Pouca gente sabe, mas Chile e Peru vivem um delicado embate que pode levar a uma guerra entre os dois. Ok, não é pra tanto. Mas os países sul-americanos vivem sim se estranhando no comércio internacional por causa de uma bebida: o pisco. Conhecida como aguardente de uva (lembra a cachaça), ela é usada em diversas misturas e faz sucesso entre os nativos de ambos lugares.
O ponto é que peruanos defendem que a bebida teria surgido no território deles, logo após a chegada dos primeiros colonizadores. Segundo o Ministério das Relações Internacionais desse país, há apenas algumas zonas produtoras da bebida lá, todas ligadas à costa. Para reafirmar a origem, os peruanos até explicam de onde surgiu o nome: dizem que tem a ver com um vocábulo quechua que significa pássaro.
Os incas, admirados com a enorme quantidade de aves na região do litoral, teriam usado o termo para designar também um vale. No século 16, o local, por suas condições geográficas específicas, foi usado para produção de vinhos, após os espanhóis introduzirem a uva, vinda das Ilhas Canárias. Quando houve proibição da fabricação da bebida por lá, por causa da concorrência com produtores estrangeiros do velho mundo, a região teria desenvolvido a produção do pisco, a partir da fermentação do mosto da uva.
Os chilenos, por sua vez, até podem considerar que o pisco surgiu no Peru, mas garantem que a forma de produzir ganhou características próprias no país. Além disso, argumentam que o pisco, o termo, seria como a palavra “vinho” e não “Champanhe” (espumante que só pode ter essa denominação se for fabricado em uma região específica da França).
Ademais, eles usam números de sua produção, maior do que a peruana, para afirmarem que a bebida tem mais a ver com o país . Ah! eles ainda fazem questão de lembrar que também há uma região com o mesmo nome por lá (Pisco Elqui) que, junto a Atacama e Coquimbo, formam os locais produtores.
Produção de Pisco no Chile (Foto: Christian Campos, Wikimedia Commons)
No Peru, o quarto domingo do mês de julho foi escolhido como data para celebrar o pisco. 15 de maio é o dia nacional do pisco no Chile. Sim, essa briga está bem longe do fim e vários países do mundo temem tomar partido e não conseguirem mais negociar com os produtores de ambos.
O que eu tenho a dizer sobre tudo isso: não aumente a briga dos nossos hermanos e siga os exemplos dos diplomatas, já que você não tem um paladar de expert. Quando for ao Chile, garanta que a bebida deles é melhor. E, quando estiver no Peru, diga que o pisco de lá não tem comparação (a diferença, pelo menos pra mim, não é tão gritante mesmo).
Aproveite para experimentar a bebida em suas grandes variedades. Com refrigerante de cola, no Chile, como os estudantes bebem (uma delícia, facilmente embriagante). Ou com clara de ovo espumando, como todos os restaurantes peruanos servem no chamado pisco sour: forte, ardido na medida e aromático.
Pisco peruano (Foto: Dtarazona, Wikimedia Commons)
De toda forma, como a Organização Mundial do Comércio estabelece que os países devem impedir a utilização de indicações que sugiram um produto proveniente de uma região geográfica distinta de sua verdadeira origem, vale lembrar que o Peru proíbe a entrada, nas fronteiras, de qualquer produto estrangeiro (leia-se, chileno) com a denominação pisco.
Ou seja: se você tentar entrar no país com um garrafinha da bebida, terá o produto confiscado. Claro que eu não sabia disso antes de chegar ao Peru e claro que eu saí do Chile pra chegar até lá. Felizmente, como estava sem dinheiro, deixei de comprar o item na última hora. Já pensou desembolsar cerca de US$ 30 por uma garrafa de excelência (no Brasil, chega até R$ 200) e perdê-la?
*Foto destacada: (Daniel Peppes Gauer, Wikimédia Commons)
Inscreva-se na nossa newsletter
Hummm sacanagem, agora fiquei com vontade de um pisco sour 🙂 Abraços