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Atlas: Ayutthaya, Bangkok, Tailândia

Religião na Tailândia: fé no outro lado do mundo

Uma das coisas mais legais de conhecer outros países é perceber que nossa forma de ver o mundo passa longe de ser a única possível. Educados numa cultura cristã até os ossos, estamos acostumados a pensar que a única diferença religiosa está no clássico confronto católico x evangélico.

Só que, por mais que as diferenças possam ser enormes entre essas duas correntes, permanece a figura de Jesus, seus ensinamentos e as mais diversas interpretações feitas por dois mil anos de cristianismo. Mas o mundo não é todo assim. Pense rápido – o que você acharia caso a estátua mais famosa do Brasil, o Cristo Redentor, fosse um símbolo de outra religião. Tipo esses aqui, ó:

Buda Gigante, Hong Kong

Oi, Buda Gigante de Hong Kong

Batu Caves, Kuala Lumpur, Malásia.

Oi, Murugan (deus hindu) da Malásia

O mundo vai muito além do cristianismo e seus 2,2 bilhões de fiéis. O islamismo tem 1,6 bilhão de seguidores, a religião que mais cresce no planeta. No ranking das maiores fés ainda existem 900 milhões de hindus, os 400 milhões de seguidores das várias tradições religiosas chinesas e os 380 milhões de budistas. E se você pensar em budismo, precisa pensar na Tailândia.

O budismo pode até ter nascido na Índia, mas hoje o gigante asiático conta com apenas 9 milhões de praticantes da fé. O “apenas” da frase é justificado pelo tamanho da população indiana, fato que faz dos budistas uma pequena minoria religiosa na Índia – lá existem mais cristãos e sikhs que budistas.

A situação é completamente diferente na Tailândia, que tem 63 milhões de budistas, número que representa 93% da população do país. Nove em cada dez tailandeses são budistas. Esse percentual só é comparável ao do Camboja, que, no entanto, tem uma população muito menor. O resultado da estatística? Esse:

Buda, Ayutthaya, Tailândia.

Templos, templos e mais templos. Para ser exato, 40.717 deles. Sim. Quarenta mil!

Bangkok, turismo na Tailândia

33 mil ainda são usados para rituais religiosos diários. Os outros, seja pela passagem do tempo, pelo efeito de danos humanos ou pelo valor cultural, viraram só atrações turísticas ou estão momentaneamente fechados. E nem por isso se tornaram menos interessantes.

A Tailândia virou um dos destinos turísticos mais procurados do mundo ao oferecer praias paradisíacas e festas que aparentam ser intermináveis. Mas vai por mim: o mais legal do país – o que fica de verdadeiro, e não de atração turística montada para gringo ver – está no campo religioso. São os vários templos de Bangkok, como o do Buda Reclinado, uma estátua tão grande quanto o Cristo Redentor ou a Estátua da Liberdade. Ou ainda o Templo do Amanhecer, um dos grandes cartões-postais de Bangkok.

Templos de Bangkok

Templo do Amanhecer (Foto:  Mark Fischer, Creative Commons)

O que não fazer na Tailândia

Se seu tempo de viagem pelo país for limitado, evite passar pelo famoso Mercado Flutuante da Tailândia, onde você só vai achar produtos made in China e quase nada que seja típico da sociedade Tailandesa. Se puder fazer apenas um bate-volta a partir de Bangkok, escolha Ayutthaya, antiga capital do país, um lugar que está repleto de templos. Muitos deles em ruínas, é verdade, por conta de uma guerra ocorrida dois séculos atrás. Mas ainda assim, todos lindões.

Religião na Tailândia

Buda em Ayutthaya

Mas, assim como em qualquer país, a religiosidade da Tailândia vai muito além dos templos – também está presente na vida diária do povo. Na verdade, está mais presente no dia a dia da população do que nos templos. A Carolina Melo, brasileira que morou na Tailândia e fez um relato sobre a experiência aqui no 360, conta o seguinte: “Vai-se ao templo muito de vez em quando, já que se acredita que não é o local em que você está que te conecta com o mundo superior. Mas a ida a um templo que não tenha fins turísticos é simplesmente linda. Tem todo um ritual de como se assentar para prestar a sua homenagem ao Buda, acender incensos, oferecer flores”.

Tivemos a oportunidade de ver rituais assim em Chiang Mai, uma cidade no norte do país. E também lotada de templos, mas esses nem tão turísticos como os de Bangkok. A vantagem é que são templos mais vazios, onde os tailandeses realmente se dedicam à fé.

A religião na Tailândia e você

Cuidado para, mesmo que sem querer, não desrespeitar a fé tailandesa. A situação é complicada, afinal estrangeiros não entendem como aquela cultura funciona. Lembre-se que estátuas de Buda são sagradas, que é preciso tirar os sapatos antes de entrar em Templos (e nas casas também!) e que não é apropriado apontar os pés na direção de estátuas e altares. Para saber mais sobre esse assunto, veja nosso texto sobre o que não fazer na Tailândia.

Diferentes, mas nem tanto

O budismo é onipresente da Tailândia. Embora exista liberdade religiosa, a Constituição exige que o Rei do país seja budista. Além disso, novas religiões costumam ter dificuldade para se registrarem oficialmente, por mais que possam crescer e atuar sem problemas mesmo assim. A maior minoria religiosa da Tailândia é o islamismo, praticado por 4% da população. Regiões no sul do país chegam a ter maioria muçulmana, diferença que gera conflitos políticos violentos – a visita a essas partes da Tailândia é desaconselhada por vários organismos internacionais. Católicos, sikhs e hindus também vivem no país, mas em número muito menor.

