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O dia da viagem é um dia perdido

Malas prontas para embarcar. Minha chegada ao aeroporto de Gatwick, em Londres, – que teoricamente é perto do centro – estava programada para às 9h50, depois de um longo voo entre Belo Horizonte e o velho continente. Com essa informação, você poderia dizer que era possível planejar passeios para a tarde, certo? Não.

19h – Saindo de casa

Quando eu fui para o Brasil, consegui aproveitar uma tarifa mais barata e me virar nos trinta para levar só uma mala de mão. No voo de volta, com os presentes de natal e outras coisinhas mais, tive que acrescentar uma mala na minha comitiva. Uma mala que não estava pesada demais e nem era enorme, mas somada à minha pesada mochila (com computador e câmera) e à minha bagagem despachada, num futuro não muito distante essa mala extra se tornaria um estorvo.

Além disso, na volta tive a brilhante ideia de mandar embalar a mala naqueles plásticos caros do aeroporto, para proteger a pequena dos desafios que enfrentaria no mundo terrível das malas despachadas. Outra decisão da qual em breve eu viria a me arrepender.

6h10 – A conexão de 1 hora

Apesar do voo direto, dessa vez Portugal não era meu destino. Era só uma escala muito corrida para a Inglaterra. Desci em Lisboa e saí correndo, eu, minha mochila e a minha bolsa a tiracolo, aeroporto afora, em busca do meu portão de embarque. Entrei na fila da imigração que me indicaram – e fiquei desesperada com o tempo passando e o embarque do meu voo seguinte cada vez mais próximo. Resolvi perguntar para um segurança se não teria como eu furar a fila para não perder o voo.

A resposta: “Ih menina, se vai para Londres a fila não é essa não, você tem é que ir naquele raio-x ali atrás”. E lá fui eu pedindo licença para todo mundo em volta, batendo mochila e bolsa tiracolo em quem não merecia. Corri, corri, entrei na fila, passei no raio-x, corri mais um pouco, cheguei lá bem na hora do embarque.

9h50 – Chegando no destino

Os aeroportos na Inglaterra têm uma logística meio estranha: te obrigam a caminhar por quilômetros até que você consiga chegar no logar que precisa. E quando você chegar onde precisa, esteja preparado para esperar. No caso, a fila da imigração.Todo mundo para ali, mas enquanto a enorme fila dos europeus enche e esvazia rápido, a fila dos outros meros mortais é como uma pia entupida.

Foi quase uma hora, com a mochila pesada nas costas e a bolsa desconfortável a tiracolo. Já era quase 11h30 quando eu finalmente passei pela imigração, resgatei minha malinha despachada e segui para o saguão do aeroporto. Ali, eu ainda tinha algumas missões: trocar algumas libras, comprar o bilhete do metrô, trocar meu chip brasileiro pelo português e finalmente ir para Londres.

dia de viagem cidade

12h – Como ir para o centro da cidade

Com o bilhete de transporte em mãos, corri, eu e minhas três bagagens, até o próximo trem, que iria partir em uns 10 minutos. Já estava completamente instalada quando resolvi prestar atenção no que o cara no microfone dizia. Basicamente, eu não poderia pegar aquele trem. Percebi isso faltando um minuto para o comboio partir. Saí mais uma vez correndo, praticamente me jogando para fora.

Fui para a plataforma certa e fiquei lá esperando o próximo transporte. Atrasou 10 minutos. E tome quase 1h30 de trem, metrô e baldeações até chegar à minha estação.

13h30 – O hostel e a floresta no caminho

No Google Maps, o caminho era de apenas 750 metros. O que o Google Maps não te conta é que esse caminho sempre pode ser a definição exata dos seus piores pesadelos. Atravessar uma rua sem sinal de pedestres, na mão-inglesa, subir um morro… E ainda descobrir que a ideia de ficar num hostel no meio de um parque era zero prática num dia pós chuva, com lama no caminho e uma mala, uma bolsa e uma mochila para carregar, depois de uma noite mal dormida no avião e com o corpo doendo.

Lá fui eu, rindo para não chorar do meu caminho pelo bosque, até encontrar minha hospedagem, fazer check-in e pensar que finalmente ia tomar banho.

14h – As escadas vindas do inferno

A Europa não é um continente que pensa em acessibilidade. Já fiquei em hotel, apartamento e albergue em mais de dez capitais em que escadas surgiam nos momentos mais inapropriados – e não estou mencionando as escadas em estações de metrô. Então, quando o atendente me disse que meu quarto era no “palácio” e apontou para uma construção histórica do outro lado da janela, eu só consegui pensar uma coisa. Que merda.

Para chegar lá, tive que descer escadas, cruzar um pátio e abrir os portões com o cartão magnético, que eu já tinha guardado em algum bolso que não achava mais. Uma vez dentro do dito palácio, cruzei umas cinco portas corta-fogo até descobrir o primeiro lance de escadas e quase começar a chorar quando vi o segundo. Nessa hora, apareceu uma boa alma que me ajudou a subir com as malas, que nem eram pesadas, mas extremamente inconvenientes.

