Num momento em que quase 200 países têm casos confirmados de coronavírus, não é novidade para ninguém que o cenário do turismo mundial para os próximos meses é devastador. Com as pessoas e governos preocupados com a saúde, com os empregos e com a fome, pensar em viajar está bem no fundo da lista de prioridades.
Me arrisco a dizer que só está preocupado com voos e viagens aqueles que estão num país estrangeiro tentando voltar para casa ou os que estão tentando reaver o dinheiro investido numa viagem que não vai mais acontecer.
Leia também:
• Coronavírus e viagens: o que está acontecendo no mundo? Quais os direitos do passageiro?
• 16 cursos, atividades e serviços gratuitos na quarentena
• Todas as crônicas e especiais que produzimos para o período de pandemia
E quando falamos de turismo, não falamos só de grandes empresas aéreas e cadeias de hotéis. Segundo a agência das Nações Unidas para o Turismo (UNWTO), apesar de ser cedo para entender o impacto real do COVID-19, é certo que milhões de empregos estão em risco. E ainda é preciso considerar que 80% dos negócios no turismo são de pequenas e médias empresas e o setor é um dos líderes em oferecer empregabilidade para mulheres, jovens e comunidades rurais.
Nesta lista, incluo também blogueiros de viagem e guias de turismo que ficaram sem renda da noite para o dia. E dizemos isso tudo sabendo que reclamar vem de um lugar de muito privilégio, porque uma enorme parte da população no Brasil está numa situação muito pior.
Panorama da indústria do turismo com a crise do Covid-19
“Não sabemos quando veremos o final dessa crise”
Essa frase é de Zurab Pololikashvili, Secretário Geral da UNWTO, órgão que criou um comitê de crise do turismo para dar conta da pandemia. Baseados nas quarentenas, no banimento das viagens e fechamentos de fronteiras no mundo inteiro, a UNWTO estima uma diminuição nas viagens entre 20% e 30% em 2020, o que significa uma perda de receitas na casa 300 a 450 bilhões de dólares e um regresso de 5 a 7 anos em termos do crescimento no número de turistas no mundo.
A agência informa que essas estimativas devem ser interpretadas com cuidado, devido a magnitude, volatilidade e natureza sem precedentes dessa crise. A referência utilizada é a crise de SARS, em 2009, mas o atual cenário com a COVID-19 é bem mais aterrador.
Imagem: Miroslava Chrienova por Pixabay
Já a análise da IATA (Associação Internacional de Transporte Aéreo) é de uma queda de 44% nas receitas, comparado à 2019. Esse cenário é caso as restrições de viagens durem até três meses e se siga de uma gradual recuperação econômica no resto do ano, o que não é certo devido à recessão, perda de empregos e confiança das pessoas.
No Brasil, o Ministério do Turismo aponta que a região com mais dependência do turismo é o Nordeste, que recebe 41% das viagens domésticas. Segundo uma matéria do UOL, em Porto de Galinhas, Pernambuco, estima-se que haja uma perda de R$ 976 milhões em receita durante os 90 dias em que os hotéis, a princípio, devem permanecer fechados. Isso, sem contar os cancelamentos que já chegaram a 85%. “Esses três meses estão perdidos, e pior: as férias escolares de julho não vão ocorrer mais. Então, além da queda, o coice”, afirmou José Odécio, presidente da ABIH (Associação Brasileira da Indústria de Hotéis) no Rio Grande do Norte, para a reportagem do UOL.
Nossas previsões sobre viagens em 2020
Mesmo no cenário mais otimista para o fim dessa pandemia, acreditamos que pelo menos até o final de maio ou junho teremos isolamento social como ordem para a contenção da COVID-19. Ainda assim, o fim do isolamento social dentro de um país, como temos observado com a China, não significa que veremos fronteiras serem reabertas. É provável que essas ainda sigam fechadas por algum tempo – tempo esse que pode ser de mais alguns meses.
Por isso, não é alarmismo imaginar que todas as viagens internacionais, pelo menos até o final de 2020, serão severamente afetadas.
E vale lembrar que viagens internacionais demandam tempo de planejamento, seja organizacional ou financeiro. Temos outros fatores agravantes, como a certeza de que muitas pessoas provavelmente não terão dinheiro para viajar, mesmo no melhor dos cenários. Não sabemos como empregos e reservas financeiras terão sobrevivido à essa crise. Por fim, há que se levar em conta o dólar e o euro, que encontram-se nas alturas.
A luz no fim do túnel: Viaje amanhã
A campanha #traveltomorrow foi criada pela UNWTO. Vários destinos turísticos também lançaram campanhas de marketing com o mesmo incentivo: pensar suas viagens para o futuro. Se não dá para viajar agora, sonhar não custa, né?
Aos mais ansiosos e corajosos, uma opção é aproveitar as promoções que tem rolado para viagens em 2021. Já vimos por aí pacotes para Tailândia ou outros cenários paradisíacos por preços muito, muito, amigáveis.
