como sendo da maior importância” (Fonte)

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Figura de Marie Tussaud em cera em exposição nos museus espalhados pelo mundo.
Ela segura uma réplica modelo do rosto de Benjamin Franklin feito por ela

Vinte anos depois, mais velha e ainda muito esperta, Tussaud escolheu um espaço na movimentada Baker Street dos anos de 1830. Com 74 anos, ela ainda cumprimentava os visitantes pessoalmente. Sua galeria na Baker Street tinha um enorme salão com assentos confortáveis e espelhos que refletiam as figuras de todos os ângulos. Seguiu em busca das tendências e modas da época, respondendo ao que o povo queria: o fascínio pela família real e o terror da morte.

Seu trabalho era tão popular que ela conseguiu fazer modelos da elite europeia, mas também comprar o robe da coroação do Rei George IV e a carruagem de Napoleão para exposição na sua Câmara Dourada. Em 1840, ela montou uma exposição real que reproduzia a cena do Príncipe Albert colocando o anel de noivado no dedo da Rainha Victoria. Para isso, ela mandou fazer, com a permissão da Rainha, uma cópia precisa de seu vestido de casamento.

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Já na Câmara dos Horrores, ela exibia a recriação de cenas famosas de assassinatos que incluíam as roupas dos criminosos a caminho da execução, para aumentar a veracidade. Isso sem contar a guilhotina em tamanho real e as cabeças de Luis XVI, Maria Antonieta e Robespierre.

Quando ela morreu, em 1850, o Museu de Cera Madame Tussaud já era uma das atrações turísticas mais populares da Inglaterra. Hoje, a atração existe nas principais cidades do mundo, com o mesmo objetivo de alimentar o desejo do público, que atualmente é por se aproximar de celebridades, atletas e figuras políticas. Algumas das esculturas feitas por ela ainda podem ser vistas na filial do Madame Tussaud de Londres.

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A máscara da Morte de Marie Tussaud

Como comenta Kate Berridge, no livro Madame Tussaud: A Life in Wax, a importância histórica de Marie Tussaud é normalmente negligenciada. Ela é descartada como uma mulher do espetáculo e não é levada a sério por seu talento como artista ou historiadora. Segundo ela, a artista também sofre do preconceito que trata a cultura popular como embaraçosa em relação à arte “apropriada”.

“As esculturas de cera de celebridades apresentadas sob seu nome são facilmente descritas como entretenimento frívolo e chamativo. Isso serve para subestimar sua função original, num período com referências de imagens limitadas, de alimentar a narrativa visual dos eventos”.

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Luiza Antunes

Luiza Antunes é jornalista e escritora de viagens. É autora de mais de 800 artigos e reportagens sobre Viagem e Turismo. Estudou sobre Turismo Sustentável num Mestrado em Inovação Social em Portugal Atualmente mora na Inglaterra, quando não está viajando. Já teve casa nos Estados Unidos, Índia, Portugal e Alemanha, e já visitou mais de 50 países pelo mundo afora. Siga minhas viagens em @afluiza no Instagram.

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12 comentários sobre o texto “De cabeças decapitadas a atração turística: a história da Madame Tussaud

  1. Nossa muito interessante esse artigo sobre madame tussauds eu ja ouvir falar sobre ela mas nunca imaginei ver uma historia assim ,Parabens ajudou muito a mim falando isso!

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