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Por que a Tailândia não mudou a minha vida

Algumas viagens dão errado. E não é por culpa do Murhpy. É por culpa de decisões erradas, falta de pesquisa ou de informação. E pode ser azar mesmo. No caso da Tailândia, acho que foram todas essas coisas juntas.

Eu sempre quis conhecer a Tailândia. Entre os nossos destinos na Ásia, era o mais aguardado por mim. Por isso, decidimos ficar 17 dias no país. Eu achei que ia gostar de lá por causa da fama incrível de praias paradisíacas e festas inesquecíveis. Imaginei que era um país exótico, divertido e bonito. A questão é que provavelmente a Tailândia é todas essas coisas, mas como todos os lugares do mundo, tem o seu lado ruim.

E, no caso, nós fomos parar nesse lado ruim – que atende pelo no nome de Phuket. Mas mesmo antes disso tivemos alguns problemas: tudo começou no planejamento da viagem. Reservamos alguns dias para explorar Bangkok, a capital do país, e outros para ficar em Chiang Mai, província do norte. São lugares legais para visitar, mas demos o azar enorme de lidar com pessoas horríveis. Mais exatamente, dois motoristas de tuk-tuk que foram extremamente agressivos, um deles chegando ao ponto de chamar o Rafa para a briga enquanto nos organizávamos para dividir o valor da corrida em quatro. Essas situações de tensão, em geral, desmotivam as pessoas em relação aos lugares. Depois, felizmente, conhecemos pessoas mais gentis, mas acabamos guardando um pouco desse ranço por conta dos incidentes.

Fora isso, ainda lidamos com várias pessoas tentando nos extorquir dinheiro por meio de golpes e de preços abusivos. Essa vibe de “queremos todos os seus dólares” pode até funcionar com os turistas europeus e americanos endinheirados num país empobrecido, mas é muito difícil lidar com isso quando você é um mochileiro numa viagem ultra-econômica.

Com isso, um dos poucos lugares que conseguíamos nos alimentar por um preço bom era no Seven Eleven, uma rede de lojas de conveniência famosa mundo afora, onde comíamos cachorro quente. Até hoje tenho pesadelos com aquela salsicha sem gosto, temperada com katchup e mostarda e mais nada. Restaurantes estavam completamente fora da nossa realidade financeira – e dos preços cobrados nos outros cantos da Ásia que visitamos. E, quando finalmente encontramos barraquinhas de rua com comida digna, tivemos outro problema: a chuva.

O problema é que estávamos na época de monções. E aí que entra a nossa burrice: entendemos errado o mapa das monções – que é um pouco confuso, dá um desconto. Assim, resolvemos não ir à costa leste em junho, porque ali estaria chovendo. Na verdade, era exatamente o contrário. Acabamos escolhendo Phuket e, mais especificamente, a Patong Beach. Tudo pensado para que eu passasse meu aniversário enchendo a cara numa praia paradisíaca.

Chegando lá, encontramos uma praia das mais mequetrefes, suja e com o mar de ressaca. E uma programação noturna focada na exploração sexual. No dia seguinte, fomos visitar Phi Phi de barco. Amamos e resolvemos que  iríamos ficar ali mesmo – porque ali, sim, era a praia que tínhamos em mente. Só precisávamos buscar nossas malas e fazer check out no hotel de Phuket. Eis que no retorno começa uma tempestade daquelas que fazem as ondas ficarem maiores do que o barco.

Essa tempestade foi se alongando dias afora, não dando uma mínima folguinha nem para que pudéssemos sair para comer. Passei meu aniversário e os dias que o antecederam trancada num quarto de hotel negociando com a Ibéria – companhia responsável pelo nosso ticket de volta ao mundo – para adiantar nosso voo para Cingapura. Plano que não deu certo. Acabamos diminuindo nossos dias nas praias da Tailândia assim que a chuva deu uma trégua. Voltamos antes do previsto para Bangkok e conhecemos Ayutthaya, que valeu muito a pena.

De Phuket só guardo péssimas lembranças da chuva e da exploração sexual. Não, a Tailândia não mudou minha vida, nem é o lugar que mais tenho boas histórias para me recordar, apesar de ter gostado bastante de alguns lugares que vi por lá. Gostaria de voltar para conhecer os tais lugares que mudam a vida de muita gente, como Krabi e Ko Samui, ou a tal da festa da Lua Cheia. Talvez eu goste, ou talvez eu descubra que esse, de fato, não é o  destino certo para mim no mundo.

