Comidas típicas do Pará: 8 pratos da culinaria paraense

Se a Amazônia, os pontos turísticos e a simpatia do povo não forem suficientes para fazer você correr para o Pará, então vá pela comida. Basta uma refeição na capital do Pará para seu estômago perceber que entrou num novo mundo. Mundo de ingredientes, sabores e até nomes pouco usuais no restante do Brasil, que tornam as comidas típicas do Pará inesquecíveis.

Viajar pelo Pará significa descobrir a onipresença do tucupi, o prazer do tacacá e a surpresa da maniçoba, que, devo admitir, à primeira vista não me conquistou. Mas na primeira garfada…

A beleza gastronômica de uma viagem ao Pará é que é possível comer bem por valores relativamente baixos. Na dúvida, comece pelo Ver-o-Peso, a maior feira de rua das Américas. Lá, além de contemplar milhares de garrafas cheias de tucupi, você entenderá que a comida paraense é tão incrível por conta de uma mistura entre os ingredientes amazônicos, as receitas indígenas e os pratos dos europeus e dos negros que foram viver em Belém ao longo dos últimos 400 anos.

Veja também:
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Comida paraense: 8 pratos da culinária do Pará

Tucupi

Se sua primeira parada em Belém for no Ver-o-Peso, procure pelas barracas que vendem um líquido amarelo dentro de garrafas pet. É o tucupi, um caldo tirado da raiz da mandioca brava e que inicialmente é venenoso, já que contém ácido cianídrico. É por isso que o líquido é cozido e fermentado, num processo que pode durar até cinco dias e elimina o veneno.

Depois disso, o tucupi está pronto para ser usado como tempero em diversas comidas típicas do Pará.

Jambu

O jambu é uma erva da Amazônia, usada em muitos pratos que também levam tucupi e que tem capacidade de anestesiar a boca, deixando uma sensação diferente. Por conta dessa caraterística, o jambu vai além da culinária – é usado também na medicina de todos os dias da Amazônia, aquela feita em casa, para ajudar o tratamento de problemas na boca, como uma dor de dente. A planta que faz os lábios tremerem virou até cachaça, mas aí a tremedeira só é parcialmente causada pelo jambu.

Veja também: Onde comer e beber em Belém do Pará

Pato no tucupi

Um dos grandes clássicos da comida paraense é o Pato no Tucupi. O pato é assado e cortado em pedaços. Depois, é fervido no tucupi e jambu, que é cozinhado com água salgada. Depois, acrescente no prato arroz e farinha de mandioca. Pronto!

Este é o prato do almoço do Círio de Nazaré.

Comida paraense

Tacacá

Tucupi, jambu, camarão e goma de tapioca cozida formam o tacacá, outro prato que reflete o espírito das comidas típicas do Pará e também é comum em outras partes do norte do Brasil. É um caldo servido quente e que pode levar pimenta.

O tacacá é servido em cuias e pode ser encontrado em várias esquinas de Belém – basta procurar pelas tacacazeiras, cozinheiras que há décadas fazem o tacacá, conhecimento passado entre gerações. As tacacazeiras foram declaradas Patrimônio Cultural Imaterial de Belém e recentemente a prefeitura passou a organizar um festival anual de tacacá.

Maniçoba

“A maniçoba é a feijoada paraense”, ouvi algumas vezes. O prato paraense é feito com folhas de mandioca brava. Folhas que, assim como o tucupi, são cozidas por cerca de cinco dias para eliminar o acido cianídrico. Passado o processo mais demorado, entra a carne de porco, incluindo as partes comuns em feijoadas mais, digamos, pesadas. Costuma ser servida com arroz e farinha. Como eu disse antes, visualmente o prato não conquista. Mas é muito bom.

Foto: Ana Cotta, Wikimédia Commons

Caruru paraense

Mineiro que sou, adoro comidas que levam quiabo. É por isso que fiz questão de incluir o caruru na lista. Esse é um prato típico também na Bahia, mas há algumas diferenças no caruru à paraense. É um cozido de quiabo servido quente e que leva camarões secos, tempero verde, farinha e azeite de dendê. Costuma ser servido com arroz.

Queijo e filé marajoara

Três horas de barco separam Belém da Ilha do Marajó, um lugar repleto de mangues, praias incríveis e que guarda o maior rebanho de búfalos do Brasil: são 600 mil animais. Segundo a lenda, os bichos chegaram no Marajó depois de um naufrágio. Assim que pisaram em terra firme, os búfalos sacudiram a poeira, ou melhor, a água, e perceberam que gostavam da nova casa. Hoje, os búfalos são parte da cultura, da vida e da mesa marajoara.

Leia também: Como planejar uma viagem para Ilha do Marajó

Comece a degustação pelo queijo marajoara. Foi o que eu fiz – e ainda trouxe alguns pacotes para casa. Já o prato tradicional da ilha é o filé marajoara, feito com carne de búfalo e coberto com o queijo da região.

Açaí

Nenhuma comida representa melhor o Pará que o açaí. Mas pode esquecer tudo que você sabe sobre o fruto – nada daquela pasta gelada, parecida com sorvete. Nada de granola, banana, morango e muito menos leite em pó. O açaí paraense é uma iguaria salgada, normalmente servido com peixe frito e farinha.

Veja também: Açaí, a comida de todos os dias no Pará

E a culinária do Pará tem muito mais

Meu objetivo não era fazer uma lista fechada, mas ajudar o viajante que se prepara para ir ao Pará, nem que seja apenas decorando alguns termos importantes da mesa do estado. Fora que não virei especialista em comida paraense depois de duas viagens ao estado, né? Por isso não falei do chibé, do vatapá paraense, do pirarucu, do filhote, da farinha d´água e de muitos outros pratos e sabores típicos do Pará.

