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A Volta ao Mundo em 80 dias: 13 lugares por onde Phileas Fogg passou

O livro “A Volta ao Mundo em 80 dias”, escrito pelo francês Júlio Verne, é precursor da vontade de se aventurar pelo globo que afeta muita gente. Pelo menos foi o meu. Quando era criança, ganhei uma edição ilustrada do livro, que contava histórias dos lugares por onde o personagem passou e ainda tinha fotos lindas.

O resumo da história é o seguinte: em 1873, um refinado cavalheiro inglês, Phileas Fogg, cuja vida era tão certinha quanto chata, fez uma aposta com seus companheiros de um clube exclusivo que frequentava em Londres. Ele garantiu que seria possível dar a volta ao mundo em 80 dias. Em troca do feito, receberia 20 mil libras. Mais preocupado em honrar sua palavra do que com o prêmio, partiu mundo afora com seu mordomo recém-contratado, Passepartout.

A primeira pessoa que conseguiu quebrar o recorde fictício criado por Verne foi a jornalista Nellie Bly, que deu a volta ao mundo, partindo de Nova York, em 1889. Sua viagem levou 72 dias. Quer dar sua própria Volta ao Mundo? Veja nosso Tiktok com todas as dicas sobre uma passagem de volta ao mundo. E não esquece de seguir a gente lá, viu?

Por mais que muita gente já saiba o final do livro, não darei spoilers sobre as aventuras do Phileas aqui. Basta saber que no caminho ele teve problemas com o sistema de trens da Índia, perdeu navios, dinheiro, encontrou o amor de sua vida, foi perseguido por um detetive da polícia e se confundiu com o fuso horário.

Uma aventura cheia de perrengues e boas histórias, como em qualquer volta ao mundo digna do nome.

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Por que Phileas Fogg decidiu dar uma volta ao mundo em 80 dias?

Muita gente se pergunta: por que Phileas Fogg decidiu dar uma volta ao mundo em 80 dias? Enquanto jogava cartas com seus companheiros do Reform Club, uma conversa sobre um roubo de banco levou os cavalheiros a discutirem sobre como o mundo do final do século 19 parecia estar diminuindo com o avanço das tecnologias de transporte.

Baseados numa matéria do jornal Daily Telegraph, eles debatiam a possibilidade de dar a volta ao mundo em 80 dias. E é por isso que Fogg decide apostar com os companheiros, dizendo que consegue fazer a viagem. No mesmo dia, ele parte para a aventura com seu valete Passepartout.

“Esta noite mesmo, respondeu Phileas Fogg. Portanto, acrescentou ele consultando um calendário de bolso, já que hoje é quarta feira 2 de outubro, deverei estar de volta a Londres, a este mesmo salão do Reform Club, no sábado 21 de dezembro, às oito e quarenta e cinco da noite, caso contrário as vinte mil libras depositadas atualmente no meu crédito com os Irmãos Baring lhes pertencerão de fato e de direito, senhores. — Eis aqui um cheque de tal soma.” (A Volta ao Mundo em 80 dias, capítulo III, Julio Verne. Tradução: Teotonio Simões)

homens bebendo

Desenho de Alphonse de Neuville e/ou Léon Benett

Qual foi a inspiração de Julio Verne?

Segundo o tradutor William Butcher, Julio Verne teve a ideia para o livro numa tarde num café em Paris, enquanto lia um jornal. As inovações tecnológicas do século 19 fascinaram ao autor. Especialmente novidades lançadas por volta de 1870: a Ferrovia Transcontinental nos Estados Unidos; a Grande Ferrovia da Península Indiana; e a abertura do Canal de Suez no Egito.

A possibilidade de que uma pessoa poderia organizar um roteiro, comprar passagens e viajar ao redor do mundo era uma novidade fantástica e inimaginável antes disso.

Julio Verne é considerado o pai da ficção científica e até hoje é um dos autores mais traduzidos do mundo, sendo responsável por uma série chamada Voyages extraordinaires, que é composta por 54 histórias de viagens, dentre elas “A Volta ao Mundo em 80 dias”, e também “Viagem ao Centro da Terra” e “Vinte Mil Léguas Submarinas”.

Quanto tempo levaria a mesma volta ao mundo hoje?

