5 lugares que mudaram a história e o mundo

Ah, a História. Essa complicada teia de acontecimentos que pode mudar de acordo com quem a conta. Tão fascinante, tão relevante para entendermos o mundo em que vivemos. Não sou nenhuma especialista na área, mas adoro ler sobre o tema e parte do que me faz amar viajar é conhecer cidades e lugares históricos importantes.

Nesta lista você encontra algumas cidades onde ocorreram fatos que mudaram a história do mundo – uma seleção bastante limitada, obviamente, mas com lugares interessantíssimos. Assim, dá mais vontade de conhecer esses cenários dos enredos da vida real. Ou de ter uma máquina do tempo para vivenciar um pouco disso tudo.

5 lugares que mudaram a história e o mundo

Jerusalém, Israel e Palestina

Poucas cidades no mundo têm a importância histórica de Jerusalém. Esse é o berço de três das maiores religiões do planeta: o cristianismo, o islamismo e o judaísmo. Não é à toa, então, que também seja o berço de tantos conflitos até hoje, disputada entre pessoas dessas três religiões como uma cidade sagrada.

Voltando ao passado, as ideias do Islamismo difundiram-se no Oriente Médio no século 7. E por volta do século 11, o Islã era a religião mais forte do planeta. Os seguidores de Maomé haviam dominado a Península Arábica, o norte da África, a Ásia Central, parte da Índia e da China e também a região onde hoje ficam Espanha e Portugal, que na época não eram países ainda.

Leia também:
A reconquista, D. Afonso Henriques e a história de Portugal
A história da Inquisição Espanhola, um tribunal político disfarçado de religioso

Todo esse poderio uma hora ia começar a incomodar a Igreja Católica. Assim, as cruzadas foram convocadas pelo papa Urbano II: a ideia dele era cruzar 3 mil quilômetros até a cidade santa de Jerusalém e expulsar os muçulmanos. O primeiro grupo a tentar essa incursão era formado de peregrinos liderados por um padre e foi facilmente massacrado.

Isso fez com que os sultões subestimassem a segunda leva de ataques, essa sim a Primeira Cruzada oficial, que reuniu a nobreza europeia, em 1095. A justificativa da cruzada era “combater os infiéis que ocupavam a Terra Santa”, mas claro que para o outro lado da história, os muçulmanos, isso era uma clara invasão de território.

Em 1099, quando Jerusalém foi conquistada pelos cristãos, houve uma massacre terrível que basicamente matou todo mundo na cidade: cristãos, muçulmanos, judeus – fossem homens, mulheres ou crianças. Isso mudou para sempre a visão que o Oriente tinha do Ocidente, segundo o escritor Amin Maalouf, autor do livro “As Cruzadas Vistas pelos Árabes”.

Segundo o autor, saques, estupros e assassinatos de crianças não condiziam com o tratamento que os muçulmanos davam aos cristãos e judeus em seus territórios: quando dominaram a região, no século 7, preservam igrejas e sinagogas e deixavam que as pessoas pagassem seus impostos e vivessem em liberdade com suas crenças. Claro, existiram governos e correntes hostis, mas eram uma exceção em meio a longos períodos de convivência pacífica.

Mas Jerusalém não ficou muito tempo nas mãos dos cristãos. Em 1187, o Sultão Saladino surgiu como um líder inteligente, que uniu diferentes correntes islâmicas em torno da causa, reconquistou a cidade e obteve grandes vitórias em todas as cruzadas seguintes. O sultão também assinou um acordo de paz que permitia a peregrinação cristã com segurança a Jerusalém.

Essa história toda foi um grande catalizador do aumento da desconfiança entre cristãos e muçulmanos e estimulou a violência contra os judeus, que existe desde muito antes de seu ponto culminante, o Holocausto.

Até hoje, Saladino é visto como um herói – o que não é algo ruim, de forma alguma. O problema é que seu discurso sobre a união de todos os muçulmanos em torno da guerra santa do Islã, a jihad, foi apropriado por muitos grupos extremistas islâmicos.

