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Nossa Senhora de Guadalupe: a basílica da padroeira do México

O maior local de peregrinação das Américas está afundando e foi transformado em dois. A Basílica de Nossa Senhora de Guadalupe, padroeira do México, recebe cerca de 20 milhões de visitantes por ano, número que faz do santuário mexicano o segundo local católico mais procurado do mundo – só mesmo a Basílica de São Pedro, no Vaticano, atrai mais fiéis.

Tudo começou com os astecas (ou mexicas), povo pré-colombiano que vivia nessa região quando os espanhóis resolveram atracar por lá. Ali ficava a capital do Império deles, Tenochtitlan. E era grandiosa, como mostra a pintura de Diego Rivera. Construída no meio de um lago, o Texcoco, a capital dos astecas tinha um complexo sistema de vias e ilhas para Veneza nenhuma botar defeito.

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Teotihuacán, no México: visita e história das ruínas

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Tenochtitlan (Painel de Diego Rivera)

Mas como assim afundando?

Após a conquista espanhola, em 1521, Tenochtitlan veio abaixo e nos escombros da antiga capital asteca nasceu a Cidade do México – algumas ruínas sobraram, em especial ao redor do Zócalo. Mas, você vai notar assim que colocar os pés lá, não tem nenhum lago por ali atualmente, pelo menos nada que lembre a grandiosidade do Texcoco. É que o lago foi completamente drenado após a conquista, mudando para sempre o visual, o clima e o comportamento do solo da região. Não preciso dizer que isso foi uma péssima ideia, né?

Com o crescimento populacional das últimas décadas, o Lago Texcoco voltou a ser importante. Isso é, pelo menos o que sobrou dele abaixo da terra: o governo passou a retirar água do lençol freático que ainda existe ali para abastecer a capital mexicana, que se tornou uma das maiores metrópoles do mundo: são 21 milhões de habitantes. Necessário, claro, mas outra ideia que teve consequências. E ruins.

nossa senhora de Guadalupe

Santuário de Guadalupe e as duas Basílicas, na Cidade do México

O solo da capital do México, que está acima de uma área que um dia foi um lago, é frágil. E está afundando, atualmente numa média de sete centímetros por ano, número que já foi maior – nos últimos 100 anos a Cidade do México afundou nove metros. Isso ajuda a explicar por que uma das maiores metrópoles do mundo não tem tantos prédios, um skyline bem menos vertical do que se comparado com o de São Paulo, por exemplo.

O afundamento forçou o governo a uma série de ações – tipo recolocar água no lençol freático e se preparar para terremotos. Mas a consequência mais visível está nos prédios e construções, principalmente os mais antigos, como a Basílica de Guadalupe, que chegou aos 200 anos de idade com carinha de 350. E completamente torta.

basílica de Guadalupe

A saída, adotada nos anos 70, foi fechar a Basílica para restauração. Mas não dá para abrir mão de um lugar sagrado, certo? É por isso que foi erguida uma nova basílica, essa em estilo moderno, de frente para o templo antigo. Reaberta já no século 21, a Basílica Antiga também voltou a receber fiéis e missas. O santuário de Nossa Senhora de Guadalupe ainda tem museus, bibliotecas, um batistério, um campanário, criptas, jardins e várias capelas e paróquias menores. Um complexo recebe até 40 mil pessoas para missas, em datas especiais. E mais um monte de gente ao longo de todos os dias.

Nossa Senhora de Guadalupe

A história de Nossa Senhora de Guadalupe

O ano era 1531. O Império Asteca tinha caído há apenas 10 anos quando o índio Juan Diego Cuauhtlatoatzin afirmou ter visto uma aparição de Maria no alto do monte Tepeyac, que ficava nos arredores da antiga capital asteca (e onde começava a crescer a Cidade do México). Juan Diego relatou quatro aparições. Uma quinta foi relatada por Juan Bernardino, tio dele.

A ordem da virgem era clara: Juan Diego precisava ir até o Bispo Juan de Zumárraga, um franciscano que havia há pouco se tornado o primeiro Bispo do México, e dizer que uma igreja deveria ser erguida no monte Tepeyac. Como é comum em casos de aparições marianas, num primeiro momento o bispo não acreditou na história do rapaz, mas acabou sendo convencido por uma série de milagres. O mais famoso deles – e que até hoje leva uma multidão ao Santuário – foi o da imagem que apareceu na tilma, ou manto, do índio: uma virgem maria que tinha traços mestiços.

