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Como é fazer um intercâmbio na Bolívia

Já pensou em fazer um intercâmbio na Bolívia? A Tatiana de Brito fez isso, em 2011. Ela dava aulas de xadrez para crianças e escreveu este post, relatando como essa experiência mudou a vida dela. Assim como a gente, ela também fez intercâmbio pela AIESEC, uma organização apartidária, independente, educacional, sem fins lucrativos e totalmente formada e gerenciada por estudantes universitários. Veja abaixo o relato da Tatiana.

Meu Intercâmbio na Bolívia

Cheguei em Sucre, capital da Bolívia, em julho de 2011 e iniciei meu trabalho no mesmo dia. Eu deveria morar uma semana na cidade e depois me mudar para uma província, mas como era período de férias e eu trabalharia com alunos de uma escola regular, tive que ficar três semanas em Sucre até me mudar para a nova cidade. Isso foi excelente, porque pude aproveitar a capital, que é muuuuito tranquila, além de fazer algumas viagens, pequenas, porém muito boas.

Intercâmbio na Bolívia

 As cidades da Bolívia são completamente diferentes umas das outras. La Paz, a sede do governo, é tipo a São Paulo da Bolívia. O centro e os pontos turísticos são lindos, mas a parte pobre é realmente grande, como em quase todo lugar por aqui. É a maior cidade do país. Já Santa Cruz de La Sierra me pareceu calma e com padrão de vida mais elevado. Acho que é um ponto industrial e comercial muito importante para o país. Segundo os bolivianos, é a cidade mais cara para se viver. Em compensação, Sucre é calma. Lá TODAS as casas são brancas, e a cidade é cheia de gringos, museus e totalmente colonial. Um belo lugar para morar.

Intercâmbio na Bolívia

Em Sucre, na Bolívia. 

Eu levei um tempo para me habituar à rotina da Bolívia. A princípio, eu não teria gastos com alimentação e moradia, mas tive que morar três semanas numa pensão em Sucre com o Matheus, outro brasileiro de Itajubá, e uma suíça, com a qual eu dividia o quarto. Por isso, tive que pagar pela casa e para comer fora todos os dias. Em uma semana meu dinheiro para toda a viagem tinha acabado. É claro que meu pai não ficou muito feliz com isso hauhauahua! Cada real vale quatro bolivianos, a moeda deles. Para nós, é tudo muito barato aqui, e isso é um perigo, acreditem.

A comida foi maravilhosa por uma semana e depois disso todos nós, gringos, começamos a passar mal. Eu saí do Brasil com uma gastrite nervosa horrorosa, por isso não podia comer quase nada. Pensei que fosse ser o caos a encarar a comida boliviana… Por uma semana correu todo bem, depois minha gastrite atacou de novo. Um por um, ficamos doentes. O responsável pela Escola de Xadrez ficou preocupado e mandou um médico nos visitar. Sim, durante o meu intercâmbio eu ensinei xadrez e o projeto foi fantástico! Eu e a suíça tínhamos que ensinar às crianças iniciantes, e Matheus e Vinícius praticavam com os melhores, que competiam a nível nacional.

Intercâmbio na Bolívia

Alguns competidores eram realmente bons. Eu perdi altas vezes para crianças de seis anos de idade! Em Sucre, trabalhávamos cerca de três horas por dia. Na primeira semana eu, Matheus e Vinícius fizemos um intensivão de espanhol: 4 horas de aula por dia, durante a manhã. Foi uma semana muito cansativa, porque há um time de bolivianos para cuidar dos intercambistas e eles levam a tarefa a sério até demais. Nós nem podíamos almoçar sozinhos! Eles se revezavam para ir com a gente em todos os lugares e tinham sempre algo programado. As pessoas da AIESEC Bolívia são queridíssimas e o intercâmbio foi excelente. O responsável pela Escola de Xadrez é muito gente boa. Nós aparecemos na TV três vezes para falar do projeto.

