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Quanto dinheiro preciso para ser um nômade digital?

O conceito você já conhece: ser um nômade digital significa usar a internet para trabalhar de qualquer lugar do mundo. Reuniões não mais na sala do escritório, mas por Skype. Horário de trabalho não mais definido pelo patrão, mas por você. Rotina que pode ser em São Paulo, em Nova York ou numa vila perdida no Himalaia – para um nômade digital, tanto faz. Basta ter internet.

Nós aderimos a esse estilo de vida no meio de 2013, assim que percebemos que era possível viver, trabalhar e ganhar dinheiro na estrada. Desde então, já fiz um mochilão de dois meses pela Europa, trabalho voluntário e mochilão na Argentina, morei no Espírito Santo, viajei pelo litoral de São Paulo e passei algum tempo em Belo Horizonte, com minha família. Em todas ocasiões, nunca deixei de trabalhar.

Ok, minha família acha que virei uma espécie de vagabundo e não faz ideia de como eu ganho dinheiro, mas a verdade é que tenho uma rotina de trabalho como outra qualquer. Com características próprias, vantagens e desvantagens, mas nada de outro mundo. Muito pelo contrário, ser um nômade digital é certamente algo deste mundo, o mundo moderno, cujas fronteiras foram modificadas e as distâncias diminuíram por causa da internet.

Nós últimos meses já escrevemos sobre quais são as carreiras mais indicadas para quem quer ser nômade digital, falamos sobre como é viver da renda de um blog e demos dicas para quem quer conciliar trabalho com viagens. Neste post, o assunto é mais direto – chegou a hora de falar de dinheiro. Afinal de contas, quantos Obamas são necessários por mês para quem deseja viver como um nômade digital? A resposta, como não poderia deixar de ser, não é fácil.

Que tipo de nômade digital você quer ser?

Não é fácil, afinal números são incapazes de envolver toda a complexidade da pergunta. É como na vida normal: qual a resposta certa para a pergunta “quanto dinheiro é preciso para viver em São Paulo?”

Depende. De você. Do seu estilo de vida, do bairro onde você pretende morar, das coisas que você gosta de fazer, dos seus objetivos de vida. Você tem filhos? Cachorro? Periquito? Tudo isso afeta o orçamento. A mesma coisa vale para definir um orçamento de viagem e também para determinar quanto dinheiro é preciso para ser um nômade digital.

Para não fugir da resposta, vou apresentar aqui o nosso orçamento. Ou melhor, orçamentos, no plural – tanto o meu e da Naty, na Argentina, como o da Luíza, que acabou de se mudar para Portugal. Na hora de analisar os números, lembre-se que esta é a nossa realidade. É possível viver como um nômade digital com menos dinheiro. E com certeza muitas pessoas precisariam de mais Obamas do que a gente. Vale lembrar também que o custo de vida varia muito de acordo com o(s) país(es) escolhido(s) pelo viajante para exercer o nomadismo.

Nômades na Argentina

Buenos Aires é uma das capitais mundiais dos nômades digitais – muitos, principalmente gringos, escolhem a maior cidade da Argentina como base. E nem é preciso procurar muito: no hostel onde moramos por seis semanas vivia também uma australiana. Ela estava na Argentina há um ano, aprendendo espanhol e trabalhando com agente de viagens, pela internet.  Mas por que a preferência dos nômades pela cidade? Dois motivos: boa infraestrutura e custo de vida baixo. Muito mais baixo do que alguns dos países vizinhos, tipo Brasil, Chile e Uruguai.

Congresso da Argentina

Congresso da Argentina, pertinho de onde moramos por cerca de dois meses

Fomos  para a Argentina para fazer um intercâmbio de trabalho voluntário. Por isso, optamos por ficar num quarto privativo de hostel, o que daria tranquilidade para viver por lá ao mesmo tempo em que permitiria conhecer pessoas, o que seria mais difícil se tivéssemos alugado um apartamento. Foi uma boa escolha.

Quarto privativo de hostel no centro de Buenos Aires: 5400 pesos (preço mensal, que foi negociado com o hostel).

Gasto médio diário em Buenos Aires com comida, passeios turísticos, bares, transporte e outros: no máximo 300 pesos por dia por pessoa, ou 600 pesos o casal.

Total por mês para o casal: 23.400 pesos, ou R$ 4200. A conversão foi feita na taxa de câmbio média do mercado paralelo.

Portanto, gastávamos cerca de R$ 2100 por mês por pessoa. E tivemos uma viagem bastante confortável, em nenhum momento muito preocupados com dinheiro – fomos nos restaurantes que quisemos, íamos a bares frequentemente e ainda viajamos pelo norte da Argentina.

Durante essa viagem pelo país o gasto diário passou dos 600 pesos (o casal), mas isso foi compensado pelo período em que ficamos em Buenos Aires, quando muitas vezes o gasto diário era bem abaixo desse limite. A mesma coisa aconteceu com o gasto de hospedagem, que aumentou um pouco quando alugamos quartos por períodos menores. A média de gasto, no entanto, foi essa.