Na Europa, a aristocracia feudal perdeu poder e dinheiro com o fracasso militar, mas o poder real cresceu e abriu espaço para criação de Estados Nacionais. A península Ibérica, poucos anos depois, foi reconquistada. Abriu-se uma possibilidade para rotas marítimas, comerciais e culturais com o Oriente, o que gerou grandes avanços para os ocidentais. E para completar, ainda estimulou a busca por novas terras. E assim, os portugueses, em busca de novas rotas, acabaram chegando no Brasil.

Tordesilhas, Espanha

Todo mundo que já frequentou uma escola conhece, ou pelo menos já ouviu falar, do famigerado Tratado de Tordesilhas, o documento que dividiu o mundo “a ser descoberto” entre Portugal e Espanha. E que, como consequência, garantiu que hoje eu esteja escrevendo estas linhas em português e pessoas no nosso país inteiro, do Oiapoque ao Chuí, compartilhem desse idioma, e não do espanhol, como todo o resto da America Latina.

Foi uma matéria da BBC sobre Tordesilhas que me motivou a escrever este post. Afinal, por que essa cidade espanhola foi o palco de tal tratado? E por que esse acordo foi feito?

O acordo foi assinado em 7 de junho de 1494, em Tordesilhas, cidade espanhola que fica à beira do Rio Douro. Foi escolhida por sua posição geográfica privilegiada: na época era uma rica e elegante vila no reino de Castela e Leão. Ainda, a rainha portuguesa, D. Maria, vivera ali um tempo.

Leia também: Roteiros pelo Douro, em Portugal: um guia completo de viagem

O tratado de Tordesilhas  foi assinado depois de um longo ano de negociações, em que os dois países tentavam evitar uma guerra.

Os monarcas espanhóis D. Fernando II e Isabella I, e o português D. João II, já financiavam navegações para Ásia e África, e a América havia sido recentemente descoberta por Cristóvão Colombo, cerca de um ano e meio antes. Mas foi o papa Alexandre IV quem definiu que o Atlântico seria dividido numa linha vertical entre as duas potências marítimas.

Seguiram-se muitas conversas e diplomacia para determinar onde exatamente seria essa fronteira. Lembrando que até o momento da assinatura, as terras do lado leste, que seriam portuguesas – ou seja, o Brasil futuramente – ainda não existiam desenhadas no mapa.

Isso, claro, não quer dizer que tenham sido descobertas por “acidente”, visto que o caminho para a Índia já havia sido mapeado por Vasco da Gama e o tal erro no trajeto é um tanto quanto suspeito.

De qualquer forma, a cidade de Tordesilhas representa não só o momento em que o nosso querido Brasil ganhou uma chance de existir, como também é um bom exemplo do jogo político e do poder na Europa nesse período.

Hoje, Tordesilhas abriga um museu chamado “Casas del Tratado”.

Paris, França

Paris é símbolo de uma revolução que deu início à Idade Contemporânea. A Revolução Francesa começa em 1789, quando a França estava destruída economicamente e era dividida entre três estados: a nobreza, o clero e o povo (que englobava camponeses e burgueses). Os dois primeiros grupos tinham uma série de regalias, como não pagar impostos e tudo mais.

Em 5 de maio, o então rei Luis 16 convocou uma Assembleia dos Estados Gerais, no Palácio de Versalhes, para reunir os três estados e tentar definir a criação de um novo imposto. Acontece que os votos eram por estado e não por delegado, o que queria dizer que a vontade do clero e nobreza sempre imperava. Não dessa vez. Os representantes do terceiro estado se revoltaram, saíram dos Estados Gerais e formaram uma nova assembleia.

Nas ruas, as ideias do iluminismo de “Liberdade, Igualdade e Fraternidade” foram ganhando cada vez mais força, até que em 14 de julho de 1789, uma multidão invadiu e tomou a Bastilha, uma prisão que representava o poder absolutista do rei.

A queda da Bastilha marcou o início da revolução. Depois disso, a tal assembleia do 3º estado tornou-se uma Assembleia Constituinte, que proclamou direitos do homem e cidadãos, confiscou propriedades do clero e propôs uma nova constituição, que estabelecia uma monarquia parlamentar.

Aí vem uma segunda fase: acontece que todas essas decisões não tiravam o peso da miséria e dos impostos das costas do povo. Em setembro  de 1792, a ala da alta burguesia da revolução, os girondinos, proclamou a república. Nos bastidores, Luiz 16 e Maria Antonieta tentavam recuperar o poder e se aliaram a Áustria. Com isso, foram acusados de traição e condenados à morte.

