Meu primeiro mochilão pelo Brasil

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A primeira vez que eu coloquei a mochila nas costas e saí para explorar esse mundão sem porteira foi nos primeiros dias de 2010. Eu tinha acabado de fazer 22 anos e nunca tinha viajado muito. Conhecia algumas praias aqui, algumas cachoeiras lá, a maior parte delas em viagens com amigos onde o destino importa muito menos que a farra.

Na época, minha única fonte de renda era uma bolsa que eu recebia por um estágio que eu detestava. Acrescento a informação de que eu era estudante de jornalismo e você logo vai deduzir que o valor da bolsa era ridículo, mas eu juntei dinheiro o semestre inteiro porque queria conhecer a América do Sul. Pesquisei o itinerário, fiz todos os cálculos dos gastos, descobri transportes, albergues e lugares onde eu gostaria de ir nos quatro países por onde eu iria passar. Até planilha no Google Docs eu tinha.

Mas, no meio da empolgação, descobri que a viagem que eu planejava não cabia no meu salário de estagiária. Meio que de última hora, eu me contentei em passar o Ano-Novo com amigos em uma casa de praia em Guarapari (ES) e depois subir pelo litoral até Salvador, onde minha mãe morava na época.

Mochilão Guarapari Espirito Santo

Nossa galera em Guarapari

Essa foi a primeira vez que eu larguei tudo para viajar.

De mochila emprestada (obrigada, Ort!), com um projeto de blog que morreu em três posts e com quase nenhuma experiência em desbravar o mundo, eu botei o pé na estrada sem nenhum planejamento. O Rafa ia comigo, outro inexperiente. Sabíamos onde queríamos ir e quando tínhamos que chegar, mas transporte e hospedagem foram definidos a cada etapa.

Foi um mochilão modesto. Passamos por Guarapari, Conceição da Barra, Itaúnas, Porto Seguro, Arraial D’Ajuda, Trancoso, Itacaré e Salvador. A maior parte do tempo ficamos na primeira e na última cidade. Mesmo assim, descobri que o Brasil tem paisagens maravilhosas e fiquei frustrada porque minha câmara não conseguia captar toda a beleza de alguns lugares.

Nosso nível de planejamento era tão nulo que a gente sequer sabia se realmente havia linhas de ônibus que ligavam o lugar onde estávamos ao que pretendíamos ir. Tinhamos um budget, mas não tinhamos hotel. Isso rendeu a descoberta da melhor pousada da minha vida, em Arraial, e duas noites dormindo sobre nada além da lona da barraca e um cobertor, em Trancoso. Arriscado demais para uma alta temporada, muitos diriam. Mas, no final, tudo saiu conforme o (não) planejado.

Foi durante essa viagem que eu percebi como deve ser difícil para um estrangeiro que resolve fazer o que eu fiz. Cada vez que eu via um gringo com problemas por não conseguir se comunicar ou entender as placas eu tinha o ímpeto de ajudar, mas na época eu mesma não confiava no meu inglês para arriscar. E também descobri que realmente existe muita gente interessada em conhecer o Brasil (não tinha essa percepção, uma vez que, em BH, estrangeiros são figurinhas raras).

Essa foi a primeira vez que eu senti como é o ritmo de dormir e acordar cada dia em um lugar diferente. Também foi quando eu entendi que viajar não precisa ser tão caro e quando eu tomei o primeiro choque cultural da minha vida, mesmo que dentro do meu próprio país. Porque, sim, culturas mudam ao cruzar a tênue divisa que separa um estado do outro.

Mochilão Praia do Rio Vermelho

Dizer que a viagem rendeu memórias incríveis, belas fotos e um ótimo bronzeado é desnecessário. Mais do que isso, essa aventura me tornou uma pessoa um pouquinho diferente da que eu era. Passei a enxergar o Brasil de outra forma e descobri que 45 dias de pura praia podem enjoar até a mais ávida das mineiras. Mas o importante é que eu nunca mais consegui evitar de colocar os pés no mundo outra vez. Essa foi a viagem que fez com que eu me tornasse uma viajante incurável.

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Natália Becattini

Sou jornalista, escritora e nômade. Viajo o mundo contando histórias e provando cervejas locais desde 2010. Além do 360meridianos, também falo de viagens na newsletter Migraciones e no Youtube. Vem trocar uma ideia comigo no Instagram. Você encontra tudo isso e mais um pouco no meu Site Oficial.

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21 comments

OI Natália! Estou terminando a faculdade, e resolvi trocar o baile de formatura por um mochilão. Apesar de ter sido alguns anos atrás, gostaria de saber quanto você gastou nesse mochilão, para que tenha ideia de uma grana minima necessária.

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Olá Natália! Pretendo fazer o meu primeiro mochilão. E como nunca fiz algo parecido vou fazer pelo Brasil pra começar. Quero no mínimo 40 dias rodar o sul, norte e nordeste. Sem muito planejamento, pra não ficar pilhada, afinal a ideia é relaxar. Mas sei que tenho que ter algum plano em mente. Quero saber o que devo planejar com antecedência?

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Incrível, estou planejando fazer um. Vai sem bem com a cara e a coragem mesmo, pedindo carona e sem muito dinheiro. Queria saber com quanta grana você fez seu primeiro mochilão só pra eu ter uma noção. Agradeço desde já, beijos :*

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IREI REPETIR ESSE MESMO ROTEIRO E GOSTARIA DE SABER AS EMPRESAS DE ONIBUS QUE FAZEM OS TRAJETOS ENTRE ESSAS CIDADES EM PESQUISA NA NET A DIFICULDADE É MUITO GRANDE EM ENCONTRAR INFORMAÇÕES ALGUÉM PODE ME AJUDAR?

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Natália, que experiência show!
Tenho familiares no Nordeste (Natal/RN) e moro em São Paulo. Sempre pensei em fazer um mochilão de uma ponta à outra, do que só pegar avião e ter toda aquela burocracia de malas, check-in, espera, etc…
Como você fez o seu? Saiu de MG e foi subindo até Salvador de ônibus?
E sua mochila? Mesmo sendo roupas de verão, imagino que para 45 dias haja biquíni e saída de praia! rsrs. Parabéns pelo blog!

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Oi Natália, como vai?

Adoro o blog de vocês, mesmo sem nunca ter viajado muito (ainda!)
Vou para Bahia em dezembro, e fiquei curiosa para saber qual a melhor pousada da sua vida, em Arraial. Pode me dizer o nome?

Obrigada! Beijos!

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Muito boa essa história, estou pensando em fazer um mochilão também(meu primeiro), e gostaria de saber quanto vocês gastarem nessa viajem, só para eu ter um base. Beijo e abraços! Desde já agradeço!

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45 dias de praia enjoa não! Que saudade dos meus primeiros 20 anos de vida que eu fazia isso todos os verões, mas pelo no sul do continente. Ainda vou mochilar pelo nordeste.

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Eu quando fui morar na Europa (fui trabalhar), achava que o mochilão vinha pronto hahaha. Tanto é que na minha primeira viagem quando cheguei na rodoviária não sabia nem para onde ir. Sorte que estava com um pessoal um pouco mais preparado e fui pegando as manhas…comprei uns guias e passei a saber pelo menos para qual rua eu precisava ir para achar os hostels. Mas, vou ser sincera – não planejo muita coisa não. O acaso para mim acaba sendo mais legal do que o planejado.

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