Dá para viver em Buenos Aires com menos? Dá. Em outros tempos teríamos feito isso. Mas os anos trazem sabedoria e o desejo por um pouco mais de conforto (ou então a vontade de não ficar contando moedinhas).

Hostel Parada, Buenos Aires

Quarto de um dos hostels onde ficamos, em Buenos Aires (e a mesinha de trabalho)

Nômade em Portugal

Este mês a Luíza se mudou para Portugal, onde ela viverá por dois anos. Ela mora em Coimbra, onde está fazendo mestrado. Apesar de estar se dedicando aos estudos, a Lu continua trabalhando de lá, afinal ela precisa pagar as contas do mês: aluguel, comida, os bares, as comprinhas e, claro, as viagens que ela fará pelo Velho Continente. O período dela em Portugal está só no começo, mas ela já tem um planejamento financeiro.

Aluguel de quarto em apartamento dividido com outros estudantes: 230 euros.

Gasto médio mensal com comida, transporte, bares, viagens e outras despesas: 420 euros.

Gasto total, somando com os custos da universidade: 740 euros.

Portanto, a Luíza acredita que dá para viver em Portugal com cerca de R$ 2300 por mês. Tudo que ela ganhar além disso pode ser para esbanjar ou (pensando na prudência) juntar uma grana. Assim como eu e a Naty, a Lu já passou da fase de economizar todas as moedinhas, como aconteceu durante nossa viagem de volta ao mundo. A ideia agora é viver e viajar bem e com conforto, mas sem ostentação.

Cores de Coimbra

Ladeiras de Coimbra, Portugal

Outros países

Como dito acima, esse valor varia muito conforme o país que o nômade escolhe como base ou mesmo os vários países que são colocados no roteiro. Não é sem motivo que muitos nômades digitais escolhem viver no sudeste asiático, principalmente na Tailândia (assim como Buenos Aires, Chiang Mai, no norte do país, é uma espécie de capital mundial dos nômades digitais). O custo de vida nesses países é muito mais barato, sendo possível viver lá com bem menos.

Veja também: Quanto custa viajar pela Tailândia

Além disso, lembre-se que a vida na estrada fica mais barata conforme a velocidade da viagem: quanto mais devagar você viajar, menos você vai gastar. Deslocamentos custam caro e mais tempo passado numa cidade costuma significar aprendizado e a capacidade de dominar os macetes do local. Com o tempo o nômade descobre formas de economizar, restaurantes mais em conta, mercados com produtos mais baratos (e por aí vai). Por outro lado, quem pretende ser nômade em países com custo de vida mais alto precisa, óbvio, de mais Obamas no orçamento.

Templos em Ayutthaia Tailândia

Tailândia, Terra de nômades

E uma dica final: é muito comum que nômades digitais escolham viajar por países mais baratos no primeiro momento e, com o tempo e com os negócios melhorando, os países mais caros entram naturalmente no roteiro. Sobre isso, vale ler (em inglês) o blog Never Ending Voyage, feito por um casal de britânicos.

Eles estão na estrada há quase quatro anos. No primeiro ano gastaram 31 mil dólares, enquanto com o passar dos anos (e a entrada de países mais caros no roteiro) o gasto anual do casal subiu para cerca de 40 mil dólares, ou cerca de R$ 4 mil por mês para cada um.

Os gastos deles, por mais que sejam bem maiores do que os nossos (até mesmo pelos países escolhidos e por eles ganharem em libras), provam um ponto importante: o custo de vida de nômade digital raramente é maior do que o padrão de alguém de classe média numa grande cidade.

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Rafael Sette Câmara

Sou de Belo Horizonte e cursei Comunicação Social na UFMG. Jornalista, trabalhei em alguns dos principais veículos de comunicação do Brasil, como TV Globo e Editora Abril. Sou cofundador do site 360meridianos e aqui escrevo sobre viagem e turismo desde 2011. Pelo 360, organizei o projeto Origens BR, uma expedição por sítios arqueológicos brasileiros e que virou uma série de reportagens, vídeos no YouTube e também no Travel Box Brazil, canal de TV por assinatura. Dentro do projeto Grandes Viajantes, editei obras raras de literatura de viagem, incluindo livros de Machado de Assis, Mário de Andrade e Júlia Lopes de Almeida. Na literatura, você me encontra nas coletâneas "Micros, Uai" e "Micros-Beagá", da Editora Pangeia; "Crônicas da Quarentena", do Clube de Autores; e "Encontros", livro de crônicas do 360meridianos. Em 2023, publiquei meu primeiro romance, a obra "Dos que vão morrer, aos mortos", da Editora Urutau. Além do 360, também sou cofundador do Onde Comer e Beber, focado em gastronomia, e do Movimento BH a Pé, projeto cultural que organiza caminhadas literárias e lúdicas por Belo Horizonte.

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11 comentários sobre o texto “Quanto dinheiro preciso para ser um nômade digital?