Guadalupe Padroeira do México

Esse tecido, que, garante a igreja, foi feito com um material que em geral se desintegra em poucos anos, ainda está na Basílica. E intacto. Para os fiéis, uma prova a mais do milagre da virgem. E mesmo quem não enxerga a história com os olhos da fé vê na aparição de Nossa Senhora de Guadalupe uma das primeiras etapas para o surgimento de uma cultura mexicana e latina, que envolveu os povos pré-colombianos e aqueles que chegaram no Novo Mundo depois de Colombo.

Naquele mesmo ano começaram os projetos do Templo Expiatorio a Cristo Rey, atualmente conhecido como Antiga Basílica. A construção só acabou em 1709. As roupas do índio, onde a imagem de Nossa Senhora aparece, ficaram guardadas nesse templo até 1974, quando elas foram transportadas para a Nova Basílica.

O estilo da Nova Basílica é completamente diferente. Ela foi projetada pelo arquiteto Pedro Ramírez Vázquez, o mesmo que fez o Estádio Azteca, sede das Copas de 1970 e 1986. É grandiosa, moderna e está sempre lotada e fiéis. Por falar neles, há uma espécie de procissão constante nos arredores do Santuário. Gente que vem de várias partes do México para pagar promessas, rezar e conhecer o local mais sagrado do país.

nova basílica de Guadalupe

Interior da Nova Basílica 

Passamos cerca de três horas no local. Além de visitar as duas basílicas, caminhamos pelos jardins, vimos uma estátua gigante do Papa João Paulo II, e a fila, também enorme, que se formava na frente do batistério. Depois, o caminho dos visitantes leva escada acima: é hora de subir o monte Tepeyac, o local onde houve a aparição de Nossa Senhora de Guadalupe, segundo Juan Diego. Por falar nele, o índio foi canonizado em 2002, sendo o primeiro santo indígena da Igreja Católica.

No alto do morro, onde Nossa Senhora teria feito brotar flores milagrosamente, há uma capela, a de São Miguel, onde também ocorrem missas diárias, e um mirante. Descendo novamente o morro, um antigo convento do século 18, agora convertido em Paróquia, e outros templos menores, como um dedicado aos Índios e que é o mais antigo do Santuário, também estão sempre lotados.

nossa senhora de Guadalupe

Vale a pena conhecer também o Museu da Basílica Antiga, que guarda peças sacras e uma grande coleção de ex-votos, pinturas populares, em geral anônimas, feitas para agradecer por milagres. Por fim, uma lojinha de objetos religiosos tem uma série de opções (aceitam cartão).

O Santuário de Nossa Senhora de Guadalupe está na região norte da Cidade do México, um pouquinho afastado do Zócalo e do Paseo de la Reforma. As estações de metrô mais próximas são La Villa-Basílica (Linha 6) e Deportivo 18 de Marzo (linha 3). Ao desembarcar você terá uma caminhada de 10 minutos pela frente, normalmente acompanhada por vários fiéis. A passagem do metrô custa cinco pesos (cerca de R$ 1).

Basílica de Guadalupe

Já uma corrida de uber/cabify do centro até a Basílica custa cerca de 90 pesos (menos de R$ 20). Agências de viagem costumam oferecer o passeio para a Basílica combinado com a visita às ruínas de Teotihuacán, que estão a cerca de 1h da Cidade do México. 

Para horários de missas e eventos especiais confira o site oficial do Santuário. A entrada no Santuário é de graça, exceto pelo Museu, que tem um preço simbólico.

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Rafael Sette Câmara

Sou de Belo Horizonte e cursei Comunicação Social na UFMG. Jornalista, trabalhei em alguns dos principais veículos de comunicação do Brasil, como TV Globo e Editora Abril. Sou cofundador do site 360meridianos e aqui escrevo sobre viagem e turismo desde 2011. Pelo 360, organizei o projeto Origens BR, uma expedição por sítios arqueológicos brasileiros e que virou uma série de reportagens, vídeos no YouTube e também no Travel Box Brazil, canal de TV por assinatura. Dentro do projeto Grandes Viajantes, editei obras raras de literatura de viagem, incluindo livros de Machado de Assis, Mário de Andrade e Júlia Lopes de Almeida. Na literatura, você me encontra nas coletâneas "Micros, Uai" e "Micros-Beagá", da Editora Pangeia; "Crônicas da Quarentena", do Clube de Autores; e "Encontros", livro de crônicas do 360meridianos. Em 2023, publiquei meu primeiro romance, a obra "Dos que vão morrer, aos mortos", da Editora Urutau. Além do 360, também sou cofundador do Onde Comer e Beber, focado em gastronomia, e do Movimento BH a Pé, projeto cultural que organiza caminhadas literárias e lúdicas por Belo Horizonte.

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