Existem centenas de estudos no mundo inteiro que observam o setor do turismo tanto por seus impactos positivos quanto negativos. Por um lado, o turismo pode trazer emprego e geração de renda, contribuir com igualdade de gênero, educação e troca de conhecimentos, empreendedorismo e preservação da natureza. Por outro, a indústria turística também é capaz de promover dependência e um novo tipo de colonialismo ao ser dominada por grandes empresas internacionais que mercantilizam a cultura e tornam impossível que os benefícios de fato cheguem aos países em desenvolvimento, já que o dinheiro não passaria pelas comunidades e iria direto para o sustento da própria indústria.
É nesse contexto de discussões que existe a proposta para um desenvolvimento do turismo que seja sustentável. O Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente e a Organização Mundial do Turismo definem a sustentabilidade no contexto do turismo como “os aspectos do desenvolvimento ambiental, econômico e sócio-cultural, num balanço que deve ser estabelecido entre essas três dimensões a fim de garantir sustentabilidade a longo prazo”.
Dentro dessa lógica, o turismo sustentável seria reconhecido em qualquer atividade na área que busca contribuir permanentemente com a proteção e promoção do meio ambiente e de recursos como valores culturais e integridade da comunidade local.
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O problema é que essa noção às vezes parece muito mais utópica do que realista. Um professor australiano, chamado C. Michael Hall, analisa que a noção de sustentabilidade na área das políticas para o turismo acaba sendo vista primariamente como “ambiental” e o desenvolvimento como “econômico” e numa menor medida, “social”. Muitos dos exemplos de sucesso sobre desenvolvimento sustentável geralmente só apresentam avanços na área ecológica e econômica, mas é raro que tratem de ganhos sociais.
Há algumas razões para esse tratamento desigual dos três pilares, segundo os sociólogo Beate Littig e Erich Grießler: em primeiro lugar, os argumentos econômicos costumam ser mais convincentes e uma decisão mais igualitária sobre as prioridades é rara. Assim, às três dimensões são dadas prioridades diferentes. Pior, são colocadas ao lado uma das outras sem serem integradas como um todo.
E, para completar, esse tal equilíbrio entre as dimensões econômicas, sociais e ambientais seria ilusório. Porque o crescimento da economia estará sempre em conflito com as duas outras dimensões e, no fim das contas, se necessário, os aspectos socioculturais e ambientais serão deixados de lado. Usar a palavra equilíbrio, segundo esses estudiosos, seria mascarar a realidade de que o crescimento econômico é o que realmente interessa.
Foi o que o professor da minha banca de defesa de mestrado me perguntou: se eu realmente acreditava que era possível a sustentabilidade? Se seria possível convencer, seja com uma grande cadeia de hotéis, ou com um pequeno negócio que abriu com um boom de turismo numa região em desenvolvimento, que seria preciso talvez diminuir os lucros em função do meio ambiente e da cultura tradicional. Ou, ainda, como convencer os turistas que boa parte das atividades que eles fazem nas férias – mesmo que talvez somente uma vez na vida – está destruindo o mundo?
Ao mesmo tempo, acredito, há alternativas. Há quem já perceba, e com sorte mais pessoas vão perceber com o tempo, que sem esse cuidado com o ambiental e o sociocultural as próprias empresas, grandes ou pequenas, também não vão conseguir sobreviver.
A alternativa que Hall aponta é para a economia ecológica ou a perspetiva “degrowth”. Ou seja, um crescimento com respeito à sustentabilidade, com a centralidade na necessidade de conservar o capital natural, que compreende que o crescimento econômico da área do turismo acaba tornando-se anti-econômico no sentido em que está levando a uma escassez de recursos.
Nosso papel, como turistas, é valorizar as iniciativas, atividades e destinos que busquem essa perspectiva sustentável. Nem sempre essa é a decisão mais fácil de ser tomada e leva em consideração certas pesquisas ou mudanças de hábitos. Aqui no 360meridianos temos um Guia do Viajante Consciente, um texto sobre como decidir se atrações com animais são éticas e uma discussão sobre atitudes que turistas precisam parar de ter urgentemente.
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