Mas é necessário cautela para surfar nessa onda: leia com cuidado as linhas finas do contrato. Se tem uma coisa que a crise do coronavírus nos ensinou é valorizar políticas de cancelamento claras e a facilidade para remarcação de datas. Além disso, tenha em mente que há sempre o risco da crise não ter sido totalmente controlada, mesmo em 2021 – pandemias costumam vir em ondas.
Aos viajantes conservadores, eu apostaria em viagens pelo Brasil, talvez a partir do segundo semestre de 2020. Isso, claro, desde que o isolamento social deixe de ser regra, o que só vai acontecer quando a pandemia for controlada – não dá para ter pressa aí. Ainda não é a hora de comprar nada ou se planejar nesse sentido, mas, quando esse momento chegar, esse caminho parece ser a opção mais segura.
Nesse cenário, caso as fronteiras internacionais sigam fechadas, viajar dentro do nosso país pode ser a solução para quem sente coceira no pé, mas não quer se arriscar tanto assim com gastos ou encarar a possibilidade de ficar preso fora de casa.
Foto: enriquelopezgarre por Pixabay
E quem já tem viagens marcadas no segundo semestre de 2020?
Eu sou uma dessas pessoas. Tenho, no início de junho um voo comprado de Portugal para a Índia, de onde eu seguiria para o Butão. Uma viagem que tenho certeza que não vai acontecer. Até porque, o meu voo de volta do Brasil, onde estou agora, para Portugal, país onde vivo, também foi cancelado.
O que eu recomendo a quem está na mesma situação e tem voos ou viagens já compradas? Paciência! Tudo o que escrevi aqui são especulações, não dá para saber o que vai acontecer com certeza daqui alguns meses. O ideal é que você se informe sobre as políticas de cancelamento e reembolso das reservas que já possui, mas aguarde para tomar qualquer decisão.
Até porque as companhias aéreas do mundo inteiro demonstraram não possuir uma estrutura que dê conta de uma crise desse tamanho. Muitos sites são inúteis em providenciar respostas aos consumidores, forçando as pessoas em chamadas telefônicas longas ou idas ao aeroporto que não precisariam acontecer. Já quem comprou de agências online muitas vezes se encontrou numa crise ainda pior, desassistido e sem a chance de obter seus direitos de passageiro.
Ainda não sabemos se vai ser possível trocar passagens compradas para o segundo semestre ou quando vamos conseguir um reembolso. O jeito é esperar pelo menos 30 dias antes da viagem para ter uma noção melhor de qual será o panorama do Covid-19 no mundo e, a partir daí, tomar uma decisão.
Em meio a tudo isso, várias empresas de turismo marcaram o começo da pandemia com uma campanha: não cancele, adie. Embora seja um conselho interessante do ponto de vista de quem trabalha com turismo, é preciso tomar muito cuidado nesse momento. Nós não sabemos quanto tempo a crise causada pela Covid-19 vai durar. Além disso, a crise financeira vai deixando seus rastros, com incontáveis empregos perdidos. Convém pensar três vezes antes de comprometer parte do seu orçamento com planos de viagens.
É estranho, mas o melhor conselho que este blog de viagem pode dar neste momento é que todo mundo fique em casa, apenas sonhando com viagens futuras.
Clube Grandes Viajantes
Assine uma newsletter exclusiva e que te leva numa viagem pelo mundo.
É a Grandes Viajantes! Você receberá na sua caixa de email uma série de textos únicos sobre turismo, enviados todo mês.
São reportagens aprofundadas, contos, crônicas e outros textos sobre lugares incríveis. Aquele tipo de conteúdo que você só encontra no 360 – e que agora estará disponível apenas para nossos assinantes.
Quer viajar com a gente? Então entre pro clube!
Concordo demais com tudo o que disseram! Para quem ama viajar, o momento é de sonhar, idealizar e se planejar apenas! Quando a crise passar, é que decidimos quando vamos e todos os detalhes da viagem!
Obrigada por comentar Michelle! Vamos seguir sonhando e planejando. E torcendo por um futuro melhor
Comprei no início de janeiro passagens chegando em Oslo e retornando por Copenhagen para o mês de setembro.
Minhas viagens são sempre planejadas com antecedência principalmente com relação a hospedagem e passagens internas de trens , para equilibrar a parte financeira, tipo são três hospedagens a cada mês faço a reserva e já pago. Já havia até iniciado a pesquisa. Mas com essa situação e sem nenhuma previsão de futuro, estou paralisada. Sem contar a questão da moeda.
Tomar decisões 30 dias antes, sem chance, o planejamento vai todo água abaixo. Por mim já cancelaria ou remarcaria para 2021, mas as regras das empresas estão extremamente desvantajosas
Oi Neusa,
Infelizmente para viagens em setembro você não tem nem como cancelar ou remarcar ainda. Acredito que só vai conseguir fazer qualquer alteração lá para julho ou agosto. Antes disso, acredito que vai perder dinheiro : (