E, exatamente como ocorre no Brasil, muita gente é budista não-praticante. Gente que nasceu numa família budista e se declara dessa religião, mas raramente se preocupa ou pensa nisso. Os mais jovens, com desejos e estilos de vida bem diferentes do que têm os seus pais, pouco a pouco vão mudando a relação do fiel com os Wats, os templos. Mesmo assim, a fé permanece viva e se adaptando lentamente ao passar do tempo.

Religião na Tailândia

Mulheres da tribo Padaung, em Chiang Mai

Para um cristão devoto, as crenças de outras religiões podem parecer incompreensíveis – os mais radicais costumam até fazer piadas da fé de hindus, budistas e muçulmanos. Só que o mesmo pode acontecer do outro lado. No Brasil, mesmo quem nunca abriu uma Bíblia na vida provavelmente cresceu e foi educado com base em dogmas, ideias e preceitos desse livro, em suas mais diversas interpretações. Mas, para quem não foi criado nesse meio, as doutrinas bíblicas podem não fazer sentido algum, exatamente como as religiões do oriente soam para muitos de nós. A forma de relacionamento com Deus pode até ser diferente. O Deus pode ser diferente. Ou ser vários. Ou nenhum. Ainda assim, somos parecidos.  E isso é o que importa.

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Rafael Sette Câmara

Sou de Belo Horizonte e cursei Comunicação Social na UFMG. Jornalista, trabalhei em alguns dos principais veículos de comunicação do Brasil, como TV Globo e Editora Abril. Sou cofundador do site 360meridianos e aqui escrevo sobre viagem e turismo desde 2011. Pelo 360, organizei o projeto Origens BR, uma expedição por sítios arqueológicos brasileiros e que virou uma série de reportagens, vídeos no YouTube e também no Travel Box Brazil, canal de TV por assinatura. Dentro do projeto Grandes Viajantes, editei obras raras de literatura de viagem, incluindo livros de Machado de Assis, Mário de Andrade e Júlia Lopes de Almeida. Na literatura, você me encontra nas coletâneas "Micros, Uai" e "Micros-Beagá", da Editora Pangeia; "Crônicas da Quarentena", do Clube de Autores; e "Encontros", livro de crônicas do 360meridianos. Em 2023, publiquei meu primeiro romance, a obra "Dos que vão morrer, aos mortos", da Editora Urutau. Além do 360, também sou cofundador do Onde Comer e Beber, focado em gastronomia, e do Movimento BH a Pé, projeto cultural que organiza caminhadas literárias e lúdicas por Belo Horizonte.

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13 comentários sobre o texto “Religião na Tailândia: fé no outro lado do mundo

  1. Detalhe importante é que o budismo é uma religião sem deuses. Buda é apenas um ser humano como nós, que despertou das ilusões. E não deve ser adorado. Entende-se que ele esgotou seu carma totalmente, portanto, já não existe realmente. O que os budistas fazem é agradecer pelos ensinamentos e se inspirar no exemplo de Buda, mas ele não pode fazer nada por nós. Só nós mesmos podemos nos iluminar. É uma forma única de viver a espiritualidade. Uma religião não teísta.

  2. Gostaria de saber se vcs tem alguma experiencia pra compartilhar sobre como viajar da Tailândia pro Camboja. Li alguns relatos sobre a travessia de ônibus, porém são mto antigos.

    fico no aguardo!

    bjo

  3. Olá Pessoal,

    Precisava de uma ajuda, estou a viajar para Tailândia, Camboja e Vietnam no proximo mês e tenho tentado comprar viagens pela Air Asia e nunca consigo efetuar o pagamento com o cartão VISA, dá sempre erro… Aconteceu-vos a mesma coisa? Conseguiram pagar de outra forma sem ser com cartão de crédito?

    Obrigada pela ajuda

    Cumprimentos para todos

    Andreia

  4. voltei da Tailandia agora e simplismente o pais é fascinantes…não vejo a hora de voltar! e concordo, os templos é a parte mais “tailandesa” da Tailandia!Parabéns pela descrição!

  5. “Uma das coisas mais legais de conhecer outros países é perceber que nossa forma de ver o mundo passa longe de ser a única possível”
    Precisei ler apenas essa linha para saber que esse era um texto que valeria a pena ler ate o final.
    Rafael, parabens, parabens e mais parabens pelo seu texto! Eh por essas e outras que o 360 Meridianos se destaca, na minha opiniao, de tantos outros blogs de viagem. Voces vao alem, propoem reflexoes interessantes e tao necessarias!
    Como jah comentei aqui em outro post, eu sou formada em Turismo, vivo e respiro viagens ha mais de 10 anos, e que bom seria ver o espirito viajante crescendo nas pessoas a passos largos, da mesma forma que a atividade turistica cresce no mundo. Essa eh a verdadeira reflexao que o turismo deveria trazer! Que voces continuem inspirando mais pessoas a viajar e a se abrir para o mundo atraves da visao de voces. PARABENS!!!

    1. Muito obrigado, Carol.

      Este é o tipo de texto que a gente mais gosta de fazer. 🙂

      Temos muito interesse em refletir sobre o turismo. Inclusive, se tiver algum tema para propor, pode falar com a gente. É sempre bom ouvir quem trabalha na área.

      Abraço.

  6. Texto super bacana Rafa!
    Só uma coisa, os links que você colocou no corpo do post estão da mesma cor do restante da escrita, estão passando por despercebido.

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