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Relato de um intercâmbio na Sérvia

Abra a cabeça: nem só de Estados Unidos e Canadá vive o mundo do intercâmbio. A Tennily Pessoa, que é estudante de Ciências Econômicas, fez o intercâmbio dela na Sérvia. Ela foi via AIESEC, uma organização apartidária, independente, educacional, sem fins lucrativos e totalmente formada e gerenciada por estudantes universitários. Sim, a mesma organização que mandou a gente para uma experiência muito legal na Índia. A Tennily gostou tanto do que viveu lá que resolveu contar para gente como foi. Veja o relato dela abaixo.

Meu Intercâmbio na Sérvia

Quando escolhi a Sérvia como destino para o meu intercambio, não tinha muita noção do que encontraria. Sabia que iria trabalhar com crianças ensinando um pouco de cultura brasileira, além de dois temas dos quatro abordados pelo projeto nacional: tolerância e ecologia. Mas tive uma experiência bem mais intensa e incrível do que constava na descrição da vaga que aceitei antes de sair do Brasil.

Chegando à capital, Belgrado, tive uma semana de treinamento numa conferência com os demais intercambistas que estavam no País. Eram 93 representantes, de 27 diferentes nacionalidades.  Concluímos a semana numa Global Village, expondo um pouco das nossas diferentes culturas, músicas e comidas típicas, no lago artificial da cidade. Foi de fato um dos momentos mais marcantes do meu intercambio, onde vi países tão diferentes e com tanta rivalidade em total harmonia.

Global Village, Aiesec

Com o inicio do projeto, meu grupo foi alocado para trabalhar em conjunto com a Cruz Vermelha local. Tivemos mais dois dias de treinamento, abordando temas que iam de primeiros socorros ao tráfico humano, para assim dar inicio ao nosso contato com as crianças. Eram todas crianças ciganas, de idades entre 2 e 15 anos. A partir daí, foram inúmeras dificuldades.

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villages da servia

Todos os dias íamos para a vila cigana, sempre acompanhados pelos membros da AIESEC local. As vilas se parecem com as favelas brasileiras e o povo cigano sofre bastante  preconceito em boa parte do leste europeu. Nós tínhamos que  buscá-las e escoltá-las até a sede da Cruz Vermelha. Trabalho esse que era dificultado pela grande quantidade de  crianças  – em média 40 por dia – e pela  barreira do idioma.

O sérvio foi o maior choque durante toda a minha estadia no país. Os intercambistas que trabalhavam e moravam comigo eram de países próximos, por isso encontravam similaridades na língua e principalmente no alfabeto cirílico. Para os russos e os ucranianos não era difícil manter uma conversa no idioma local. Eles conseguiam pedir que as crianças mais velhas ajudassem os mais novos e mais travessos, por exemplo. Para mim foram necessárias diversas noites em casa para aprender ao menos o básico, e também muita paciência dos amigos que fiz ao longo dos dias na cidade, que em muito ajudaram na tradução das minhas apresentações e na interação com as crianças.

intercâmbio na sérvia

Não ter medo das dificuldades do projeto me permitiu vivenciar experiências inesquecíveis. Mesmo com a barreira do idioma (e graças ao auxílio do time) pude ter breves conversas com pais e mães que mostravam no sorriso a confiança e a gratidão por esse trabalho, que tirava as crianças das pilhas de papelão e da rua por pelo menos algumas horas. Dividíamos com as crianças  culturas e costumes de diversos cantos do globo, e isso me fez ver como é gratificante despertar o interesse de mundo em pessoas de uma realidade tão distante.

Respondi à cada questionamento que surgia, de início tímidos e formais, como perguntas relacionadas à segurança e economia do Brasil. Com o passar dos dias, também respondi perguntas sobre  futebol e música,  e tudo isso me ajudou a criar laços de cumplicidade com muitas crianças, que viam os intercambistas como modelos e respondiam às nossas atitudes.

Intercâmbio na sérvia

E nós aprendemos a ser modelos tolerantes e versáteis. Percebi junto com meus colegas que todas as mudanças estariam realmente relacionadas à nossa vontade. Muitos deles, Sérvios e intercambistas, estavam sempre dispostos a tudo; sabiam que cada conversa, cada atividade que praticávamos em nossos meetings noturnos para preparar a agenda do dia seguinte, cada brincadeira planejada,  tudo era importante para mudar e impactar aquela realidade.