No século 19, correr o mundo em 80 dias não era tarefa fácil. Por isso, os personagens do livro não tinham muito tempo para conhecer a fundo os lugares que visitavam. Em algumas das cidades eles ficaram apenas horas, entre a troca de trens ou navios.

Os lugares que Phileas Fogg planejou passar eram: Londres, Brindisi, Suez, Mumbai (na época Bombaim), Calcutá, Hong Kong, Yokohama, São Francisco, Nova York e de volta à Londres. Uma jornada de quase nove mil quilômetros!

roteiro phileas fogg volta ao mundo em 80 dias julio verne

Quadro ficcional publicado no Daily Telegraph, retirado do livro Around the World in 80 days

Na prática, a viagem ganhou outras paradas (algumas mais breves, outras mais longas), devido a diversos acontecimentos.

Atualmente o mesmo trajeto levaria, segundo o simulador das companhias aéreas da One World, até 6 dias – se eu partisse na segunda-feira que vem. Mas acredito que planejando com antecedência é possível diminuir esse tempo pela metade. Isso sem contar o fato de que há bem mais conexões entre os destinos, o que evitaria voltas e desvios desnecessários.

Mas, é claro, essa viagem apressada não teria graça nenhuma.

Os 13 lugares visitados em A Volta ao Mundo em 80 dias

Veja o mapa da Volta ao Mundo em 80 dias

Londres, Inglaterra

historic-bw-photos-of-london-england-in-19th-century-08Ponte de Londres no século 19. Crédito: Monovisions

Fogg não gostava muito de viajar. Ele passava seus dias jogando cartas com os companheiros do Reform Club. Pois saiba que o tal clube é real. Foi fundado em 1836 e existe até hoje.

Como o clube é privado, você provavelmente vai precisar dar um golpe ou entrar pelos fundos para conhecê-lo. Mas dá para passar na porta: fica na rua Pall Mall, 104 – na região chamada de City of Westminster. Ou seja, uma das áreas mais turísticas de Londres.

Ali, você, tal como Phileas, pode ver o Big Ben, a Abadia de Westminster, o Palácio de Buckingham. Se quiser visitar Londres, vale a pena ver as nossas dicas de o que fazer na cidade em até 5 dias e também de onde ficar em Londres.

Paris, França

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Notre Dame em 1859–60. Crédito: Charles Marville

No livro, Fogg e Passepartout deixam Londres no dia 2 de outubro, às 20h45, com uma passagem de primeira classe até Paris. A jornada, que envolve uma balsa de Dover para Calais, leva mais de 10 horas. Eles só chegam à Paris às 7h20 da manhã do dia seguinte.

Hoje em dia, um trem que sai da estação de St. Pancras, em Londres, passa por um túnel abaixo do Canal da Mancha e chega em Paris em exatas 2 horas e 30 minutos. Eu já peguei esse trem e contei aqui como foi a experiência de viajar abaixo do mar.

Além disso, os personagens não ficam nem duas horas na cidade natal de Passepartout – e já seguem rumo à Itália. Uma pena que não temos a chance de saber mais sobre a capital francesa do final do século 19.

Para quem quer conhecer a Paris de hoje em dia:
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Brindisi, Itália

Os personagens seguem de trem, passando ainda por Turim, até Brindisi, uma cidade portuária no Sul da Itália. No livro, essa é uma passagem bem rápida, citada apenas pelas anotações de Fogg sobre o início da sua jornada.

Brindisi era um importante porto desde a antiguidade grega e romana. Uma famosa estrada romana, a Via Appia, começava em Roma e terminava em Brindisi.

Além disso, Brindisi fica na região de Puglia, e nos seus arredores há excelentes destinos turísticos, como Bari, Alberobello e Matera.

Saiba mais: Roteiro pelo Sul da Itália: Puglia e Basilicata

Canal de Suez, Egito

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Canal de Suez no século 19. Crédito: Library of Congress

De navio à vapor, Fogg e Passepartout seguem pelo Canal de Suez, que liga o Mar Mediterrâneo ao Mar Vermelho. A fantástica obra, feita em 1869, permitiu que o trajeto Europa-Ásia pudesse ser feito sem a necessidade de contornar a África. Foi exatamente com esse objetivo que o personagem do livro passou pela cidade.

