Passeios e atrações que contam a história da ditadura chilena em Santiago

Mais violenta do que a que brasileira, a ditadura chilena, comandado pelo General Augusto Pinochet, deixou marcas que ainda podem ser vistas pelas ruas e monumentos de Santiago.

Em 11 de setembro de 1973, os militares chilenos, amplamente apoiados pelos Estados Unidos, executaram um golpe de estado contra o governo democrático do Presidente Salvador Allende, que tinha tendências socialistas. Allende, ao saber do golpe, decidiu não sair do Palacio La Moneda, que foi atacado por terra e ar, sendo bastante destruído no processo. O então presidente continuou no prédio mesmo assim, em resistência. Segundo depoimento de seu médico pessoal, confirmado por posteriores autópsias, Salvador Allende se suicidou pouco antes dos militares invadirem o palácio. A versão, porém, ainda é questionada por várias pessoas que acreditam que o presidente foi executado.

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Golpe de Estado 1973

Palácio La Moneda bombardeado em 11 de setembro 1973. Fonte: Wikimedia Commons

Ditadura Chilena

Palácio La Moneda atualmente. Fonte: Wikimedia Commons

O Palácio La Moneda fica no centro de Santiago, e é, até hoje, a sede do Governo do Chile. É possível fazer uma visita guiada ao palácio. É necessário fazer a reserva com uma semana de antecedência, pelo email visitas@presidencia.cl. As visitas ocorrem em 4 horários, de segunda a sexta, gratuitamente.

Em frente ao palácio está a Plaza de La Constituición, onde foi construído um monumento a Salvador Allende. Ali, próximo, na Plaza de Armas, está o Museu Histórico Nacional, que termina a exposição com o Golpe Militar de 73, e expõe os óculos quebrados de Allende.

Violações de Direitos Humanos

Foram 17 anos de ditadura, de 1973 até 1990. Nesse período, o último relatório, da Comissão Nacional sobre Prisão Política e Tortura, atualizado em 2011, contabilizava 40.280 vítimas oficiais, dentre elas, 3.225 mortos ou desaparecidos. As associações de vítimas, porém, calculam que esse número chegue a 100 mil vítimas.

Exílio, tortura, prisões, execuções. Para recuperar essa memória, foi criado o Museo de la Memoria y los Derechos Humanos, inaugurado em 2010. São objetos, documentos e arquivos em diferentes suportes e formatos que contam a história, em busca de dignificar as famílias das vítimas e estimular uma reflexão sobre os acontecimentos. A exposição é impressionante.

Museo de la memoria

Fonte: Wikimedia Commons

O prédio, em si, também é super atrativo, com uma fachada feita de vidro e cobre. Em volta fica a bonita Plaza de La Memoria, um espaço pensado para shows e manifestações culturais. O museu fica próximo à estação Quinta Normal do metrô. Funciona de terça a domingo, de 10h às 20h. O acesso é gratuito.

Outro lugar dedicado à memória da ditadura é o Londres 38, prédio que fica no Barrio Paris-Londres, (na rua Londres, 38) e foi, por um ano, o Centro de Operações da Dirección de Inteligencia Nacional (DINA), o órgão responsável por deter, torturar e exterminar opositores políticos da ditadura. O lugar era anteriormente sede do Partido Socialista.

Para confundir as denúncias de familiares e vítimas do que ali ocorria, o regime trocou o número do prédio para 40, o que fazia com que as denúncias fossem direcionadas para um endereço inexistente. É possível fazer uma visita guiada gratuitamente ao Londres 38, que ocorrem de terça a sexta-feira, às 12h e 16h horas, ou no sábado, às 12h.

Outro memorial fica no Cementerio General. Tal como o cemitério da Recoleta, em Buenos Aires, o lugar é um museu ao ar livre, com túmulos super elaborados, feitos por famosos escultores. Ali, fica o túmulo de Salvador Allende, que é o mais procurado pelos visitantes, próximo ao Memorial del Detenido Desaparecido y del Ejecutado Político, também dentro do cemitério. Para chegar, desça na estação Cementerios do Metro.

Arte e história

Durante a visita à La Chascona, casa do poeta Pablo Neruda em Santiago, o guia nos contou um pouco sobre como o golpe militar teve influência sobre aquela casa e a vida de Neruda. O poeta era amigo pessoal de Allende e estava ligado à política. As três casas de Neruda foram invadidas pelos militares subsequentemente ao golpe. A biblioteca de La Chascona, contou o guia, foi revirada e destruída. Algumas obras, como um quadro de Picasso, desapareceram.

O poeta morreu em 23 de setembro, doze dias depois do golpe. Investigações ocorrem até hoje, pois suspeita-se que ele foi morto por envenenamento na clínica que estava internado para tratar um câncer de prostata.

Para quem gosta de arte, outro lugar relacionado à história da ditadura é o Museo de la Solidaridad Salvador Allende, um museu de arte moderna, que começou a reunir obras de grandes artistas entre 1971 e 1973, a partir de uma reunião de intelectuais conhecida como “Operación Verdad”. Foram recebidas mais de 500 obras, entre pinturas, esculturas, fotografias e outras formas de arte, com o objetivo de se criar um museu internacional apoiado pelo governo de Allende.

Ditadura militar no Chile

Foto: Divulgação

Com o golpe militar em 1973, as obras foram expostas internacionalmente por artistas estrangeiros que criaram os “Museus de la Resistencia”. Com o fim do regime, em 1991 o museu foi reinaugurado com o nome atual, numa parte do Museu Nacional de Bellas Artes. Porém, em 2004, a sede foi transferida para o Palacio Heiremans, no bairro República.

O mais interessante dessa história é que, além de ter obras de grandes artistas como Picasso e Miró, a casa onde se encontra o museu foi em 1978 convertida em Centro de Operações da CNI (Central Nacional de Informações), o orgão de espionagem do governo militar. No sotão, hoje aberto ao público, eles instalaram um sistema de espionagem telefônica, que foi descoberto por acidente em 2004, durante as obras de restauração da casa.

O museu fica próximo ao metrô Republica, está aberto de terça a domingo, das 10h às 18h. A entrada custa 1.000 pesos e é gratuita para estudantes e idosos. Para fazer a visita guiada pelo sótão, é necessário reservar com uma semana de antecedência pelo email museo@mssa.cl. São para grupos de no mínimo 5 e no máximo 15 pessoas. Custa 1.000 pesos por pessoa para o guia em espanhol e 15.000 pesos por grupo para guia em inglês.

*Foto destacada: Wikimedia Commons

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Luiza Antunes

Luiza Antunes é jornalista e escritora de viagens. É autora de mais de 800 artigos e reportagens sobre Viagem e Turismo. Estudou sobre Turismo Sustentável num Mestrado em Inovação Social em Portugal Atualmente mora na Inglaterra, quando não está viajando. Já teve casa nos Estados Unidos, Índia, Portugal e Alemanha, e já visitou mais de 50 países pelo mundo afora. Siga minhas viagens em @afluiza no Instagram.

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