Duzentos e cinquenta e dois quilômetros. Essa é a distância que separa Brasília de Alto Paraíso de Goiás, a capital da Chapada dos Veadeiros. Por sorte ou competência dos deuses, a região é linda, o que torna a viagem até lá tranquila – basta escolher uma música boa e ficar de olho na janela do veículo para perder a noção do tempo.
Além de ser perfeita para uma road trip, a Chapada dos Veadeiros é mística. Alto Paraíso atrai gente de todos tipos: dizem que o Paralelo 14, linha imaginária que corta a Terra e passa por cima de Alto Paraíso e de Machu Picchu, contribui para tornar essa região especial. Templos de várias religiões, espaços de meditação, ioga, restaurantes veganos por todos os lados e uma galera zen dividem espaço com cachoeiras, um solo riquíssimo em cristais de quartzo e uma sucessão inesgotável de cenários magníficos.
Há quem garanta que até os ETs curtem passar as férias lá – quem entende do assunto diz que a Chapada bate recordes de fenômenos UFO. Se é verdade eu não sei, mas não tem como negar que o boato ajuda a aumentar a aura que envolve Alto Paraíso de Goiás e a Chapada dos Veadeiros.
Como ir
Compre passagens para Brasília. Se tiver tempo de sobra, tire dois dias do roteiro, antes ou depois das cachoeiras, para conhecer a capital federal. De lá, siga para a Chapada dos Veadeiros, que está a cerca de 260 km ao norte de Brasília.
Vá pela BR-020, no sentido Formosa. No trevo da cidade é preciso pegar a BR-010, agora sentido Alto Paraíso. Essa rodovia mudará de nome assim que você sair do Distrito Federal e entrar em Goiás – a estrada vira GO-118. A partir daí é necessário decidir em qual base você vai ficar: Alto Paraíso, São Jorge ou Cavalcante. Para tomar essa decisão, pesa o tempo disponível para fazer a viagem.
O carro é tão útil que, dependendo de onde você morar, pode valer a pena dispensar o avião e pegar a estrada a partir de casa mesmo. Se for muito chão, não tenha dúvidas e voe para lá, mas pense em alugar um carro. Recomendo a leitura do texto em que explicamos como alugar um veículo com o melhor custo/benefício.
Quanto tempo ficar
O ideal é ter pelo menos cinco dias. E mesmo assim você não vai ver tudo – eu fiquei uma semana e não consegui fazer tudo que gostaria. Mas não desista da viagem se você tiver menos tempo disponível. Nesse caso, bastará mudar o roteiro.
Onde ficar
Nem todas os atrativos estão dentro do Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros e a maioria das cachoeiras fica em terrenos particulares de várias cidades da região. Por isso, o ideal é dividir seu tempo por pelo duas bases. Eu fiquei três noites em Cavalcante, a 345 km de Brasília e onde está a lindíssima Cachoeira de Santa Bárbara, e o restante em Alto Paraíso, que tem oito mil habitantes, quase uma centena de hotéis e pousadinhas e vários restaurantes.
Vale da Lua
Tem quem troque Alto Paraíso por São Jorge, distrito que tem 700 habitantes, ruas de terra batida e fica na porta do Parque Nacional. Além do tempo disponível, a escolha entre Alto Paraíso e São Jorge varia de acordo com o perfil do viajante: a primeira é mais estruturada e mística, enquanto a segunda é mais rustica e mochileira. Não importa a escolha, é provável que você passe por ambas.
Quem tem pouco tempo disponível pode escolher apenas uma base e focar o roteiro em conhecer as cachoeiras e atrativos ao redor. Se eu tivesse apenas três dias, optaria por Alto Paraíso ou São Jorge. Com cinco dias já dá para dividir o tempo entre Cavalcante (dois dias) e Alto Paraíso/São Jorge (três dias).
Veja também: Onde ficar na Chapada dos Veadeiros: a escolha da base
Roteiro: hora de caçar cachoeiras
Vá ao Centro de Atendimento ao Turista de Cavalcante ou de Alto Paraíso para pedir dicas, montar seu roteiro e contratar o serviço de guias, que é quase sempre recomendável e obrigatório em algumas trilhas.