Consegui me virar com meu espanhol por lá, mas não como eu gostaria. No começo eu peguei altos tiques de linguagem da suíça, porque era com ela que eu mais conversava. Ou seja: comecei a falar espanhol como uma gringa alemã… bizarro! Mas depois eu consegui parar com isso. Falando em ser gringo, todos sempre perguntavam se eu era da Europa e se espantavam com a minha altura, já que todos na Bolívia são bem baixinhos.

Intercâmbio na Bolívia

Outra curiosidade é em relação ao atendimento em lojas e restaurantes. É terrível! As pessoas que trabalham nesses locais geralmente só são simpáticas em lugares para gringos, com poucas exceções. A comida geralmente é servida meio fria e as bebidas, quentes. Te dão um refri direto da grade sem titubear e consideram muito estranho quando alguém reclama. Levamos um tempo para nos acostumarmos com isso.

Nas viagens de ônibus, é o esperado penhasco de um lado e o barranco do outro. Nas cidades pequenas, com a mesma frequência que encontramos no Brasil cursos de línguas estrangeiras, lá encontrávamos de línguas indígenas. Nas cidades grandes, sempre é possível achar um campesino velho que não fala espanhol. Ou uma criança suja te pedindo dinheiro a cada cem metros, o que é muito triste. É muito comum ver pessoas dormindo na rua, geralmente idosos que vêm do campo sem nada.

O atraso é outra coisa comum. As pessoas chegam a se atrasar duas horas para um compromisso para o qual elas mesmas estipularam o horário. Eu me aborrecia demais com isso no começo. A suíça, mais rigorosa do que eu, aguentou mais firme essa situação que, sério, é terrível. Tudo atrasa… até os voos. Quando eles dizem que estão chegando, estão saindo de casa, e se dizem que estão a uma quadra, estão a 10. E se marcam um compromisso numa hora específica, se você chegar 40 minutos depois ainda chega primeiro que todos os outros.

Bom, como eu disse, depois de três semanas eu tive que me mudar de cidade. Fui ensinar xadrez numa escola de freiras. Na verdade não era uma cidade, já que eles chamam de província. É um lugar com uns 20 mil habitantes, mas ninguém jamais diria que tem mais que 2 mil. É um povoado. Não tem supermercado, a internet é muito cara (mesmo nas lan houses), além de ser absurdamente lenta. Eu gastava 20 minutos e 10 bolivianos (cerca de R$ 3) só para abrir meu e-mail, e não estou exagerando. Claro que na capital a situação é melhor. Tem um lugar para fazer chamadas internacionais baratas a cada esquina, bem como lugares com wi-fi e a internet que, apesar de ruim, dá pra usar.

Intercâmbio na Bolívia

Na nova cidade, morei sozinha numa parte da casa das freiras, que era a antiga escola. Era um prédio muito, muito velho, com uma igreja também velha dentro. Um lugar que, quando descobri, quase morri de susto, porque acho essas coisas macabras. E eram zilhões de portas que não fechavam e ficavam batendo à noite, com o vento. Nos primeiros dias eu não tinha chave de nenhuma porta… eu quase não conseguia dormir, de medo. No início eu chorava o tempo todo, mas no fim, conseguir ficar sozinha foi um dos maiores aprendizados para mim. Quando eu saia na rua tinha que me virar e falar espanhol.

Minha única quase amiga lá era uma tia velha que tem uma vendinha na esquina, onde eu comprava uns bolinhos de chocolate todos os dias. No mais, eu convivia com as freiras, que moravam no outro bloco gigante da casa; e as crianças do xadrez, que jogavam com tanto gosto que era impossível pensar em ir embora. As pessoas de Sucre me ligavam todos os dias e com o tempo isso parou de me encher o saco… muito pelo contrário, eu amo aquela cidade e aquelas pessoas, e a atenção deles é o que me manteve tranquila durante meu intercâmbio.

Fui embora da Bolívia e não, eu não conheci o Lago Titicaca, nem o Deserto de Sal, mas não foi esse o meu objetivo. Não fiz intercâmbio para ser turista e não fui. Meu objetivo está totalmente cumprido. Aprendi tanto sobre mim mesma que é impossível descrever. Falei inglês, alemão, espanhol e trabalhei com crianças que eu tenho certeza que nunca vão esquecer minha passagem por lá, porque eu consegui mudar a rotina delas e aprender com isso.