Não posso listar tudo que aprendi com meu intercâmbio. Gastaria bem mais que um relato para isso, mas posso dizer que aprendi a ser tolerante. E olha que eu saí do Brasil para ensinar justamente esse o tema, mas terminei desenvolvendo a tolerância ao longo das seis semanas que morei com nove pessoas de sexo, idade, costumes e vontades diferentes. Aprendi a tirar a proatividade do papel, em cada dia de projeto e em cada momento que as atividades começavam a sair do nosso controle.

Aprendi também a falar sobre meu país – e também a ser uma ouvinte, sempre que um amigo, curioso com a diferença de realidade entre aquele extremo do globo e o Brasil, vinha me contar sobre os vestígios da guerra em sua família, seu sentimento perante à Croácia, Macedônia e Montenegro. Países que são vistos como grandes rivais, mas que  para os mais jovens são simplesmente as terras onde moram alguns de seus melhores amigos, gente que eles encontram nas férias de verão ou numa excursão com a faculdade. Ou então primos que eles não podem ver tanto, já que estão separados por uma fronteira.

Intercambio sérvia, aiesec

E de cada pequeno gesto, de todas as dificuldades em repassar uma simples mensagem, de cada hora gasta em encontros para criar uma agenda perfeita, de cada pergunta sobre meu país ou minha vida,  e de cada “Hvala” – Obrigado em sérvio – das crianças ao fim dos workshops, levo as melhores memórias do meu intercâmbio.

Hoje eu definiria minha experiência como um desafio.  Um desafio que felizmente não hesitei nem parei na metade do caminho. E um desafio que rendeu frutos imensuráveis, tanto na minha vida profissional como pessoal. Desafio também de ter que ir embora sem chorar tanto, de um país que tanto me ensinou em tão pouco tempo.

Minha rota na Sérvia

(Belgrado – Novi Sad – Skopje [Macedônia] – Kragujevac)  Sai do Recife rumo à Frankfurt no dia 29 de junho, mas como são poucos os voos para Belgrado tive que passar quase 15 horas esperando pela conexão no aeroporto de Frankfurt. E só cheguei ao destino final depois da meia noite do dia primeiro de julho. Durante o intercâmbio pude conhecer as cidades de Novi Sad e Kragujevac, ambas a poucas horas da capital, e também visitei Skopje, capital da Macedônia que fica a 9 horas de trem de Belgrado.

Belgrado, Sérvia

Dicas para quem vai viajar pela Sérvia

A polícia local não é das mais amigáveis, por isso parte das nossas relações com ela foram mediadas por um sérvio. Além de não falarem inglês,  lá o visto é exigido para brasileiros. Por isso, se for viajar pelo país tenha sempre em mãos o passaporte com o visto e um vale de permanência, documento que deve ser tirado em qualquer delegacia 24 horas após sua entrada no país. Caso contrário, eles não vão hesitar em te deixar na fronteira mais próxima.

Belgrado, Sérvia

O clima também é bem complicado de entender. No verão peguei temperaturas de 41ºC durante o dia e 12ºC na madrugada. Ouvi relatos de que no inverno a neve chega aos dois metros facilmente e que nessa época sair nas ruas é quase impossível.

Principais pontos turísticos de Belgrado

O centro da cidade. Pode soar bem convencional, mas é pelas ruas da Pedestrian Street, cortada pela Trg Republike (Republic square), que você irá entender muito sobre o que é Belgrado. Em grande parte um centro comercial, nas ruas paralelas ficam ótimas pekaras (padarias locais, o incrível fast-food nacional) e também cafés em cada esquina. E a poucas quadras dali fica a famosa Skadarlija, uma rua que abriga algumas das centenas de kafanas da cidade – espécies de tabernas que carregam anos de história e são decoradas com ícones de guerra, desde a antiga Iugoslávia. Descritos primeiramente como recanto de intelectuais e amantes da boa música, nas kafanas você encontra facilmente música, bebida e comida típica. Um excelente lugar para provar a bebida nacional, a rakija.