Em Cavalcante, a estrela é a Cachoeira de Santa Bárbara, que pode ser visitada no mesmo dia da Cachoeira da Capivara. Para chegar lá, deixe o centro da cidade e passe pelo Quilombo Kalunga Engenho I. Muitos viajantes almoçam numa das casas do povoado, no final da tarde, depois de visitarem as duas cachoeiras. Outra cachoeira próxima de Cavalcante é a do Poço Encantado, que fica dentro de uma fazenda.
Cachoeira do Poço Encantado, em Cavalcante
Eu não fui, mas a Cachoeira de Ave Maria e o Rio da Prata são outros atrativos lindos e que são mais fáceis de serem visitados a partir de Cavalcante. E há mais opções. Nesse link aqui você acha uma lista com muitas das cachoeiras ao redor da cidade, que concentra 60% da área do Parque Nacional.
Ao fazer o caminho de volta, entre Cavalcante e Alto Paraíso de Goiás, paramos por uma hora na Cachoeira do Poço Encantado – sim, são duas com o mesmo nome, uma em Cavalcante e outra em Teresina de Goiás, que fica a 52 km de Alto Paraíso e a 23 km de Cavalcante. Uma pousada funciona no local e vários chalés têm vista para a cachoeira, que fica dentro da área do hotel, mas pode ser visitada por quem não é hóspede (a taxa é de R$ 20 por pessoa, valor padrão de muitos dos atrativos da Chapada).
Cachoeira do Poço Encantado, em Teresina de Goiás
Em Alto Paraíso e São Jorge as atrações principais são o Vale da Lua, a espetacular Catarata do Rio dos Couros e o Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros – quero muito voltar para fazer a trilha até o Mirante da Janela. A Cachoeira das Louquinhas e a dos Cristais são as duas mais urbanas de Alto Paraíso, ficando a poucos quilômetros da cidade e com trilhas de acesso bem curtas. Eu não fui, mas em Alto Paraíso ficam ainda as Cachoeiras Almécegas I e II, São Bento e Anjos e Arcanjos. Já as Cachoeiras de Raizama e a do Segredo ficam mais próximas de São Jorge.
Catarata dos Couros
Quando viajar para a Chapada dos Veadeiros
A Chapada é visitável o ano inteiro, mas o melhor é ir na época da seca, que vai de maio a outubro. Caso vá durante as chuvas, que ocorrem entre novembro e abril, preste muita atenção na possibilidade de pancadas de chuva, que tornam as cachoeiras mais perigosas. Não dispense o serviço de guia, ainda mais nessas épocas.
Em julho ocorre o Encontro dos Povos de Cultura Tradicional da Chapada dos Veadeiros, a maior festa da região, sempre em São Jorge.
Quanto vou gastar
Isso depende do seu estilo de viagem. Eu passei 9 dias no Centro-Oeste, viajando com amigos – foram 7 dias na Chapada, entre Cavalcante e Alto Paraíso de Goiás, e dois em Brasília. Gastei cerca de R$ 1800 na viagem, incluindo o aluguel do carro, combustível, comida, entrada nas cachoeiras, serviço dos guias, hotéis e passagens para Brasília a partir de Belo Horizonte – enfim, tudo. Para isso, tentei economizar em algumas refeições, mas não deixei de fazer nada por conta de grana, e fiquei em pousadas simples e numa casa de aluguel por temporada.
Um amigo foi de carro para a Chapada, também a partir de BH, optou por ficar num camping e gastou R$ 600, orçamento total da viagem para o mesmo período de tempo. Também conheço quem gastou bem mais. E, claro, quem viaja sozinho paga mais. Coloque suas escolhas no papel antes da viagem para saber quanto as férias custarão, mas em geral a Chapada dos Veadeiros é um destino econômico, muito mais em conta que o Jalapão e a Chapada Diamantina, apenas para citar dois exemplos, principalmente por conta da facilidade de deslocamento a partir de Brasília.