Hoje em dia, quem passa pela região Suez, além de ver um canal que ainda é uma das obras de engenharia mais importantes da história da humanidade, pode aproveitar para se banhar nas belas águas do Mar Vermelho, em Hurghada e Sharm el Sheik.

Quem tem vontade de conhecer mais do Egito pode ler nossos textos sobre o país:

Turismo no Egito: todas as dicas para viajar pelo país
Alexandria, Egito: a história da Biblioteca e da cidade de Alexandre, o Grande
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Onde ficar no Cairo: dicas de hotéis e melhores bairros

Mumbai, Índia

Quando Fogg e Passepartout estiveram em Mumbai, a cidade ainda se chamava Bombaim e a Índia estava sob domínio britânico.

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Victoria Station, Mumbai em 1870. Crédito:  Museum of Photographic Arts / Flickr

Entre as impressões que os personagens tiveram de lá, a mais importante é que Mumbai se trata de um grande caldeirão cultural, cheio de gente usando roupas diferentes e falando línguas, digamos, exóticas.

Ou seja, mais ou menos o que você encontra hoje se passear pela região do Colaba. Os personagens ficaram encantados e até comentaram sobre a Ilha Elephanta e os templos da cidade.

Passepartout, inclusive, causou comoção ao entrar num templo usando sapatos. E isso, ainda hoje, é considerado uma grande ofensa aos hindus: sempre fique descalço quando entrar nos templos e respeite a religião deles.

Tem vontade de conhecer Mumbai? Então leia:
Onde ficar em Mumbai: dicas de hospedagem
O que fazer em Mumbai: roteiro de dois dias

Calcutá, Índia

A jornada até Calcutá no livro é cheia de aventuras. É que a linha de trem que Fogg acreditara estar finalizada encontra-se incompleta. Assim, eles acabam seguindo parte do trajeto no lombo de elefantes (uma prática bastante recriminada hoje em dia), e ainda conhecem a personagem de Aouda no caminho, um jovem viúva à beira da morte.

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Rua de Calcutá no final do século 19

Calcutá, naquela época, era a capital da Índia Britânica e com isso, os personagens notam as diferenças entre um setor da cidade inteiramente construído à moda europeia, enquanto a parte “indiana” era relegada à sujeira e pobreza.

Hoje, quem visita Calcutá encontra esses mesmos problemas. A cidade, que ganhou fama pelos devotos da Santa Madre Teresa, não tem uma estrutura turística bem desenvolvida. Explicamos tudo nesse texto aqui. 

Cingapura

Dentro de um navio em direção a Hong Kong, Fogg e seus companheiros de viagem fazem um stop-over em Cingapura. Na curta passagem pela cidade-Estado, os viajantes notam as largas avenidas, os belos jardins e as deliciosas mangas (uma fruta exótica para os Europeus da época).

Cingapura Predio Banco Mercantil seculo 19

Cingapura no início do século 20

Parte das descrições sobre Cingapura permanece: de fato, a cidade ainda conserva jardins bem cuidados e grandes avenidas. Mas hoje também conta com arranha-céus e uma estrutura bastante moderna.

O que fazer em Cingapura: as principais atrações da cidade-estado
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Sentosa Island, uma ilha de diversão em Cingapura

Hong Kong, China

Hong kong volta ao mundo em 80 dias

Rua em Hong Kong no século 19. Crédito: Afong / SCMP

É engraçado que Passepartout, ao passear por Hong Kong, acha que tudo lembra uma cidade típica inglesa, como Kent ou Surrey. Também se impressiona, tal como Bombaim, Calcutá ou Cingapura, em como essas cidades demostram a supremacia do Império Britânico.

Hong Kong só deixou o domínio inglês em 1997, com direito a 50 anos numa espécie de limbo até voltar de vez ao controle da China. A cidade se tornou uma metrópole moderna, que mantém uma grande diversidade de nacionalidades, tal como Passepartout observa.

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Yokohama, Japão

Desde a época que Phileas Fogg passou por lá, Yokohama já era o maior porto do Japão e a segunda maior cidade do país. Mas as semelhanças param por aí.

yokohama Okinawa Soba (Rob) flicker (CC BY-NC-SA 2.0)

Ruas de Yokohama. Foto de KOZABURO TAMAMURA Crédito: Okinawa Soba (CC BY-NC-SA 2.0)

As ruas barulhentas – com cavalos e carruagens e população empobrecida – foram substituídas por uma cidade ultramoderna, com arranha-céus e luzes de LED para todos os lados.