Morei numa província afastada, onde eu só cheguei depois de 10 horas viagem de ônibus numa estrada de terra com vacas pelo caminho. Fiz grandes amigos, conheci pessoas e lugares incríveis e aprendi a valorizar o que há na Bolívia, além de valorizar em dobro tudo que eu tenho no Brasil. O que eu mais quero é que todos vocês possam viver isso também. Aprendi o quanto são incríveis as diferenças e o quanto minha vida é linda.

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14 comentários sobre o texto “Como é fazer um intercâmbio na Bolívia

  1. Boa tarde prezada Tatiana, meu nome é Fabiana e sou acadêmica de Farmácia na UFMS. Adorei o seu relato, e gostaria muito de conseguir fazer um intercâmbio para a Bolívia… O único detalhe é que o dindim está bem limitado… Como vc fez??? Saiu muito caro???
    Caso seja possível, por gentileza, este é o meu e-mail para conversarmos mais sobre está sua linda esperiencia.
    O que me recomendaria ver ou ir atrás para comseguir realizar um intercâmbio a este país???
    biagoering@gmail.com
    Desde já agradeço a atenção e compreensão, obrigada.
    Cordialmente,

    Fabiana Andreia

  2. Olá Tatiana, adorei seu relato. Estou pensando em fazer um intercambio na Bolívia, mas bate aquele frio na barriga em estar indo para um pais totalmente desconhecido. Gostaria de conversar mais com você, saber mais sobre o país, a vida lá, iria me ajudar bastante a ter um norte sobre algumas coisas, não tenho ideia de como começar a me programar. Caso possa entrar em contato comigo, seria muito grata! Meu e-mail é jazielebritosantos@gmail.com

  3. Sou Engenheiro de alimentos e tenho experiência em controle de qualidade em cervejaria e frigorífico, e estou querendo ir para a Bolívia como posso fazer?

  4. Ola, gostei muito de lêr o seu relato, Como fazer um intercâmbio na Bolívia?
    Meu filho vai estudar medicina em Sucre, por favor me fale mais da cidade, e como é viver la, tem violencia? O custo de vida?

  5. Tatiana, se você pudesse, claro, gostaria de conversar com você por email ou Skype sobre sua experiência de intercâmbio pelo aiesec. Estou pensando em fazer por essa organização, mas meus pais ficam com um pouco de medo. Nunca fiz intercâmbio, nem nada parecido e tenho muitas dúvidas. Se você puder, é só me mandar a resposta para meu email (marimenezes94@gmail.com). Caso mais alguém que esteja lendo já passou por essa experiência, me contatem, por favor!

  6. Até uns meses atrás eu iria torcer o nariz e pensar no que diabos alguém vai fazer na Bolívia.
    Ainda bem que eu mudei esse pensamento…
    É muito bom ver gente que consegue adquirir riquesa na simplicidade. Acho que não importa o lugar que a gente vai conhecer, quem vai pra mudar e evoluir pode ir pra Paris ou pode ir pro Sucre.

    Beijos

    1. Pois é, Letícia. Há uns anos eu também não colocaria lugares como a Bolívia ma minha lista de prioridades. Uma bobagem. Fui para a Índia, lugar que muitos jamais pisariam, e essa viagem mudou minha vida. Hoje não tenho preconceitos – só evitaria países realmente perigosos, onde o turismo é desaconselhado pela ONU. Fora isso, vou para qualquer lugar. Abraço!

    1. Tem hora que eu esqueço que você mora na Bolívia, Sut-Mie! Um país que com certeza eu quero muito conhecer! Também gostei muito do relato da Tatiana, fiquei até com vontade de fazer um trabalho voluntário igual ao dela. Quer dizer, quase igual, já que TODAS as crianças de seis anos ganhariam de mim numa partida de Xadrez. hehehe

    1. Oi Tatiana! Gostamos MUITO do seu texto e da sua experiência! Emocionante! Muito obrigado por compartilhar! Me deu muita vontade de fazer uma viagens dessas novamente! Abraço!

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