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Luiza Antunes

Luiza Antunes é jornalista e escritora de viagens. É autora de mais de 800 artigos e reportagens sobre Viagem e Turismo. Estudou sobre Turismo Sustentável num Mestrado em Inovação Social em Portugal Atualmente mora na Inglaterra, quando não está viajando. Já teve casa nos Estados Unidos, Índia, Portugal e Alemanha, e já visitou mais de 50 países pelo mundo afora. Siga minhas viagens em @afluiza no Instagram.

Ver Comentários

  • Pessoal,

    Obrigada por compartilharem tantas informações.

    Minha lua de mel será a partir do dia 07/09/15 e estou com muito medo pois li que setembro chove muito por lá, pela experiência de vcs, acham que devo arriscar?

    Muito obrigada!
    Beijos

  • Oi, Luiza.

    Não desista da Tailândia. Dê uma segunda (terceira, quarta, quinta...) chance.

    Li seu post com dor no coração. Gosto tanto daquele lugar que estamos embarcando pela segunda vez para lá.

    Conheci as praias da Malásia e Indonésia também e nenhuma chega aos pés das amigas tailandesas.

    Espero que tenha sorte na próxima e que a Tailândia conquiste seu coração, como conquistou o meu.

    ;)

    Bjs

    • Ei Glau,

      Eu não desisti, pretendo voltar lá quando for à Asia novamente! Mas só não dou uma segunda chance é para Phuket, lá, não pretendo pisar nunca mais! hehe

      bjs

  • Oi Luíza!

    Acho que quem faz a vida mudar é você, e não a sua viagem. Sua visão acabou girando em torno das suas expectativas. Você esperava muito do lugar e não soube lidar com aquilo que recebeu... infelizmente a vida não é assim tão controlável. As vezes vale saber lidar com o que você tem.

    Outra coisa é que sua vida provavelmente mudou e você quem não percebeu. Viagens boas ensinam pouco, mas as ruins acabam ensinando as coisas mais valioas. Novamente, talvez a sua expectativa de mudança que esteja obstruindo o quanto ganhou nessa viagem.

    Viajar querendo apenas passar pelo melhor do mundo é tolisse. O mundo é assim mesmo. Pessoas são desonestas, mas existe uma causa que vem da cultura, educação e condições do povo. O dia faz sol assim como chove. A vida é isso, saber viver com os altos e baixos - e quem sabe, tentar a melhorar os baixos?

    (não é uma crítica de forma alguma, apenas a visão que tenho sobre o assunto e que talvez ajude a ver as coisas por outro ângulo)

    • Eu já tinha lido este post da Luiza e gostei muito, ela foi extremamente sincera. Muitas pessoas viajam e não tem coragem de assumir que não curtiram. Acho legal a sinceridade. Não acredito que o problema ai seja trabalhar com expectativas, mas sim com coisas que não curtimos.
      Eu fui pra Israel e não gostei, pronto! Não preciso me justificar, e se algum amigo quiser ir direi todos os pontos que achei negativo.
      Discordando de você eu viajo esperando o melhor, mas sei trabalhar com imprevistos, mas pelo post da Luiza vi que ela não deu muita sorte, então não teria muita coisa boa pra falar. Posts como o delas ajudam muita gente a não cair em furadas.

    • Oi Tiago,

      Gostei muito do seu comentário, concordo com várias coisas, apesar de achar que algumas posições não se aplicam com o que eu quis dizer nesse post.

      Usei o "não mudou a minha vida" mais como uma expressão de que eu não curti tanto quanto vendem o destino, por todos os motivos explicados. Até para ajudar as pessoas que estão planejando uma viagem para lá a não caírem nos mesmos erros que eu caí. Mas no quesito aprendizado, amadurecimento, entendimento do mercado turístico, a Tailândia muito muito minha vida, me fez refletir sobre várias coisas e também ensinou sobre como planejar minhas viagens com mais cuidado.

  • Que pena que a Tailândia não mudou a sua vida. Infelizmente e não sei por qual razão Pukhet é um dos locais mais procurados e salvo as pessoas que estão à procura de turismo sexual se decepcionam. Você descreveu bem o local e confesso que nem lembrava o quão ruim é em decorrência de tantas outras maravilhas que vivi na Tailândia. Isso porque morei um ano lá como intercambista e a Tailândia mais do que mudou minha vida, mesmo porque conheci uma Tailândia diferente da que é apresentada aos turistas: vivi com uma família tailandesa, frequentava a escola, vivi a cultura tradicional em face do caos proporcionado pelo turismo. Mas acredito que mesmo como turista a Tailândia é um poço de aprendizado, de amor e muito mais. Uma humilde dica para que essa experiência ruim não aconteça com vocês novamente é procurar de informar sobre o país/cidade se possível com algum brasileiro que já tenha morado lá. Ele saberia te dar dicas de preços, locais, pessoas e etc de maneira compatível como a nossa cultura e imparcial.

    beijos

    • Carolina, é muito arriscado ir em setembro? Eu gostaria muito de passar minha lua de mel lá (bangkok, krabi e Phi Phi don), mas to morrendo de medo das monções..

