Nós resolvemos montar um guia de viagens diferente. A ideia surgiu quando eu viajava de carro entre São Paulo e Belo Horizonte com meu tio. Ele, como bom contador de histórias que é, me contou algumas lendas sobre cada região onde estávamos passando. Para essa conversa entrar na lista de posts do 360meridianos foi um pulo. Foi só montar um mapa para quem tem interesse em conhecer os lugares onde surgiram alguns dos mitos folclóricos mais conhecidos do Brasil.
Nosso Folclore é uma junção das culturas indígena, europeia e africana. Essas historinhas até parecem casos pra boi dormir ou para assustar crianças, mas falam muito sobre a identidade dos brasileiros. Minha sugestão é que se você algum dia for a um desses lugares, encontre alguém mais velho e pergunte sobre tal lenda. Com certeza, vai ouvir boas histórias.
O Cobra Norato, no Pará
Crédito: Filipe Mesquita de Oliveira/Wikimedia Commons
Forte e bom, Cobra Norato era filho de uma índia, nascido às margens do Cachoeiri, entre os rios Amazonas e Trombeta. O problema é que ele nasceu em forma de uma grande cobra negra que passava o dia nadando: salvava gente que prestes a se afogar e lutava contra peixes grandes. Mas quando a noite caia, ele podia assumir sua forma humana. Deixando o couro de cobra no rio Madeira, Norato era um rapaz bonito e gentil, que gostava de festas. Para acabar com o encanto e virar gente para sempre, ele precisava de alguém que o encontrasse em forma de cobra dormindo, jogasse três pingos de leite de mulher na sua boca e desse uma pancada com ferro na sua cabeça, mas é claro que ninguém tinha coragem de se arriscar a fazer isso com uma cobra enorme. Um dia, finalmente, Cobra Norato fez amizade com um soldado que topou o desafio e o salvou da forma de bicho. Até hoje, no Pará as pessoas contam histórias sobre os caminhos que Norato passava.
A Mula sem Cabeça no Sertão
Crédito: Jonas AGX/Wikimedia Commons
A mula surgiu como um castigo para uma mulher que tinha um caso com um padre. Todas as madrugadas de sexta ela se transforma nesse animal monstruoso, uma mula, com fogo no lugar da cabeça. Ela vaga pelo Sertão do Brasil, atemorizando povoados. O engraçado é que alguns dizem que a mula solta fogo pelas ventas – o que não seria possível, já que sem cabeça ela também não teria nariz. Mas enfim, se você tiver coragem de domar a mula e tirar o freio dela, ela voltará para a forma humana.
O Boto Cor de Rosa da Amazônia
Muito cuidado com o boto se você for uma moça visitando a Amazônia. Durante a época de festa junina, o bicho rosado, que é bem parecido com um golfinho, sai do rio e se transforma em um elegante e charmoso rapaz. O boto engravida mulheres nessas noites e depois volta a ter a forma de animal, deixando vários filhos do boto por aí. Fato é que a lenda é usada para justificar muita gravidez fora do casamento.
O Curupira pelas Florestas do Brasil
Crédito: Flaviano Scnhneider/Wikimedia Commons
Engana-se quem pensa que só dá para encontrar o Curupira na Amazônia. O demônio das Florestas pode ser visto em qualquer lugar do Brasil que tenha uma mata. A mais antiga menção a ele vem de José de Anchieta, aquele padre jesuíta que foi missionário no Brasil, em 1560. Ele escreveu para os portugueses contando as histórias que os índios relatavam, sobre um anão com os pés virados para trás e cabelo em chamas. Ele é o protetor das árvores e matas. Para isso, desorienta os caçadores e os ataca, ou os deixa perdidos para sempre. Se você ouvir assovios estranhos quando estiver numa mata, desconfie da presença do Curupira.
O Negrinho do Pastoreio nos Pampas Gaúchos
Crédito: Fernando Barcellos/Wikimedia Commons
Diz a lenda que um menino escravo foi pastorear uma tropa de cavalos a mando de um fazendeiro. Ele perdeu um dos animais. Por isso, foi cruelmente castigado pelo dono, que espancou e depois jogou o garoto num formigueiro. No dia seguinte, o fazendeiro malvado foi conferir o estado da vítima, que provavelmente estava morto. Para sua surpresa, encontrou o menino de pé, sem nenhum arranhão. Ao seu lado, estava ninguém mais, ninguém menos do que a Virgem Maria. O fazendeiro ajoelhou-se e pediu perdão. O menino não disse nada, beijou a mão da santa e partiu levando todos os cavalos. Dizem que as vezes você consegue ver uma tropa, pastoreada por um menino negro montado num cavalo baio, percorrendo os pampas do Rio Grande do Sul. Caso você perca alguma coisa, basta pedir ao Negrinho e acender uma vela para Nossa Senhora, que ele encontra para você.
Crédito imagem destacada: jakared/Wikimedia Commons
Inscreva-se na nossa newsletter
legal, Rafael! Adoro lendas.. 🙂
Muito bom o artigo, adoro quando trata da cultura brasileira. Abraço.
Tem a Loira daqui de BH também,a “Loira do Bonfim”.
Minha mãe adorava nos contar esse tipo de estória á noite(não lembro um dia sequer que minha mãe contou conto de fadas, ela só contava estória assustadora).
haha, verdade! a Loira do Bonfim é uma lenda ótima
Muito criativo um roteiro assim! Fiquei pensando em outras lendas, como a do Lobisomem, Mula sem Cabeça, Saci Pererê, Negrinho do Pastoreiro, etc.
Esse Brasil é cheio de histórias pra contar mesmo. E de viagens pra fazer…