Yokohama não tem tantas atrações, mas é vizinha de Tóquio, a capital. Nós escrevemos aqui algumas dicas de viagem para o Japão. 

São Francisco

Empolgado por finalmente chegar ao Novo Mundo, Passepartout ficou surpreso com a cidade que encontrou ao pisar pela primeira vez no continente americano.

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Com a cabeça cheia de preconceitos, ele esperava encontrar um universo de Bang Bang e outros personagens que chegaram ali, em São Francisco, Califórnia, durante a corrida do ouro.

Ele estava errado. E descobriu uma cidade com ares europeus, que muitas vezes fez com que ele se sentisse em Londres. No entanto, essa São Francisco foi completamente destruída por um terrível terremoto, em 1906.

Hoje em dia, a cidade é descrita (por todo mundo que eu conheço que já foi lá) como um das mais bonitas dos Estados Unidos.

Nova York

No caminho de trem entre São Francisco e Nova York, os personagens do livro se envolveram numa tremenda confusão com índios Sioux. Já na cidade, ficam hospedados em um hotel na Broadway, antes de seguirem viagem.

nova york seculo 19

Hoje, acredito que o desafio seria conseguir encontrar algum índio de verdade nos Estados Unidos. Se bem que em Nova York tudo é possível. A cidade que nunca dorme é um destino eletrizante para qualquer que seja a viagem ou perfil do viajante. Era assim em 1873, continua sendo até hoje.

O que fazer em NYC: guia completo para explorar a Big Apple
• Quanto custa viajar para Nova York?
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Cohb e Dublin, Irlanda

A passagem pela Irlanda, apesar de não planejada, foi estratégica. Depois de vários problemas para conseguir um navio, inclusive um motim, Fogg desembarca no porto irlandês de Queenstown (hoje conhecida como Cohb) e de lá pega um trem dos correios até Dublin, que depois segue para Liverpool, ganhando 12 horas de viagem em relação aos navios que fazem o trajeto pelo Atlântico.

Logo, não aprendemos nada sobre as impressões dos personagens sobre as cidades irlandesas, infelizmente.

Mas se você quer saber como é morar em Dublin hoje em dia, podemos te contar.

Liverpool, Inglaterra

Liverpool é outra cidade mencionada apenas de passagem no livro. A terra dos Beatles é, desde aquela época, um dos mais importantes portos ingleses: sabia que o Titanic partiu de lá?

liverpool princes dock

Porto de Liverpool

Apesar de hoje ser o turismo musical que atrai a maioria dos visitantes à Liverpool, a vida portuária ainda está fortemente presente na cidade, seja nos pubs, nos museus ou nos cartões-postais.

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Luiza Antunes

Luiza Antunes é jornalista e escritora de viagens. É autora de mais de 800 artigos e reportagens sobre Viagem e Turismo. Estudou sobre Turismo Sustentável num Mestrado em Inovação Social em Portugal Atualmente mora na Inglaterra, quando não está viajando. Já teve casa nos Estados Unidos, Índia, Portugal e Alemanha, e já visitou mais de 50 países pelo mundo afora. Siga minhas viagens em @afluiza no Instagram.

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29 comentários sobre o texto “A Volta ao Mundo em 80 dias: 13 lugares por onde Phileas Fogg passou

  1. Os lugares que Phileas Fogg planejou passar eram: Londres, Brindisi, Suez, Mumbai (na época Bombaim), Calcutá, Hong Kong, Yokohama, São Francisco, Nova York e de volta à Londres. Uma jornada de quase NOVE mil quilômetros.
    Esta informação está incorreta. Se você buscar pelo Google as distâncias entre cada uma das cidades citadas e somá-las vai verificar que esta trajetória possui distância superior a 35.000 km.

  2. Luiza

    Oi, TD bom ?
    Eu amei suas informações muito obrigada ❤ tenho prova amanhã desse livro vc me ajudou muito bjs? escreva mais resuminhos
    Obrigada ❤

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