Belgrado, Sérvia

Surpresas da Sérvia

A comida. Antes de viajar não encontrei muitas informações sobre o que me assustaria no dia a dia no quesito gastronomia. E levei um grande e bom susto quando cheguei lá. Não é difícil encontrar comida boa e barata nas ruas de Belgrado. E depois de algumas semanas, constatei que as melhores pekaras ou palacinke com plazma (espécie de crepe recheado com o biscoito nacional) eram vendidas debaixo das pontes, com porções, e custavam menos de um euro. E que as poucas lojas de posto que ficavam abertas de madrugada cozinhavam pljeskavica, um tipo de de mistura de carnes servida num pão esquentado na hora que é bastante popular nos balcãs.  E eu não precisava entender qualquer palavra em sérvio – foi na boa mímica que descobri minhas massas e recheios favoritos; eu só não sabia como pedí-los novamente.

comidas típicas da sérvia

Dicas do que vale a pena conferir na Sérvia

Esportes. Os sérvios levam os esportes bem a sério, principalmente o pólo aquático e o tênis. Numa visita ao parque principal da cidade (O Forte, Kalemegdan) não é difícil encontrar duplas treinando nas quadras abertas.

Também não dá para sair de Belgrado sem assistir uma partida de futebol do Crvena Zvezda (Red Star), o time local. Os torcedores cantam freneticamente durante a partida inteira! E não importa se o time está ganhando ou perdendo. Fomos sem nenhum sérvio de acompanhante e felizmente não tivemos problemas com a segurança. Todo o estádio e os arredores estavam repletos de policiais.

Assistir a um jogo de futebol na Sérvia

Momento inesquecível

Passar meu aniversário na cidade. No  meu último final de semana em Belgrado, completei 19 anos. A experiência por si só já seria bem diferente, por ser meu primeiro aniversário longe dos amigos e da família. Naquela altura do intercâmbio eu já conhecia todos os bares e casas noturnas da cidade. Ainda assim, meus flatmates conseguiram me surpreender, com duas noites de festa por mais de quatro lugares diferentes, de kafanas a  boates flutuantes (Splavs).

Além disso,  durante o dia tivemos a primeira grande despedida do time, já que nossos coordenadores iriam para outra cidade naquele final de semana. Fizemos outra feira para expor nossos países, mas essa teve porte menor. Foi no dia de uma partida de pólo aquático, entre Sérvia e Montenegro. E a Sérvia, completou meu final de semana,   vitoriosa.

Intercambio da aiesec na sérvia

Meu depoimento

Ir para Belgrado sem grandes pretensões e expectativas e sair apaixonada pela cidade não estava nos meus planos. Absorvi e me encantei com a história e as marcas de um país que por muitos foi conhecido apenas por seus conflitos e pela identidade misturada à Iugoslávia. Hoje, carrego amigos de diversos cantos do mundo. Os nove intercambistas que moraram comigo durante as seis semanas que fiquei lá e também amigos sérvios que me ajudaram nas dificuldades, como as barreiras do idioma e até mesmo com o choque cultural dos primeiros dias. Também carrego minha Brojanica – uma espécie de  terço sérvio -, meu exemplar de “A guide to the serbian mentality”, e uma vontade imensa de voltar.

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6 comentários sobre o texto “Relato de um intercâmbio na Sérvia

  1. Tennily, se você pudesse, claro, gostaria de conversar com você por email ou Skype sobre sua experiência de intercâmbio pelo aiesec. Estou pensando em fazer por essa organização, mas meus pais ficam com um pouco de medo. Nunca fiz intercâmbio, nem nada parecido e tenho muitas dúvidas. Se você puder, é só me mandar a resposta para meu email (marimenezes94@gmail.com). Caso mais alguém que esteja lendo já passou por essa experiência, me contatem, por favor!

  2. Ler seu depoimento só aumenta a minha ansiedade de ir pra esse país do qual sei tão pouco. Daqui a um dia estar embarcando para uma experiência parecida com a sua e que, se deus quiser, me trará tanto aprendizado e alegrias como a sua trouxe pra você. Já peguei várias dicas aqui e não vejo a hora de começar essa aventura incrível que me espera. Brigada pelo relato, só me fez ter mais certeza que escolhi um ótimo lugar para fazer meu intercâmbio!
    Beijos!

  3. Fantástico Tennily, simplesmente maravilhosa essa sua experiência. Que você posse seguir em frente conquistando todos os 360 meridianos. Irei acompanhar. Belíssimo material. Meus parabéns. Muito orgulho de você. Vejo em você a realização de um sonho que sempre tive quando tinha a sua idade mas que não me foi possível realizar nessa mesma medida. O tempo não para e cada segundo é precioso. Vamos buscando novas fronteiras. Muito sucesso de coração.

    1. Oi Julia, também gostamos muito do depoimento dela! Fantástico o texto. Dá vontade de ir para a Sérvia para passar pelas mesmas coisas.

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