  1. Muito bom o post Rafael

    To de mudança pra Tailândia mês que vem e também tenho um blog de viagem. Estou com uma dúvida quanto a receber no exterior, qual a forma mais em conta e que pague menos taxas. Receber do google adsense e do booking na própria conta do Brasil e sacar nos ATMs pagando as taxas brasileiras e IOF e etc, receber via Paypal ou abrir uma conta em algum banco desses tipo HSBC e Citibank?

    Abraços e sucesso

  2. Muito bom, Rafael!

    Deve ter sido necessário ter muita coragem e persistência para se jogar no mundo. Como dizem, o mais difícil é começar. A inércia tenta nos deixar parados no mesmo lugar. Por outro lado, depois que começamos a nos mexer, a tendência é continuar em movimento.

    Parabéns pelas dicas e pela ousadia de viver na estrada.

    Deve ser divertido trabalhar viajando e tirar férias para ficar em casa com a família. =D

  3. Olá Rafael,

    Muito legal estas dicas. Poxa, eu sou brasileiro do Nordeste do Brasil ( Paraíba ) moro no Rio desde 88, sou artista plástico, vc pode me achar no link:
    https://www.facebook.com/geraldosoarespaleta. Morro de vontade de sair do Brasil, viver em outros Países, trabalhar minha obra, apresenta-la para o mundo, enfim… Mas, o receio é que não quero sair atoa, sem grana, e o que tenho pra viver é o meu trabalho. O que vc me diria???

    Grande Abraço,

    GERALDO SOARES

    1. Oi, Geraldo.

      Bom, antes de mais nada você precisa de planejamento. Até imagino que seja possível ganhar a vida na sua área em outro país, mas francamente não sei te dizer como (até porque não entendo da sua área de atuação) :).

      Enfim, uma alternativa seria fazer uma primeira viagem, sem foco de trabalho, só para conhecer mesmo e quem sabe pensar em estratégias para depois ir trabalhando. Já pensou em visitar a Argentina? É um país bem mais barato que o Brasil e com passagens aéreas bem em conta.

      Vez ou outra há promoções de passagens para a Europa também.

      Enfim, queria poder te ajudar mais, mas não consegui. Vou pensando daqui e você vai daí, beleza?

      Boa sorte!

  4. Oi, Rafael,

    Depois que mandei o cometário que fui ver o tópico sobre seguro de viagem hehe. De qualquer forma ainda restam as dúvidas quanto a ir por agência ou por conta própria. 🙂

    Obrigada,
    ~ Paula.

    1. Oi, Paula.

      Bom, por agência vai ficar mais caro mesmo. A vantagem é que dá menos trabalho organizar tudo, afinal fazem tudo para você.

      Se resolver ir por conta própria, o ideal é buscar uma escola pela internet e já fechar tudo aqui do Brasil.

      Nunca estive na Irlanda, então não consigo de indicar uma.

      Abraço.

  5. Olá, Rafael!
    Gostei muito do seu post, as informações foram bem bacanas.

    Estou num super dilema e gostaria de saber a sua opinião, em vista das experiências de viagem que já acumulou. Tenho pensado na ideia de fazer um intercâmbio para Dublin, estou me planejando para isso. Mas, uma amiga bem próxima, que já foi para outros países inclusive, me disse que ir por agência é uma perca de dinheiro total. Primeiro porque o compromisso de estudar inglês, provavelmente com uma turma teen, cansa. Segundo porque gasta-se muito mais indo por agência mesmo. Você acha isso também? e essa coisa de seguro de vida que vem embutido, é um gasto relevante? Ou ir para o país e de lá procurar por cursos de inglês (ou daqui desde antes acertado diretamente com as escolas/universidades) é mais ideal para gastar menos?
    Essa mesma amiga que me disse isso está indo para uma experiência de trabalho voluntário no leste europeu, com muito pouco dinheiro, e está me atentando para largar a ideia de intercâmbio e “me jogar” nessa oportunidade com ela. Tentação, né? haha

    Bom, espero pelas suas considerações! e desde já muito obrigada.
    Sucesso para toda equipe, o blog é superinspirador.

  6. Muito legal seu post, Rafael. Bom ver vocês abrirem assim os gastos de vocês. Ajuda bastante o leitor a planejar sua(s) temporada(s) como nômade digital.

    João e eu já tivemos algumas experiências assim (Londres 2010, Buenos Aires 2011, Itália 2013 e Londres novamente 2013/2014) e os orçamentos variaram bastante (também passamos por esse processo de evolução no estilo de vida. hehe), mas a lição que ficou em todas essas oportunidades é que com planejamento e alguns cuidados dá, sim, pra ser muito feliz nessa vida de nômade digital. 🙂

    No momento estamos “parados”, mas por um bom motivo: em Curitiba conseguimos guardar uma grana extra para planejar o próximo voo. Enquanto isso, vamos acompanhando o trabalho de vocês e nos inspirando.

    Abraços aos três,

    Nah e João

    1. Oi, Nah!

      A gente faz isso de vez em quando também. No começo do ano ficamos uns meses parados no Brasil, justamente para colocar as coisas em ordem e poder viajar depois. E isso também deixa a gente rever a família e os amigos, o que é bom, né? 🙂

      Abraço!

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