E então, na Place de la Concorde, inaugurada em 1772, em honra ao rei francês, foi construída uma guilhotina. Foi ali que o Rei Luis 16 perdeu a sua cabeça e a monarquia no país acabou de vez.

O que fazer em Paris: roteiro pronto para 1 a 5 dias

Muito mais gente perdeu a cabeça, ocorreram muitas brigas internas sobre os rumos da revolução, golpes de estados internos, duas novas constituições e ameaças externas de invasões. E surgiu a figura de Napoleão Bonaparte. Um popular general francês que conseguiu assumir o poder, estabelecer um novo governo, consolidar as conquistas da burguesia e acabar com a revolução, no dia 10 de novembro de 1799, o chamado 18 de Brumário.

As influências da Revolução Francesa podem ser vistas até hoje: as ideias dos revolucionários sobre igualdade e liberdade ainda moldam nossas democracias e, na Europa, isso representou a queda de diversas monarquias absolutistas, entre 1840 e 1870.

A Revolução Francesa influenciou também processos de independência das colônias no continente americano e o fim da escravidão.

Sarajevo, Bósnia e Herzegovina

Em junho de 1914, o herdeiro do Império austro-húngaro, o Arquiduque Francisco Ferdinando, foi alvejado por um sérvio, Gavrilo Princip.

Ativista de um grupo chamado “Jovem Bósnia”, que unia sérvios, croatas e bósnios, Princip queria que a Áustria-Hungria libertasse as províncias eslavas de seu domínio: a Bósnia-Herzegovina era dominada pelo império desde 1878. A Sérvia, porém, desde 1903, era uma monarquia nacionalista e desejava retomar as fronteiras que tinha no século 14.

A ideia era que todos esses países dos Balcãs pudessem se unir numa grande Sérvia ou Iuguslávia. Além da inauguração de um museu, um dos objetivos da visita do Arquiduque era justamente pensar em reformas que pudessem frear os ideais da Sérvia.

Porém, o ataque na Ponte Latina, em Saravejo, foi o tiro no barril de pólvora que era a Europa – e fez tudo explodir!

Como militares sérvios estavam por trás do ataque, isso desencadeou uma crise entre a Áustria-Hungria e a Sérvia. Mesmo com a Sérvia cumprindo as exigências do ultimato do Império, a Áustria declarou guerra. O Império Russo, devido a uma série de alianças prévias, entrou no conflito para apoiar a Sérvia. E a Alemanha, também por conta de tais alianças, foi para o lado da Áustria. Esse complexo sistema de alianças acabou fazendo que todas as potenciais mundiais entrassem em guerra.

Eis a Primeira Guerra Mundial, que durou de 28 de julho de 1914 a 11 de novembro de 1918. Os resultados foram 17 milhões de mortos, um novo mapa para um continente cujas relações entre os vizinhos já era delicada e um tratado, o de Versalhes, que deixou a Alemanha destruída e falida.

Tudo isso foi a receita certeira para o surgimento do Nazismo e de outros partidos fascistas e nacionalistas. E, consequentemente, o início da Segunda Guerra Mundial, duas décadas depois.

Ao lado da bela Ponte Latina, em Saravejo, há um museu contando essa história, o Museu do Assassinato, que guarda inclusive, a arma do crime. Além disso, essa ideia da Iugoslávia e do nacionalismo sérvio levou a outros conflitos: a Guerra da Bósnia e a Guerra de Kosovo.

Leia também:
O que fazer em Sarajevo, Bósnia: guia de viagem completo
Cem mil túmulos e as histórias da guerra da Bósnia

Normandia, França

No dia 6 de junho de 1944, as forças aliadas invadiram o território da França dominada pela Alemanha. Ao fim da operação e batalha, mais de um milhão de soldados aliados haviam entraram no território francês, cruzando a fronteira através do Canal da Mancha, num ataque chamado “anfibio”, por utilizar bombardeios navais, aéreos e paraquedistas.