Portanto, amigo paraense, fica o convite: deixe nos comentários as suas dicas, receitas e comidas preferidas. O resto do Brasil agradece, de estômago satisfeito.

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Rafael Sette Câmara

Sou de Belo Horizonte e cursei Comunicação Social na UFMG. Jornalista, trabalhei em alguns dos principais veículos de comunicação do Brasil, como TV Globo e Editora Abril. Sou cofundador do site 360meridianos e aqui escrevo sobre viagem e turismo desde 2011. Pelo 360, organizei o projeto Origens BR, uma expedição por sítios arqueológicos brasileiros e que virou uma série de reportagens, vídeos no YouTube e também no Travel Box Brazil, canal de TV por assinatura. Dentro do projeto Grandes Viajantes, editei obras raras de literatura de viagem, incluindo livros de Machado de Assis, Mário de Andrade e Júlia Lopes de Almeida. Na literatura, você me encontra nas coletâneas "Micros, Uai" e "Micros-Beagá", da Editora Pangeia; "Crônicas da Quarentena", do Clube de Autores; e "Encontros", livro de crônicas do 360meridianos. Em 2023, publiquei meu primeiro romance, a obra "Dos que vão morrer, aos mortos", da Editora Urutau. Além do 360, também sou cofundador do Onde Comer e Beber, focado em gastronomia, e do Movimento BH a Pé, projeto cultural que organiza caminhadas literárias e lúdicas por Belo Horizonte.

Ver Comentários

  • Quando eu morei em Roraima, tomava muito tacacá. É muito gostoso, mas o foda é que ele é quentinho e eu ficava imaginando como seria bom de tomar no frio, algo que NUNCA acontece por lá rs.

  • Sejam todos bem vindos ao patrimônio culinário que é meu estado.
    Temos peixes maravilhosose de água doce e salgada. Peixes exóticos e com sabores divinos. Entre o santo e o profano coloco o Filhote como santo e profano o Tamatá.
    Filhote com sua carne firme e robusta e o Tamatá seu aparência exótica com a carapaça que esconde uma saborosa carne amarela.Todos dois mergulhados no tucupi e Jambu.
    O peixe queridinho do açai não podia ser outro senão o Pirarucu frito na hora.
    E vamos aos nomes dos nossos peixes não menos importantes que os citados acima; pratiqueira, pescada amarela, tambaqui, tucunaré, dourada,Gurijuba, acará. ...
    Amigo Rafael,aconselho voltar e conhecer as comidas restantes.
    Nao chegastes nas nossas frutas e sobremesas.

    • Preciso voltar com toda certeza, Clivia. Ainda falta muito para conhecer, tenho certeza. Desses peixes, inclusive, só provei o Filhote.

      É preciso passar meses por aí para conhecer tudo. hahaha

      Abraço.

  • Realmente a culinária paraense é incrível, sou paraense casada com militar então estamos sempre mudando pra outros estados e sabe qual a maior dificuldade é ficar longe dessas comidas, nada se compara a um açaí com carne seca, nossa que combinação perfeita kkkk com camarão então, mais são tantas comidas gostosas como a torta maria isabel feita com creme de cupuaçu e coco ralado fresco, fiquei sonhando com tudo isso agora.Muito boa essa matéria o parabéns!

    • O açaí com peixe eu provei, mas não o com carne seca. É bom, Cristiane? Fica pra próxima.

      Obrigado pelo comentário. :)

  • Mais uma propriedade do nosso onipresente tucupi, é um cura ressaca eficientíssimo! Faltam só 8 meses para o Círio...

    • O Círio já vem chegando, Cândida. Daqui a pouco chega a hora de começar a planejar a viagem. haha

      Abraço.

  • O caruru paraense e o queijo com filé marajoara deu vontade de provar hoje.
    Se tem quiabo,camarão e queijo,basta pedir a cerveja pra acompanhar e ser feliz!

    • De fato, Natália. Com essa combinação é impossível não ser bom. :)

      P.S. Obrigado por sempre comentar no blog! Você chegou nos 100 comentários aqui. Isso é ótimo, dá a maior força pra gente sempre continuar a escrever.

      Abraço.

  • Parabéns! Excelente texto sobre meu querido estado e sua culinária maravilhosa. Dentre todos os pratos citados lógico que o meu preferido do meu dia a dia é nosso açaí com peixe, camarão ou charque frito(carne seca )sem dúvida a melhor combinação. Outro prato que assim como caruru é diferente do da Bahia o nosso vatapá tbm e particularmente eu prefiro a nossa versão (questão do meu gosto mesmo ) Como você mesmo citou a região é riquíssima no quesito culinária. Assim como as comidas, as sobremesas como nossas frutas não podem ficar de fora desse "tour culinário " o famoso bolo podre (bolo de tapioca ), de macaxeira, doces de cupuaçu, bacuri e o café com pupunha, sorvete da cairu etc.. Nossa falar das delícias do Pará é tão empolgante acabei que o texto foi bem longo. Mais uma vez parabéns pelo relato de suas impressões do nosso estado. Que volte mais vezes para conhecer outros lugares desse "país " chamado Pará. Abraços!!!

    • Voltarei, Luíza. Pode ter certeza. :)

      E muito obrigado pelo comentário. Adorei saber mais sobre a culinária de vocês.

      Abraço.

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Rafael Sette Câmara

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