Rio dos Couros
Outras dicas
Essa não é uma viagem sedentária. Embora algumas cachoeiras sejam de acesso fácil, muitas delas exigem trilhas longas, que podem passar dos 10 quilômetros. As trilhas não são simples para crianças muito pequenas, que por conta disso nem podem entrar no Parque Nacional, nem para pessoas com mobilidade reduzida.
Leve calçados confortáveis, roupas leves, chapéu ou boné e muito protetor solar, repelente e água. Vale a pena levar também frutas e lanchinhos para as trilhas. E não tente fazer trilhas longas sem a presença de um guia local, ainda mais se você não está acostumado com esse tipo de viagem. De noite a temperatura cai, por isso leve pelo menos um agasalho.
Além das trilhas, as estradas nem sempre ajudam. Enfrentamos longas estradas de terra para chegar ao Rio dos Couros, por exemplo, e tivemos que entrar com o carro dentro d’água para atravessar dois ribeirões e chegar ao começo da trilha da Cachoeira de Santa Bárbara, em Cavalcante. Fomos com um carro 1.0 e não tivemos problemas, mas a viagem fica mais fácil se o carro for feito para estradas que não são feitas para carros. Há um posto de combustível na entrada de Alto Paraíso, a melhor opção para abastecer enquanto você circula pela Chapada.
Embora o Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros não cobre entrada, muitas das cachoeiras da região estão em áreas particulares e há cobrança de taxa, que gira em torno de R$ 20 por pessoa. Leve dinheiro em espécie com você. Há agências bancárias em Alto Paraíso (Banco do Brasil, Itaú e Caixa Econômica), na rua principal da cidade, e também em Cavalcante, embora em menor número.
Não está de carro? Você pode entrar em passeios organizados por agências ou até tentar dividir um tour com alguém que tenha carro. Procure os Centros de Atendimento ao Turista de cada cidade para se informar melhor. Em todo caso, por conta da proximidade com o Parque Nacional, muita gente que está a pé prefere ficar em São Jorge – é possível ir caminhando até a entrada do Parque.
Por fim, a Prefeitura de Alto Paraíso aconselha que os visitantes tomem a vacina contra Febre Amarela pelo menos 10 dias antes da viagem.
Você esteve na Chapada dos Veadeiros? Deixe suas dicas no comentários.
Conheça a catarata dos Couros: beleza na Chapada dos Veadeiros Clique aqui.
Boa tarde Rafael. Você custeou o aluguel do carro sozinho? Quanto se gasta em media com aluguel para mais ou menos 7 dias? Parabéns pelo blog
Oi, Roberto. Viajamos em grupo, 8 amigos, e alugamos dois carros. Dividimos entre todos.
Em média o aluguel de um carro de passeio custa R$ 100 por dia, já com todos os seguros. Lógico, o valor varia de acordo com a época e cidade, mas essa é uma boa média.
Abraço.
Estive lá no Carnaval e não tive tempo de conhecer tudo! Há muitas trilhas e cachoeiras. A vantagem de ir na época de chuva é que o volume de água é maior, a desvantagem é que nem sempre a cachoeira fica linda como nas fotos. Santa Bárbara não estava o cartão postal rsrs Um lugar incrível de se conhecer e de fácil acesso! Me impressionou o cuidado com as trilhas, uma consciência ecológica de modo geral dos visitantes (exceção nas cachoeiras de Almécegas).
Dá muita vontade de voltar, né, Luciana?
Gostei bastante também.
Abraço.
Quase chorei de saudade aqui. Quero muito voltar pra lá pra conseguir fazer o que não deu dessa vez. E é tão “em conta” que nem parece absurdo voltar, né?
Valeu pela companhia, por essa lembrança e, claro, por ter me salvado do afogamento hehe
haha. Temos que fazer outra viagem, Otavio. Sem afogamentos. 🙂
Sensacional o descritivo, está na lista de lugares a se visitar em breve. Com base nesta viagem recomendo conhecerem se já não conhecem a Serra da Canastra, fiz pesquisa no site e não vi nada relativo.
Serra da Canastra tem uma ótima estrutura, valores convidativos e cachoeiras para dar e vender.
Parabéns pelo post.
Ainda não conheço, William. E olha que sou de BH. Pretendo conhecer em breve.
Abraço.