Estados Unidos e Grã-Bretanha, junto com outros doze países aliados, fizeram parte dessa invasão, cujo desembarque ocorreu num trecho de 80 km pela costa da Normandia, em cinco setores, as praias de Utah, Omaha, Gold, Juno e Sword.

Um dos motivos da vitória dos Aliados contra o Eixo foi o fator surpresa da operação: apesar dos alemães saberem da intenção de seus inimigos de invadir a França, o serviço de espionagem nazista foi enganado sobre o local do desembarque: esperavam que fosse em Pas-de-Calais, a cerca de 300 km de distância de onde foi o ataque.

Leia também: As memórias da Segunda Guerra Mundial de Winston Churchill

Além disso, os alemães não sabiam que o serviço de inteligência dos Aliados tinha descoberto como decifrar as mensagens codificadas pelo Enigma, uma máquina alemã usada para enviar mensagens secretas (aliás, tem um filme ótimo sobre isso, chamado O Jogo da Imitação).

O desembarque, também chamado de Dia D, foi seguido por uma batalha, a Batalha da Normandia, que durou dois meses, até que Paris finalmente fosse recuperada do domínio nazista.

A guerra, entretanto, continuou por mais 18 meses. No front Oriental, os russos tiveram uma vitória expressiva com a longa e sangrenta Batalha de Stalingrado, que durou seis meses e só acabou em 1943. Depois dessa batalha, os russos organizaram a investida para tomar Berlim enquanto as outras forças Aliadas fechavam o cerco no front ocidental.

Saiba mais: Os 80 anos do tratado secreto que apagou países do mapa

O Dia D é, sem dúvidas, um dos momentos mais marcantes do final da Segunda Guerra, conflito que aconteceu de 1939 a 1945 e mudou o mundo.

No lado geopolítico, houve uma mudança das fronteiras europeias, africanas e asiáticas, a ascensão dos Estados Unidos e da União Soviética como maiores potencias mundiais, a criação da ONU e da Declaração Universal dos Direitos Humanos, da OTAN e outros organismos internacionais.

Além disso, houve verdadeiras revoluções tecnológicas e militares, algumas delas incorporadas no mundo social, como o desenvolvimento de computadores e, mais tarde, da internet. Ainda, as mudanças sociais, causadas por um conflito tão longo e com tantas mortes, se refletem até hoje.

Na Normandia, é possível visitar as praias e museus referentes ao Dia D.

Gostou do post? Que tal salvar essas dicas no board do seu Pinterest?

 

Inscreva-se na nossa newsletter

Avalie este post
Luiza Antunes

Luiza Antunes é jornalista e escritora de viagens. É autora de mais de 800 artigos e reportagens sobre Viagem e Turismo. Estudou sobre Turismo Sustentável num Mestrado em Inovação Social em Portugal Atualmente mora na Inglaterra, quando não está viajando. Já teve casa nos Estados Unidos, Índia, Portugal e Alemanha, e já visitou mais de 50 países pelo mundo afora. Siga minhas viagens em @afluiza no Instagram.

Ver Comentários

Compartilhar
Publicado por
Luiza Antunes

Posts Recentes

A História do Time de Futebol Mais Antigo do Mundo

“Eu estabeleci um ‘foot ball club’ onde a maioria dos jovens de Sheffield podem vir…

1 mês atrás

Comida Cubana: o que é a culinária típica do país

Qual é a típica comida cubana? Bom, depende. “Em Cuba, a gente tem que sempre…

2 meses atrás

Chá da Tarde Inglês: De Onde Veio a Tradição e Onde Tomar?

O chá da tarde, ou o afternoon tea, ou simplesmente beber chá em qualquer hora…

2 meses atrás

Hilda Furacão: passeio em Belo Horizonte sobre história de Roberto Drummond

O nome dela era Hilda Gualtieri Von Echveger, mas Belo Horizonte inteira - e o…

3 meses atrás

Ciénaga Grande: Como é a vida nas vilas aquáticas da Colômbia

Nas margens dos rios e lagos da região de Magdalena, na Colômbia, as aldeias palafíticas…

4 meses atrás

12 Livros Para Ler em 2024: nossas dicas de leitura

Procurando livros para ler em 2024? Esta lista é bastante diversificada e inclui apenas livros…

4 meses atrás