Quando finalmente cheguei dentro do quarto, pensei: “ok, banho”, mas me deparei mais uma vez com a dureza da realidade.

14h20 – O dilema da mala

Lembra, no início dessa história, quando eu decidi pagar uma pequena fortuna para embalarem minha mala com um plástico protetor? Pois é, lá estava eu, olhando para essa mesma mala e pensando: “Por que, senhor?”. Eu considerei não abrir aquela mala e sobreviver com que tinha na mochila e na bolsa, o que seria perfeitamente possível, se eu não tivesse esquecido o chinelo na mala que foi despachada. E banheiro de hostel sem chinelo não rola.

Eu poderia muito bem ter decido as escadas e as portas corta-fogo, cruzado o pátio, subido outro lance de escadas, ido até a recepção e pedido uma tesoura emprestada, mas o meu nível de cansaço naquele momento era tamanho que resolvi me virar com o que tinha: um chaveiro não muito pontudo, minhas unhas meio quebradas e minha disposição em frangalhos.

Enquanto eu estava atracada com a mala, ainda chegaram meus colegas de quarto para a noite, que devem ter me achado louca, visto que não trocaram uma palavra comigo. Uns 15 minutos depois, meia unha a menos e com muito suor escorrendo pela testa, consegui abrir a mala. Isso tudo só para descobrir que o trabalho de protegê-la havia sido em vão: estava quebrada em duas partes. Isso que dá despachar uma mala comprada no supermercado.

dia de viagem malas

14h40 a 16h30 – Morta

Depois do banho percebi que não conseguia me mover e apaguei na cama.

A verdade é que eu só consegui juntar meus cacos e sair do hostel às 16h30. O dia já tinha acabado, figurativamente e literalmente: não só as atrações já estavam fechadas, como também o sol já tinha partido, como é comum nos meses frios na Europa.

Eu também não comia nada desde o voo de Lisboa para Londres, quando a TAP serviu um pão com ovo. Então fui encontrar com uma amiga e aproveitar o resto da noite num pub.

Moral da História

Toda vez que alguém me manda um roteiro daqueles que parecem saídos da pauta de algum general militar, digo: “Está muito corrido. E você também não deveria considerar o dia de viagem como um dia de passeio”. Dia de viagem é aquele dia de deslocamento, em que você vai de A para B, cruza oceanos, corta linhas férreas, transita por estradas.

Se eu tivesse planejado fazer qualquer coisa em Londres para o dia da minha chegada e tivesse contado esse como um dia de passeio, eu teria ficado, além de cansada, extremamente frustrada. Os dias em que você chega ou sai de um lugar são tomados por deslocamentos, burocracias e outras chatices que não só impedem uma boa viagem, como também te deixam exausto.

E isso não vale só para voo internacionais, não. Mesmo em trajetos nacionais, mesmo de trem, você vai gastar horas imprevisíveis, está sujeito a atrasos dos transportes e problemas com o hotel reservado. Logo, nunca conte o dia que for chegar ou sair de uma cidade como um dia para atrações específicas. Deixe esse dia para passeios mais relaxados, que não dependam de horário ou de qualquer esforço que não seja relaxar e recarregar as baterias para o dia seguinte.

*Crédito fotos: Shutterstock

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Luiza Antunes

Luiza Antunes é jornalista e escritora de viagens. É autora de mais de 800 artigos e reportagens sobre Viagem e Turismo. Estudou sobre Turismo Sustentável num Mestrado em Inovação Social em Portugal Atualmente mora na Inglaterra, quando não está viajando. Já teve casa nos Estados Unidos, Índia, Portugal e Alemanha, e já visitou mais de 50 países pelo mundo afora. Siga minhas viagens em @afluiza no Instagram.

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44 comentários sobre o texto “O dia da viagem é um dia perdido

  1. Que ótimo! Morri de rir. É assim mesmo. Na Europa eles não pensam em acessibilidade e não se lembram que o numero de idosos está crescendo. Fiquei num hotel muito antigo e charmoso em Rothenburg e foi assim mesmo. Terceiro andar e eu me matando para subir com a mala enorme e a única funcionária me olhando. Sinceramente, difícil que no Brasil isso aconteça. Já me aconteceu também kakaka. Eu era a única hóspede de um lindo hotel fazenda em Areias e o gerente ficou me olhando colocar as malas no carro. Graças, à Deus, eu com meus 64 anos ainda dou bem conta de me virar sozinha. Bando de gente sonsa! Mas faz parte. No fim dá tudo certo.

  2. Acho que valeu muito a pena vc embalar a mala com o plástico. Faço isso sempre porque me apavora a ideia da mala quebrar e perder minhas coisas esparramadas por aí. Rsss

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