    • Oi Carolina,

      Concordo com tudo o que você disse. Eu quero muito voltar na Tailândia e conhecer os lugares que não fui. E também em outro momento, sem monções e sem precisar economizar tanto. Acredito mesmo que é um país especial e com uma cultura bonita.

      Você morou lá onde? Se quiser escrever sobre a sua experiência lá como intercâmbista e sobre os costumes tailandeses, vamos adorar publicar =)

      bjs

      • Morei em Samut Prakan e estudava em Bangkok. Isso foi em 2005/2006. Seria um prazer dividir um pouquinho do que sei com vocês. Como faríamos isso?
        Um beijo

  • Olha, adorei as dicas. Estou indo agora em maio para: Bang kok, Phuket, Kuala Lumpur, Hong Kong no Sudeste Asiático. E, na Europa: Paris e Amsterdã. Amsterdã a minha preferida. Bem o meu grilo é com as monções na Tailândia e o restante do Sudeste Asiático. Era para eu ter ido em fevereiro, mas mudei de horário no meu emprego, e as férias ficaram para maio. Como será no inicio do mês de maio espero que eu não pegue muita chuva, pois adoro praia, e a Tailândia sempre foi um sonho para eu conhecer. Já tinha lido a respeito dos truques que sempre virão, tuk tuk, não entrarei em um nem por decreto e outras coisitas mas. Um grande abraço.

  • Fiquei 24 dias na Tailandia e antes da viagem havia lido somente relatos de muito amor e paixão pelo país, e realmente o seu post descreve uma realidade que as vezes o pessoal esquece de acrescentar. Durante o período que estava lá muitas coisas me chamaram atenção pelo lado negativo, como por exemplo o descarte de lixo nas ilhas phi phi ser o reciclavel no mar e o organico no meio da ilha sem o devido tratamento, acarretando que em alguns anos a ilha estara certamente com o solo poluido. Estar em uma praia com uma beleza natural tão linda e ver que não estão cuidando da maneira adequada dava uma tristeza. A higiene e transito caótico, bem é notório para todos. Durante os dias lá não conseguia relaxar 100% pois sempre tinha uma comida que fazia mal, uma ilha sem carros mas com stress de transito com os carinhos e evitar os golpes. Hoje penso que voltaria para lá certamente, porém com outros olhos, sem dar mais valor ao lugar que ele realmente merece. Enfim, desabafei. hehehe. Parabéns pelo post.

  • Acabei de voltar da Ásia e antes de ir já havia lindo este post, graças a ele tomamos as devidas precauções e tivemos uma estadia maravilhosa!

  • Olá Luíza, muito legal o blog! Eu sempre quis conhecer a Tailândia e finalmente estive lá em abril do ano passado por quase 20 dias. Foi a maior decepção. Achei o povo super enrolado e desonesto. A comida é sensacional. Verdade seja dita. Obviamente as experiências são muito subjetivas e variam mas eu não recomendo a Tailândia para ninguém. Tenho uma amiga que tem a visão (de lá) maravilhosa. Diz que foi uma viagem que mudou a vida dela. Além de Bangkok, estive em Koh Phangan e Koh Samui. Quanto às praias, eu digo sempre que sou brasileira. Então nós temos excelentes parâmetros. Essa viagem foi tão ruim (e olha que fiquei hospedada em lugares excelentes e quase não choveu) que me desencantei de ir à Ásia novamente... Ainda bem que o mundo é grande! Abraços e boas viagens!

    • Ei Ana,

      Foi mal a demora para responder, final de ano, você sabe como é.

      Entendo seu desencanto com a Tailândia, afinal eu compartilho o sentimento, mas não se desencante com a Ásia, porque é um continente que vai muito além. Da próxima vez, tente conhecer lugares que não tenham praia e festa como foco, acho que você vai gostar bem mais (apesar de eu ter amado a Indonésia - mas fiquei longe de Kuta).

      A Ásia não só é enorme, como é incrível, e vale muito a pena ser conhecida.

      bjs

    • Oi Rafaela, depende da costa que vc vai...

      As monçõesnNa costa do Andaman Sea é de maio a outubro; na costa do Golfo da Thailandia é de novembro a abril.

      bjs

  • Adorei seu texto e sua forma realista de fazer uma crítica. É isso que buscamos opiniões assertivas e não tão emocionais. Adorei!

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Publicado por
Luiza Antunes

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